Sobre quando não aceitamos ao chamado do propósito e não nos permitimos ser arrebatados por ele...

Sobre quando não aceitamos ao chamado do propósito e não nos permitimos ser arrebatados por ele...

Estou aqui relendo "O Herói de Mil Faces" do Campbell, onde ele descreve a jornada do herói. Para mim, uma das melhores analogias sobre a jornada de uma vida com propósito.

Existe um momento, uma possível etapa nessa jornada, que é quando não aceitamos ao chamado (da aventura - do propósito) ou até inconscientemente não nos permitimos ser arrebatados por esse chamado.

Essa passagem é absurdamente relevante para os nossos dias, onde percebo uma grande intensidade no mundo, tanto de pessoas sentindo um vazio, uma vida sem significado quanto pessoas vivendo uma tensão/crise por sentirem que algo (ainda) desconhecido faz muito mais sentido, é muito mais significativo que a vida conhecida atual. Mas, algo acontece que as prende e não as permite aceitar esse chamado e irem em busca da aventura!

Separei aqui uns trechos que grifei, sobre a passagem do livro onde Campbell fala sobre a recusa do chamado.

E acho que vale muito a pena ser lido por quem vive essa tensão (que para mim é incrível! Move! Ou seja, se você não sente essa tensão, pode ser que comece a sentir lendo, então vale a pena tb. hahaha)


"Com frequência, na vida real, e com não menos frequência, nos mitos e contos populares, encontramos o triste caso do chamado que não obtém resposta; pois sempre é possível desviar a atenção para outros interesses. A recusa à convocação converte a aventura em sua contraparte negativa. Aprisionado pelo tédio, pelo trabalho duro ou pela cultura, o sujeito perde o poder da ação afirmativa dotada de significado e se transforma numa vítima a ser salva. Seu mundo florescente torna-se um deserto cheio de pedras e sua vida dá uma impressão de falta de sentido."

"Os mitos e contos de fadas de todo o mundo deixam claro que a recusa é essencialmente uma recusa a renunciar àquilo que a pessoa considera interesse próprio."

"A literatura psicanalítica apresenta abundantes exemplos dessas fixações desesperadas [que nos impedem de aceitar ao chamado]. Essas fixações representam uma impotência em abandonar o ego infantil, com sua esfera de relacionamentos e ideais emocionais. Estamos aprisionados pelos muros da infância; o pai e a mãe são guardiães das vias de acesso, e a atemorizada alma, temendo alguma punição, não consegue passar pela porta e alcançar o nascimento no mundo exterior."

"Nem todos os que hesitam se perdem. A psique reserva muitos segredos, que só são revelados quando necessário. E assim, às vezes, o castigo que se segue a uma recusa obstinada ao chamado mostra ser a ocasião da providencial revelação de algum princípio insuspeitado de liberação."

"A introversão voluntária, na realidade, é uma das marcas clássicas do gênio criador e pode ser empregada deliberadamente. Ela impulsiona as energias psíquicas para as camadas profundas e ativa o continente perdido das imagens inconscientes infantis e arquetípicas. O resultado, com efeito, pode ser uma desintegração mais ou menos completa da consciência (neurose, psicose, o destino de Dafne enfeitiçada); mas, por outro lado, se a personalidade for capaz de absorver e integrar as novas forças, experimentará um grau quase sobre-humano de autoconsciência e de autocontrole superiores."

"Trata-se antes de uma deliberada e extraordinária determinação de só dar a mais profunda, elevada e rica resposta à exigência, ainda desconhecida, de algum vazio interior expectante; uma espécie de recusa total ou rejeição do termos de vida oferecidos. Como resultado, algum poder de transformação leva o problema a um plano de novas magnitudes, onde ele é súbita e finalmente resolvido." [até o próximo chamado... rs]

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