Sistemas Regionais e Ecossistemas de Inovação: algumas considerações pertinentes

Sistemas Regionais e Ecossistemas de Inovação: algumas considerações pertinentes

Este mês tive a grata surpresa e a honra de ter um artigo científico oriundo de uma pesquisa acadêmica aprovado no VII Congresso Internacional de Conhecimento e Inovação (CiKi). Eu, Letícia e Labiak Jr fomos verificar quais eram as novidades advindas das publicações científicas (por meio de uma revisão de literatura) sobre o tema, nesta década. O artigo completo está aqui, mas para quem quer um apanhado geral sobre os pontos que mais me chamam atenção, fique por aqui! Voltei do congresso com algumas assertivas que gostaria de evidenciar aqui:

1) Clusters e políticas públicas: o tema se conforma a partir da década de 90, quando a discussão sobre clusters empresariais regionais ganha notoriedade. Um dos desdobramentos é a cooperação no território para a inovação. Neste viés, as políticas públicas começam a ser tema da pauta de instituições da tríplice hélice. O fato aqui é que e o fenômeno de interação entre empresas e instituições se dá por diversos motivos e de várias formas. A atuação em rede não é novidade, porém, a necessidade de abordagens descritivas, ferramentas e instrumentos práticos começam a se fazer cada vez mais pertinentes para potencializar os fluxos de conhecimentos, essenciais para o desenvolvimento regional.

2) O que mudou de lá pra cá: verificando diversos estudos científicos sobre o tema, notamos que o termo "ecossistema" vem sendo cada vez mais utilizado para representar a interação entre empresas. Este termo, pressupõe uma atuação "cross-border" que transpõe a fronteira formal de uma região, dando espaço a uma rede fluída, auto-governada, mais orgânica e mais informal. As políticas públicas para incentivo ao rápido aprendizado ainda são importantes, mas não o centro dos sistemas de inovação, já que Universidades e Governo, são visto como "hub organisations", ou seja, facilitadores do processo aberto de inovação. Além disso, o protagonismo das pequenas empresas de base tecnológica, colocam em cheque o papel dos grandes laboratórios de pesquisa aplicada.

3) Ecossistema mesmo: embora o Brasil ainda esteja descobrindo e se acostumando a atuar em rede, diversas regiões mundo a fora já provaram que a cooperação quando bem estabelecida (maturidade da instituição + cultura de inovação + estratégia de mercado + valores compartilhados), é a saída para recuperar ou adquirir vantagem competitiva. Assumir no entanto o termo "ecossistema" para a interação entre empresas (cluster), traz responsabilidades grandiosas nem sempre previstas pelos atores da rede. Do wikipedia: Ecossistema (grego oikos (οἶκος), casa + sistema (σύστημα), sistema: sistema onde se vive), define o conjunto formado por comunidades bióticas que habitam e interagem em determinada região e pelos fatores abióticos que exercem sobre essas comunidades. Segundo Silva J. A., o ecossistema é constituído por dois elementos inseparáveis, uma área (biótopo) e um conjunto de seres, que o ocupa (biocenose) em uma continua interação mútua.

Ou seja, só é ecossistema quando existe uma interação contínua e mútua. Do ponto de vista biológico, a natureza provê diversos serviços ecossistêmicos que as empresas raramente colocam na conta do custos de seus produtos: a fotossíntese, a decomposição, a evaporação, a multiplicação das células das plantas, a polinização das abelhas, o controle de pragas, etc. Antes do homem estressar o meio-ambiente, o mundo vivia numa homeostase mais evidente, e agora, fazendo as contas de forma atrapalhada e míope, estamos acelerando o processo entrópico de destruição do planeta. Diversas publicações científicas comprovam isso: portanto se for pra chamar de ecossistema, a interação em rede de empresas, deverá entender que existe elementos essenciais para o funcionamento da rede, além dos clássicos atores e artefatos. Além disso, a relação precisa ser ganha-ganha para os cooperados e para o território.

4) De dentro pra fora: notamos ainda que do ponto de vista intraorganizacional, o "capital de rede - networking capital" é essencial para os gestores que querem levar a organização para a nova economia. Colaboradores que sabem ouvir, interagir e compartilhar são decisivos para que a empresa consiga interagir com seu meio e criar valor.

5) De fora pra dentro: Governos e Universidades podem influenciar e impactar as organizações positiva ou negativamente. Eles precisam mais do que nunca, estabelecer políticas a partir da demanda real, escutando humildemente os atores e usuários finais. A Coréia do Sul já aprendeu isso e o Governo escreve as leis e as políticas a partir da observação e escuta profunda da classe empreendedora e dos cidadãos. É pra facilitar.

6) Direcionadores: vencer a desigualdade e garantir a vida no planeta Terra, reagindo inteligente e rapidamente às catástrofes naturais, promovendo a longevidade e a renovação dos recursos naturais com projetos de design mais humanos, menos agressivos. Não há outra saída para a economia senão fazer uso da tecnologia para recuperar áreas degradadas e o equilíbrio do meio-ambiente. Os sistemas e as redes de inovação precisam mudar a mentalidade, e depois, naturalmente, os custos de se fabricar um produto do bem, serão mais baixos. A cobra não pode ficar comendo o próprio rabo por muito tempo...

Finalmente, comprovamos com algumas pesquisas acadêmicas e lendo o material dos anais do CiKi que não dá pra continuar isolado, fazendo do mesmo jeito. Não estamos ingressando numa nova revolução industrial, estamos ingressando numa nova civilização. E essa civilização precisa mudar a conta da economia. Novas variáveis entram nessa conta. Isso vale pros governos, para as universidades e claro, para os empreendedores.


Fundamentação científica:



MSc.Simone Boruck

Diretora Executiva CEO/ Mentora de Negócios

7 a

Comungo de seu pensamento André! Existe grande diferença entre rede e ecossistema. Muitoooo bom seus textos, profundos e reflexivos.

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