Será que nossos museus estão repletos de novidades?

Será que nossos museus estão repletos de novidades?

Certo dia, ao passar pela mítica Galeria do Rock, no centro de São Paulo, pude ouvir o som de Tutu, fase pop do genial Miles que ecoava bravamente de uma das lojas. Imediatamente, ao olhar para um dos lados, vi uma moça que lia fervorosamente um desses Manuais dos anos...

Logo, peguei-me pensando sobre o sucesso de tais livros e, nos dias seguintes, fui conversar com algumas pessoas do mercado. Soube que as edições que mais venderam foram as dos anos 70 e 80, compradas principalmente por leitores da faixa etária de 30 a 50 anos, aproximadamente.

Coincidência ou não, são justamente aquelas pessoas que tiveram parte da infância ou da adolescência (a melhor parte?) nesses anos. Duas colocações são importantes: 1) Isso pode ser reflexo da necessidade tardia de reaver algo perdido por opção consciente à época ou por imposição indissociável (caso daqueles que viveram sob a ditadura); ou 2) A tal da síndrome da Era de Ouro, ou seja, nosso eterno descontentamento com o presente e nosso eterno encantamento com o passado, uma nostalgia quase patológica.

Acredito que todos nós temos —e sempre teremos— necessidade de identificação com esse tipo de coisa. A geração setenta, mas principalmente a oitenta e também parte da noventa, sempre teve mais tempo para o oba-oba, diferentemente de nossos pais, artífices da Revolução de 64, da reinvenção do mundo em 68 e o do “é proibido proibir” de 69 (que, entre nós, fixou-se mais como uma suruba social).

Nossos pais eram uma das três coisas: engajados, ocupados ou lutadores. Já nós, na maioria, somos dispersos, sem ideologia, apolíticos e profundamente conectados, que, como alguns estudos vêm demonstrando, é um comportamento que alimenta o mundo da compreensão fragmentada, da leitura dispersa e da análise superficial.

O sucesso desses manuais talvez resida no fato de que, de uma forma ou de outra e parafraseando o Cazuza, nossos museus estão repletos de novidades. 

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