SERÁ QUE OS MÚSICOS VÃO FICAR OBSOLETOS?

A maioria dos músicos que conheço reclama do declínio da qualidade musical em todo o planeta. Quais seriam as razões dessa queda? Bem! Os consumidores de música não são especialistas. São leigos, quase sempre desafinados disritmicos e contam com os artistas para o que não conseguem fazer, que é oferecer músicas para todas as horas. Só que não precisam ser exatamente músicas de qualidade. Precisam apenas ser adequadas. Já houve um tempo em que os artistas compunham suas óperas ou peças clássicas e a nobreza ficava confortavelmente sentada em silêncio ouvindo. O artista era protagonista dos shows. Só que a coisa mudou. Os shows migraram dos teatros para os clubes. A música que era pra ouvir, passou a ser música pra dançar também. As bandas de baile começaram a acumular o descomunal arquivo de músicas chakundum do planeta. Primeiro os ritmos pra dançar juntos, boleros, fox, samba canção, até que chegamos ao pop. Os shows migraram dos clubes para os estádios e grandes espaços. Mesmo assim os músicos continuaram protagonizando e vários estilos foram aparecendo e desaparecendo. O público ainda apreciava ver grandes performances de músicos e bandas como Jimmi Hendrix, Ed Van Hallen, Deep Purple, só pra citar alguns. Não era uma música feita para dançar, mas para o deleite intelectual, uma espécie de celebração do engenho musical humano. Os músicos geniais eram muito valorizados. Mas ai o marketing tratou de enquadrar.Catalogaram gêneros e subgêneros e foram desdobrando: música romântica, música sensual, música pra praticar esportes, música pra consultório de dentista, rock progressivo, hard rock, heavy metal, rockabilly, eletrônica, funk, sertanejo universitário e por aí vai. O pop tratou de criar um formato radiofônico padrão. As músicas não poderiam passar de 2 minutos pra sobrar mais espaço para os comerciais. Os solos de guitarra e harmonias sofisticadas foram banidos. Imperativo era fazer músicas de 3 acordes, com refrão e mais uma parte, sem solos virtuosos, tão infantil como a mente da média. Claro que existe uma pequena casta de artistas geniais que consegue sobreviver fazendo o que gosta. Mas quando falta comida na mesa, quando falta dinheiro pra pagar a prestação do carro, despesas com o bebê que está vindo, o artista tem de engolir o orgulho musical e se adequar ao gosto geral pra sobreviver. Por isso temos tantos bons músicos, principalmente do rock tocando música sertaneja. De repente o cara gosta de jazz, arrasa no improviso. Pode ser um grande guitarrista ou baterista de rock. Mas quando a coisa aperta, tem de botar um chapéu de cowboy, uma bota agulhinha e entrar na onda do sertanejão. A não ser que tenha uma profissão paralela que lhe garanta o sustento. Nesse caso a música vai ser tipo uma peladinha de final de semana, apenas pelo prazer. Não há demérito nenhum nisso. Carlos Drummond, nosso poeta maior, ganhava seu sustento como funcionário público. Com isso podia dedicar-se a fazer poesia de qualidade, sem concessões. Esse poderia até ser um caminho possível para quem faz música autoral. O problema é que fica caro alugar espaço, contratar músicos e som. Além do mais há uma competição cruel e só os mais aptos sobrevivem ou conseguem vitrines pra expor seus trabalhos e conquistar o verniz da fama. A batalha para os autorais é inglória, uma vez que os contratantes, com raríssimas exceções, só contratam covers que levam até o estabelecimento os consumidores que se identificam com as bandas famosas. O público também dificilmente sai de casa para assistir shows com músicas desconhecidas de artistas sem fama. E pra piorar ainda mais, em tempos de download pirata está cada vez mais difícil faturar com direitos autorais. O que fazer então? Quem souber a fórmula me avise. Dizem que o que é bom encontra um jeito de brilhar no mundo. Só que bom hoje em dia é o que tá na moda, tá na mídia e dá dinheiro. O quantitativo esmaga o qualitativo sem dó. Acho que vai chegar um ponto em que você vai pedir no google: eu quero uma música com batida eletrônica, piano, arranjo de violino e letra falando de férias de verão. E o computador vai entregar instantaneamente. Estamos ficando cada vez mais obsoletos, camaradas. 


MARCOS MARTINO

Compositor - músico - publicitário - roteirista - jornalista

7 a

Meu dileto amigo Manoel. Pois é, meu camarada. Mas veja só nós dois, por enquanto amigos virtuais, nunca nos vimos pessoalmente, não apertamos as mãos, mas nos irmanamos. Isso por causa do Seu Liquedin. Ô trem danado essa net viu. Quanto à música, tenho um medo danado de que em data próxima seja feita por robots, meio self service. A pessoa diz para o computador: quero uma batida afro, piano do jobim, baixo do Jaco Pastorius, guitarra pode ser...jimmy page tá bom. Cantor pode ser o Stive Tyler do Aerosmith e nos vocais, ed motta e marisa monte. A música pode ser, xô ver...vivendo e aprendendo a jogar. Versões em Português, inglês, espanhol, francês e Russo.

Entre para ver ou adicionar um comentário

Outros artigos de MARCOS MARTINO

  • É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã.

    É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã.

    Pessoas estão pouco tolerantes com erros e ideias divergentes. Mas pode ser diferente.

  • OS OVNIS E OS SATÉLITES DE MUSK

    OS OVNIS E OS SATÉLITES DE MUSK

    Nas ultimas semanas cresceu bastante o número de pessoas na internet que disseram ter visto objetos estranhos no céu…

    2 comentários
  • ESTUDAR OU MORRER

    ESTUDAR OU MORRER

    Para obtermos resultados, precisamos entender as dinâmicas de cada tempo. Não é fácil para uma pessoa educada…

  • MÚSICA PUBLICITÁRIA.

    MÚSICA PUBLICITÁRIA.

    Arte+publicidade=vendas Vou confessar uma coisa pra vcs. Fazer música publicitária fez um bem danado pra minha cabeça.

  • JINGLE? O QUE É JINGLE?

    JINGLE? O QUE É JINGLE?

    Quando me perguntam que tipo de trabalho eu faço e digo que faço jingles, muitos ficam me olhando com cara de paisagem.…

  • TER UM BOM JINGLE POLÍTICO NUNCA FOI TÃO ESSENCIAL.

    TER UM BOM JINGLE POLÍTICO NUNCA FOI TÃO ESSENCIAL.

    TÁ NA HORA DE PENSAR NO SEU JINGLE Olá amigos. A campanha tá chegando e ter um bom jingle nunca foi tão necessário.

  • NÃO SOU BARATO!

    NÃO SOU BARATO!

    Há alguns dias um cliente me ligou querendo produzir um jingle para a sua empresa. Ele me disse que queria um jingle…

    1 comentário
  • A CULTURA DOS TEMPLATES

    A CULTURA DOS TEMPLATES

    Tá cada vez mais comum a disponibilização de templates de tudo que se pode pensar. E são muito atraentes, pois quase…

  • EU AMO RÁDIO !

    EU AMO RÁDIO !

    Vejo um monte de gente decretando a morte do Rádio. Como assim? Que bobiça é essa? Vai rolar não! É claro que a…

  • OS TEMPLATES DO APOCALIPSE

    OS TEMPLATES DO APOCALIPSE

    Há alguns anos vejo o avanço dos templates em todas as áreas. Ouvi falar pela primeira vez numa ocasião em que queria…

Outras pessoas também visualizaram

Conferir tópicos