“Smart Cities, Smart Future?”

“Smart Cities, Smart Future?”

Apenas passado o primeiro dia, dou, desde já, os parabéns ao Parque do Alentejo de Ciência e Tecnologia (PACT) e à Agência de Desenvolvimento Regional do Alentejo (ADRAL) pela organização da Conferência Internacional “Smart Cities, Smart Future?”. Agradeço aqui ao meu amigo Joaquim Fernandes o convite para me inscrever e assistir. Já valeu a pena.

Mais da metade da população mundial vive atualmente em cidades; até 2030, dois terços dos habitantes do planeta serão habitantes urbanos e, até 2050, estima-se que mais de 70% da população mundial viverá em cidades. O conceito de Smart City não é novidade para mim. Baseia-se na ideia de aproveitar a tecnologia para melhorar a qualidade de vida dos cidadãos e criar ambientes urbanos mais sustentáveis e eficientes. No entanto, o sucesso de iniciativas em torno das Smart Cities depende, em última instância, da capacidade dos cidadãos usarem e interagirem efetivamente com as tecnologias que estão a ser implementadas.

Há cerca de um ano, numa palestra que dei, integrada no tema “A educação na cidade: sustentabilidade e esperança”, falei sobre a corporificação da cidadania, física e digital, no “espaço público” da cidade. Defendi que ela deve ser objeto de reflexão e ação urgente por parte dos fazedores de políticas. São precisas novas respostas às novas necessidades e circunstâncias físico-espaciais das cidades, enquanto espaços digitais, como aliás defendem todos aqueles que as querem inovadoras, sustentáveis, lugares mais eficientes e tecnológicos. E algumas das perguntas que fiz foram exatamente "Como funciona uma cidade inteligente, sem cidadãos e cidadãs inteligentes?", ou "Como podemos falar se Smart Cities sem pensar Smart Dwellers?". É fundamental que projetemos a interação entre os cidadãos e as cidades inteligentes, ou digitais, ou tecnológicas.

A minha angustia prende-se, talvez, com o eterno retorno a uma espécie de vade-mécum que teima em perdurar. Lembrei-me do livro de William Mitchell, intitulado "e-topia: Urban Life, Jim - But Not As We Know It" (tradizido em portugês como "E-Topia. A Vida Urbana, Mas Não Como a Conhecemos", escrito em 1999, que era, em meados da primeira década deste milénio, uma espécie de bíblia para quem discutia a forma como a tecnologia iria transformar as cidades e a vida urbana. Lembrei-me também de Manuel Castells e de Kevin Lynch, este último, um urbanista e autor de meados do século XX que já abordava a importância da perceção urbana para o planeamento urbano.

Sobre as abordagens, gostei de ver o posicionamento de alguns dos oradores e de algumas das comunicações, mais baseadas na ideia de que as soluções devem ser desenvolvidas a partir das necessidades e ideias da população local - a chamada abordagem bottom-up, tendo sido dados exemplos de como pode a cidade estimular a participação da comunidade na criação de ideias e soluções. Permitir que as necessidades locais sejam tidas em conta e promovam o engagement da população nos projetos é, desde logo, uma forma de ir além da nem sempre bem sucedida estratégia centralizada, onde as principais decisões são tomadas em exclusivo por um grupo de especialistas ou autoridades, numa lógica top-down, que compreensivelmente é adotada, e quase incontornável, para implementar grandes projetos de infraestrutura.

Sobre Smart People penso que se falará mais amanhã, uma vez que são necessárias pessoas e capacitação para impulsionar a inovação, criar novas oportunidades e fomentar uma cultura de colaboração e co-criação. Outro aspeto que gostaria de ver focado consiste no garantir que a tecnologia e a inovação sejam inclusivas e acessíveis a todos os cidadãos, independentemente do seu status socioeconómico ou nível de escolaridade, sendo para isso imprescindível um compromisso com programas de Literacia Tecnológica e de capacitação digital.

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