Sobre pandemias, vacinas e a importância de nossas instituições

Sobre pandemias, vacinas e a importância de nossas instituições

Reorganizando algumas gavetas, me deparei com uma grata recordação: há cerca de 4 anos estive na sede da OMS discutindo a capacidade e a sustentabilidade global para produção de vacinas contra Influenza, como medida preventiva para uma iminente pandemia. Nesta ocasião, tive a honra de estar acompanhado por duas profissionais de renome nos temas imunização, @Carla Domingues, e produção farmacêutica industrial, @Kellen Rezende.

À época, o Brasil teve protagonismo nessa discussão, pois éramos um dos maiores produtores mundiais e tivemos a honra de, após piloto realizado no México, sermos o primeiro país a levar a cabo o diagnóstico sobre tal sustentabilidade, no âmbito do Plano de Ação Global para acesso a essas vacinas.

Hoje, fomos e ainda somos (o mundo) surpreendidos por um outro vírus, que não aparecia no radar (Sars-CoV-2) e cuja família (Mers-CoV e Sars-CoV) não chamou suficiente atenção das autoridades sanitárias mundiais a ponto de motivar um movimento semelhante àquele realizado ante à ameaça da pandemia de Influenza. 

Nestas duas situações, interessa destacar que há um ponto em comum: a vacina despontando como a ferramenta mais efetiva para se fazer frente a uma pandemia. 

Em meio a recordações e reflexões, me veio à mente o protagonismo do Instituto Butantan nos dois momentos, pois o Butantan era e é o produtor nacional da vacina contra Influenza e hoje desponta como o principal fornecedor da vacina contra COVID-19 para a campanha de vacinação nacional.

No mesmo achado de minhas gavetas, recordei-me ainda que após retornar de Genebra, na semana seguinte participei aqui em Brasília da 17ª reunião extraordinária da Rede de Órgãos Reguladores de Vacinas de Países em Desenvolvimento, reunião esta que o Brasil sediou justamente pelo destaque da Anvisa no processo de regulação de vacinas, cujo cerne é a avaliação da segurança e da eficácia.

Ao redigir esse texto, me ficou ainda mais evidente a importância de preservamos o SUS, a Anvisa e os laboratórios farmacêuticos públicos do país como patrimônios de nossa nação; e a necessidade de envidarmos esforços hercúleos em prol do fortalecimento e desenvolvimento do Complexo Econômico-Industrial da Saúde - CEIS.

Atrair investimentos externos para o país que, além de ser um grande mercado consumidor, possui posição estratégica no globo e recursos diversos necessários às indústrias dos segmentos farmacêutico e de equipamentos e dispositivos médicos; promover pesquisa, desenvolvimento, transferência e acesso a tecnologias de saúde de vanguarda; ampliar a produção e assim diminuir a dependência brasileira do mercado externo em relação a tecnologias de saúde, são apenas alguns dos desafios a serem superados para fortalecimento e desenvolvimento do CEIS, desafios estes que dependem da transposição de outros ainda maiores como a redução do “Custo Brasil”, provisão de segurança jurídica, estabilidade política.


Kellen Santos Rezende, Me., PhD.

Gerente de Relações Governamentais na GSK | Me., PhD.

3 a

Verdade @ Felipe, impossível não recordar este trabalho e aquele momento na OMS considerando a situação atual. Quem sabe aquelas lições aprendidas não sejam úteis para o cenário que vivemos.

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