Sobre Autismo, Missões, Amor e Compaixão

Sobre Autismo, Missões, Amor e Compaixão

Sei que entre as demonstrações de carinho e amizade que receberei pela passagem de meu aniversário, muitas delas vão de maneira direta, indireta ou até mesmo carinhosamente constrangida abordar a minha relação intensa e amorosa com meu filho George, um alegre e curioso autista que chegou para mudar minha vida.

Sim, mudar mesmo. Se a vinda de um filho nos faz trocar de nível, como em um jogo de videogame dos bons, a descoberta de que seu filho está no espectro autista traz ainda mais alterações nos seus planos de vida. E faz o jogo rodar bem mais dinâmico.

Não vou dizer que não tenha sido impactante para mim, Renata e para o irmão dele, o Renan. Mas hoje, dois anos e pouco após o diagnóstico, sinto-me uma pessoa muito mais evoluída do que era anteriormente. E credito isso menos ao passar dos anos e muito ao que tenho vivido no convívio diário com ele, nas idas e vindas para as terapias, nas conversas com os profissionais de saúde e, principalmente, com os outros pais que seguem neste mesmo caminho.

E nos últimos dias, por coincidência ou não, pensei ainda mais sobre essa minha relação com o Autismo após fazer uma postagem sobre um ensaio fotográfico de extrema sensibilidade, do qual participamos e que foi conduzido de maneira muito profissional pela Larissa Feitosa, publicado no Portal Tribuna do Ceará (http://bit.ly/2AICY74), e que me rendeu várias interações.

Uma delas me chamou a atenção, de uma amiga jornalista que falou ter três filhos dentro da Síndrome de Asperger, uma linha mais tênue do Autismo, mas com características bem específicas. E que foi muito sincera e tranquila ao dizer que missão não se questiona, cumpre-se! Senti-me representado.

Em paralelo, outra mensagem me tocou bastante. Li em um dos vários grupos de WhatsApp reunindo pais de crianças autistas, e dos quais me permito participar pouco (deixo essa tarefa para a Renata), mais pela incapacidade de acompanhar tanto conteúdo e pela baixa condição emocional confessa de receber tantos desabafos, do que necessariamente por não gostar.

Na mensagem, um pai ou mãe, com a franqueza que só a sinceridade de sentimentos nos dá, foi bem incisivo(a) em dizer não sentir qualquer motivo para glória ou exaltação no fato de ter uma filha autista severa e que lhe fazia ter uma vida completamente regrada e limitada às questões que dizem respeito ao cuidado de uma criança extremamente agitada e com crises constantes.

Da mesma maneira que a constatação de certa forma conformada da minha amiga jornalista, o momento de catarse e a dor passadas pelo pai ou mãe da criança no grupo de WhatsApp também me fizeram reforçar um sentimento de compaixão que procuro cultivar por todas essas pessoas com as quais tenho dividido essa nossa história particular. Afinal, as histórias deles também são únicas, assim como a minha. Os sentimentos são próprios, particulares. A forma de aceitar isso também é específica.  E todas precisam ser respeitadas em sua intensidade.

Nessas horas busco sempre ampliar o raio de visão, fazendo um zoom out para tentar vislumbrar histórias de vida de pessoas com casos muito mais desafiadores do que o nosso aqui em casa. Exercito diariamente essa humildade, a duras penas, confesso, e tento não me vitimizar. Até para poder ter a força que julgo suficiente para não somente encarar e superar a nossa batalha interna, mas também ter um tanto de condições emocionais para ajudar outras pessoas. Com uma palavra, um abraço, uma visão diferente, ou mesmo um ombro ou ouvido amigo.

Porque o mundo é assim mesmo. Para mim, não existe aquela felicidade plena utópica, 100% e toda hora. Feliz mesmo é aquele que consegue aproveitar os bons momentos e tirar as lições dos mais difíceis.

E nessas horas sempre me vem à mente os pensamentos incisivos de meu Pai e eterno mentor, Seu Vicente, do alto de sua filosofia direto da Altaneira. Quando tendíamos a reclamar de algo e achar que as coisas em nossa vida não estavam boas, ele se saía com essa: “Olhe ao seu redor e preste atenção. Tem gente em situação pior. A dor dos outros distrai a nossa.” 

Luciana Guedes

Especialista em Finanças, Gestão de Negocios, Consultora CFEd®️

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Queria muito saber colocar em palavras esses sentimentos assim como você faz. Conviver com essas eternas crianças (meu irmão já tem 40 anos) é desafiador e ao mesmo tempo delicioso! #tamujunto 👍🏼

Tive um irmão autista. Faleceu aos 42 anos, 2008. Na época que ele nasceu, quase nada se sabia sobre o assunto. E ele não falava, nunca falou. Não sabemos qual a impressão que ele teve da vida.

Tayce Marchesi

Public Relations & Communications at Dubai World Trade Centre | GITEX Global, GITEX Europe, GITEX Africa, Expand North Star, GISEC Global

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A dor dos outros distrai a nossa e a força deles também nos fortalece. A recíproca também é verdadeira. Lindo artigo, Mauro, mas mais ainda importante de se compartilhar.

Rachel Pessôa

Gerente de Comunicação Corporativa na Anglo American com expertise em Liderança para a Sustentabilidade

6 a

Sincero e sensível, seu depoimento me tocou...um abraço fraterno

Antonio Rodrigues Neto

Diretor Executivo de Planejamento de Operações e Logística na Alvoar Lácteos | Especialista em Engenharia de Produção e Gestão de Negócios

6 a

Linda missão Mauro. Deus coloca em nossas mãos as mais belas missões e só as entrega as pessoas certas. É um presente e seu testemunho sem dúvida à de elevar a felicidade e autoestima de quem estiver precisando. 👏👏👏👏

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