Sobre o desmonte da Engenharia Brasileira Notas sobre o artigo “O desmonte da Engenharia Brasileira”, revista CREA-RS, nº 119, ed. março/abril 2017.
O periódico do CREA-RS, nº 119, edição março/abril 2017, traz em sua seção “Palavra do Presidente”, algumas análises do Sr. Presidente do CREA-RS sobre o atual estado da engenharia nacional em face a grande crise que nos desafia, suas origens e consequências para o futuro da engenharia brasileira. Nele se discorre sobre a história recente de nossa engenharia desde a década de 70, período dos governos militares, em que grandes obras foram iniciadas e concluídas, tais como Itaipu, Ponte Rio-Niterói, Rodovia Transamazônica e as Usinas de Angra 1 e 2. Faz-se menção ainda a questão de que o combate à corrupção não pode ser um pretexto para a destruição do nosso conhecimento e patrimônio tecnológico construído ao longo destas décadas, bem como esta crise avassaladora não deveria ser pretexto para os desmontes das empresas de infraestrutura e tecnologia, somando-se ainda ao quanto isso coloca em risco as bases de desenvolvimento e domínio tecnológico frente às aquisições de negócios nacionais por grupos estrangeiros.
Lendo e refletindo sobre as palavras do Sr. Presidente do CREA-RS e discorrendo sob a ótica pessoal, de engenheiro e brasileiro, imerso nesta crise avassaladora em que nosso Brasil se encontra, tendo a discordar em diversos pontos à começar do porque de nossa engenharia florescer tanto na década de 70. Observemos que neste período tão criticado de nossa história política, foi também o período de maiores feitos para a infraestrutura do nosso Brasil. Por que? Por que nos lembramos de um Brasil tecnológico somente na década de 70? Onde esteve a república brasileira desde 1889? O fenômeno incrível desta fase do nosso Brasil foi da visão de um Brasil, a nossa engenharia floresceu porque o nosso Brasil foi pensado como poderia ser! E infelizmente a nossa engenharia se desmontou porque deixamos de perpetuar esse pensamento de Brasil nas décadas seguintes. A democracia que conquistamos não trouxe a reboque a maturidade e o civismo que tanto precisávamos para continuar a crescer, ao contrário disso nunca vivemos tanta descrença alimentada por maus exemplos daqueles que detiveram e ainda detém o poder, mas que não pensam em um Brasil na forma daquele Brasil que aspiramos. O nosso amadurecimento está acontecendo agora...
As décadas passaram e hoje vivemos às portas da Indústria 4.0. O que isso quer nos dizer? Transmissão de informações em tempo real, ciberespaço, internet das coisas, integração homem-máquina, realidades fabulosas que nos acordam para o fato de que não há mais a possibilidade de um país estanque e isolado sobreviver ao futuro, portanto aqui reside a segunda discordância ao artigo publicado no que se refere a destruição do legado sob pretexto do combate à corrupção. O mundo se encaminha para uma transparência de informações e condutas até hoje nunca vistas e em desenvolvimento exponencial! Ao mesmo tempo as visões de ética e moral também caminham juntas nesta direção. Pergunto aos que lêem este artigo o quanto as nossas grandes corporações nacionais seriam competitivas se jogassem em bases justas ou como o esporte nos diz, no fair play? Não acredito que os nossos negócios nacionais possam prosperar nesta base movediça do submundo das relações obscuras e da apropriação do dinheiro alheio público ou privado, e o combate à corrupção é o próprio legado que devemos nos agarrar com todas as nossas forças! Somente projetaremos nossos negócios para além de nossas fronteiras, de forma robusta, quando formos alunos merecedores da nota A. As empresas hoje envolvidas nos crimes de corrupção podem ser nota C, B ou A, contudo aliciando os professores sempre foram aprovadas com A e não sabemos se realmente têm esse mérito, provavelmente saberemos daqui em diante, mas lá fora, no jogo global os maiores jogadores são todos A, talvez alguns sejam B+. Então de quem dispomos para enviar a este jogo? Neste momento coloco justamente minha terceira discordância de que não somos reféns de um movimento de recolonização, não somos vítimas de uma investida econômica dos grandes grupos transnacionais para aquisições dos grandes negócios brasileiros, da nossa terra e das nossas riquezas. Somos vítimas e reféns de nós mesmos! E a nossa engenharia também! Quem construiu esta realidade para o Brasil fomos nós, os Brasileiros. Se não estamos em condições de comprar, de projetar nossos negócios, de fazer aquisições e fusões em escala global pela fragilidade das nossas estruturas, visões e crenças, temos lá fora, na arena transnacional os outros pensando no sucesso de seus negócios e países, e comprando! Não são predadores atrozes, estão fazendo o que nós estamos deixando de fazer pelo nosso Brasil!
Portanto a engenharia brasileira está desmontada porque não conseguimos, ainda, montar um país Brasil que seja provedor de condições para que a criatividade, a inovação, a ética, a responsabilidade e o comprometimento sejam aplicados em suas plenitudes.
Pensemos em nossas realidades diárias, como empresários, engenheiros, técnicos, gestores, operadores, vivendo exemplos frequentes de um estado que somente demanda a contribuição sob as mais variadas formas e métodos, onde abundam empregadores que não honram os direitos dos seus contratados e onde pululam trabalhadores que buscam o emprego, não o trabalho, para viabilizarem uma licença remunerada de 5 meses via seguro desemprego...
Vamos ter a engenharia brasileira robusta quando tivermos um Brasil robusto, vamos ter um Brasil robusto quando tivermos visão e vamos ter visão quando pensarmos como um único povo...