Seu Zé

Seu Zé


Durante minha estada em uma das maiores empresas de logística do país, tive o privilégio de ser um dos escolhidos para abrir novas unidades no nordeste brasileiro.

Era o ano de 2005 e a empresa buscava a abertura de novos horizontes, e fui convidado a fazer um “tour” pela Bahia capacitando equipes para estas novas unidades.

Sair de um ambiente já um pouco desgastado para realizar treinamentos e ainda numa terra abençoada, foi uma explosão de felicidade.

Mas, enfim, ficar duas semanas na terra de Caetano, Gil e sua trupe (Ivete é claro) era tudo o que poderia acontecer de bom naquele momento, afinal seria minha primeira estada ao nordeste brasileiro.

O trabalho foi muito show, além da capacitação ter sido um sucesso reconhecido pela direção da empresa, pude conhecer diversas cidades do litoral e interior do estado, entre elas, Feira de Santana, Itabuna, Vitória da Conquista, Juazeiro, e é claro... Salvador.

No final de semana fomos convidados pelos novos colegas a passear de embarcação pelas ilhas de Salvador. Passeio maravilhoso, mar encantador com águas de um azul mais verde que já pude ver na vida, além da temperatura maravilhosa.

Ao embarcar, o primeiro pensamento que tive, foi... não pode existir gente estressada neste lugar abençoado.

Sem muito o que fazer, durante o trajeto fui aos poucos conversando com as pessoas, coisa que os baianos fazem com maestria, foi quando percebi um cidadão sentado na ponta dianteira da embarcação (proa) com um apito, destes de árbitro de futebol no pescoço e sempre olhando para frente, fiquei por alguns minutos olhando aquela figura e imaginando o quanto aquele cidadão seria feliz, afinal ter aquela visão cotidianamente seria com certeza o sonho de consumo de onze a cada dez executivos das grandes metrópoles.

Foi quando me aproximei daquele senhor de meia idade e perguntei seu nome, qual foi minha surpresa que entre os dentes serrados me respondeu sem tirar os olhos do cenário.

- Zé!

- Você é da região? Perguntei, já um pouco intrigado.

- $#@*! Me respondeu sem desviar seu olhar.

- Não entendi!!! Você é baiano? Tentei evoluir.

- @#$%&*¨!

Foi quando alguém da tripulação veio me informar que o seu Zé trabalha na embarcação há vinte anos exercendo a função de avisar através do apito, quando observar alguma embarcação ou outro obstáculo no caminho da nossa e ele é assim mesmo, super, hiper, mega estressado.

- Ah! Mas como pode? Com este cenário deslumbrante??!!

- Quantas vezes ele usa o apito por dia? Perguntei ao rapaz, pensando... talvez seu Zé esteja cansado do trabalho...

- Olha! Eu trabalho na embarcação há 5 anos e nunca ouvi o som deste apito. Respondeu o rapaz.

Hoje após 15 anos me ponho a pensar sobre o tema...

Realmente o melhor ambiente do mundo mora dentro de nós, é muito difícil ser feliz sem ter objetivos, ideais e propósitos estabelecidos em nossas vidas.

É claro que o mau humor do seu Zé pode estar atrelado a uma centena de outros motivos que não sejam somente estes, inclusive por questões genéticas.

Comecei a pensar o quanto eu seria infeliz se não tivesse desafios na minha vida, se não tivesse a possiblidade de crescimento.

Sinceramente torço para que seu Zé e todos que atualmente buscam um sentido, tanto profissional quanto pessoal, possam utilizar seu “apito” e consigam desviar dos obstáculos impostos muitas vezes pelos próprios fantasmas internos.

Paulo Uberti Pereira

17/12/2020 - Balneário Pinhal – RS 

Tiago Langer Jacobus

Administrador | Sócio fundador na COMPASS - Desenvolvimento Vivencial Náutico | Instrutor de Vela certificado nível II pela CBVela

4 a

Nossa felicidade não está em outro lugar que não dentro de nós, seja lá onde for que a gente more. Excelente artigo para refletir, Paulo! Obrigado!

Rafael Mottola Rocha

Consultor | Mentor | Auditor | Instrutor | Palestrante | Conselheiro | Expert em Sistemas de Gestão | Escritor do Best-Seller CONSULTORIA ORGANIZACIONAL - da insegurança à AUTORIDADE em 10 passos

4 a

Paulo Uberti Pereira excelente! Os maiores obstáculos ao nosso desenvolvimento estão dentro de nós mesmos e uma atitude positiva diante da rotina é o primeiro grande e gigante passo. Desafiar-se sempre, internamente.

Marina Mach

Consultora da Qualidade/ Coordenadora de Pós-vendas e Qualidade / Melhoria Contínua

4 a

Excelente reflexão!!

Entre para ver ou adicionar um comentário

Outros artigos de Paulo César Uberti Pereira

  • Route 64

    Route 64

    Dia destes lendo um post do Stefan Ligocki e seu projeto (Mais 40+) comecei a refletir um pouco sobre minha trajetória…

    11 comentários
  • A Prática do Termo Inteiro.

    A Prática do Termo Inteiro.

    Já me peguei muitas vezes tentando achar um "meio termo" para dizer algo à alguém, sempre na intenção de não magoar…

  • Ouse!

    Ouse!

    Novos caminhos sempre nos trazem a certeza de que precisamos mudar. A mudança é a grande oportunidade de melhorarmos…

  • Onde estou condiz com quem sou?

    Onde estou condiz com quem sou?

    Uma das primeiras preocupações que tive na minha vida adulta e acredito que muitos de vocês também tiveram, ou tenham…

    1 comentário

Outras pessoas também visualizaram

Conferir tópicos