Será o Coronavirus um "Dejá-vú" da Tuberculose? Será que a História de Portugal, nos pode ajudar neste momento por mais estranho que pareça?
No Portugal dos anos 30 aos anos 70 do século passado, na pacata aldeia do Caramulo, no concelho de Tondela, no distrito de Viseu, se viveram dias parecidos à nossa situação actual. Naquela época, não só, mas também em Portugal, se vivia em plena pandemia de tuberculose, doença do foro respiratório, altamente contagiante e ainda não erradicada, já que segundo a OMS em 2016 morreram 1,3 milhões de pessoas no mundo.
Nos anos 30, o médico Jerónimo de Lacerda, criou a maior estância sanatorial do país devido à dita pandemia, e criou uma verdadeira aldeia-modelo para a época, com água canalizada ao domicílio, electricidade a partir de barragem própria, rede de esgotos e recolha de lixo com crematório; prova de que nos momentos de crise é quando o Ser Humano coloca toda a sua criatividade centrada na resolução de um problema crónico, transformando um perigo ou ameaça, numa oportunidade de crescimento e melhoria. Nesta pequena aldeia eram tratadas em permanência entre 1000 a 1500 pessoas enfermas em cerca de 20 sanatórios diferentes. Nesta aldeia viviam pessoas saudáveis e pessoas enfermas, havendo já na altura um conjunto de regras bem definidas do ponto de vista social e económico, quer para os saudáveis quer para os não saudáveis.
No Caramulo, num dos passeios da estrada principal circulavam os enfermos, do outro lado da estrada, circulavam os saudáveis. A estrada tinha uma largura de exactamente 3,5 metros, considerada a distância de segurança entre infectados e não infectados, e eles não se misturavam para evitar o risco de contágio do vírus. Alguns dos pacientes infectados não podiam entrar em alguns cafés ou pequenas lojas, pois já naquela altura, estas tinham um segurança para impedir a entrada de pacientes com tuberculose. Havia loiça para infectados e não infectados. Haviam regras. As pessoas adaptaram-se, os pacientes foram tratados, e a pandemia foi praticamente erradicada de Portugal.
Resumindo, já há cerca de 7 ou 8 décadas atrás, Portugal enfrentou uma doença contagiosa do trato respiratório, com elevado risco de contágio, sem quaisquer meios de comunicação ou informação comparável aos dias de hoje, e ainda assim, conseguiu praticamente erradicar a tuberculose do nosso país. Nem a economia local, regional ou nacional, pararam por causa desta doença com algumas semelhanças ao actual Covid 19, respeitando obviamente as suas diferenças. O país simplesmente se adaptou, tratando de recuperar os doentes de uma forma centralizada, criando regras de distanciamento social e confinamento para os infectados, através de mecanismos rudimentares aos dias de hoje, mas altamente eficazes já naquela época, com separação de talheres e pratos, restrições à liberdade de circulação, obrigação de permanência no seu sanatório, etc… onde é que já vimos isto???
Na verdade, Portugal tem de se adaptar a uma nova realidade, tal como todo o Mundo. Não podemos parar, porque parando, poderemos ter uma situação de desespero atroz, já que dentro de 2 ou 3 meses não saberemos se temos comida no prato ou sequer dinheiro para a comprar… Urge que retomemos a actividade laboral imediatamente, talvez com máscaras, ou com batas, ou com luvas, ou talvez com tudo isso, mas temos de retomar a actividade sob pena de crucificarmos definitivamente, a saúde, o bem-estar e a vida dos Portugueses.
Que tenhamos aprendido alguma coisa com o que os nossos antepassados nos ensinaram não há tanto tempo assim, mas que nós teimosamente não aprendemos ou não demos a devida atenção. Tal como um operário da construção civil usa o seu capacete de segurança para exercer o seu trabalho, de igual forma quem contacta com outras pessoas dentro e fora do trabalho, que esteja munido de máscara e/ou outros equipamentos de protecção para segurança de todos… Se tiver de ser, que assim seja.
Portugal tem de avançar, com mais cuidados, é certo. Mas tem de avançar…