Sobre valorização profissional ou... vamos falar sobre a queixa mais antiga do mundo?
“Mas é só essa apresentação, amiga”. Não, meu caro, não é só mais uma simples apresentação. Não são meros “slides fáceis e simples de fazer”. Não é “apenas um textinho rápido”. São horas em reunião tentando compreender as suas intenções, nem sempre claras em meio a – quase sempre - muita prolixidade e muita confusão. São anos de estudo, horas de leituras e dedicação a perder de vista. São anos de investimentos em cursos, palestras, workshops. São viagens a trabalho e a estudo que tiveram um custo alto ao bolso e, por vezes, também ao emocional. São inúmeras seleções, entrevistas e esforços imensos para conquistar as melhores experiências profissionais. São atitudes desenvolvidas em prol de uma formação a que, lamentavelmente, nem todos têm acesso em um país cada vez mais desigual e explorador.
Não, não rebaixe o valor de um profissional que você acabou de conhecer ou contratar para algum serviço. Não seja a pessoa mesquinha que diz lutar pela valorização de sua própria área, mas questiona todos os métodos e tenta julgar o trabalho feito com o pior e mais ignorante dos olhares ao menor sinal de um suposto “prejuízo financeiro” ou uma “insatisfação” diante de uma atitude, no seu entendimento, nem tão “amigável e solícita” daquele(a) que você acreditava que podia contar para tudo, sempre, a qualquer hora (de graça, claro).
Quando você tenta diminuir um profissional, dá sinais nítidos da sua índole e demonstra mais sobre o seu próprio comportamento profissional do que qualquer outra coisa. Não é a pessoa que lhe cobra um determinado valor - justo - pelo trabalho feito que sairá “mal na foto”. É você. Acredite, isso é ruim e poderá acarretar sérios problemas no futuro. Falta de credibilidade, prepotência, intransigência, má reputação não são bons sinais para se repassar ao mercado. Recrutadores, sabe aqueles profissionais da gestão de pessoas? Então. Eles estão atentos a cada passo e a cada nova palavra dita, do seu presente e do seu passado. Recorde-se dessa sua atitude quando for passar por uma seleção ou quando for reclamar sobre as “injustas” condições impostas pela empresa ao desempenho do seu trabalho…
Mais: não saia por aí a desmerecer essa ou aquela área. Um jornalista deve ter o mesmo reconhecimento que um engenheiro. Um sociólogo deve ter o mesmo tratamento digno que um arquiteto. Tomando a Comunicação como exemplo, certa vez uma colega comentou algo muito pertinente e que convida à reflexão: “Você questiona os cálculos estruturais que um engenheiro faz na hora de construir sua casa e garantir a sua segurança? Por qual motivo, então, você questiona a forma de atuação de um profissional de Comunicação, em suas estratégias, para lhe trazer informação de qualidade, mais clareza e menos alienação?”. Não é porque o produto com o qual o profissional trabalha é mais ou menos palpável (no sentido de poder tocá-lo, senti-lo, vê-lo concretamente) que ele merecerá ser discriminado, ter maior ou menor valorização. Produtos ditos intangíveis possuem imenso valor atualmente. Vide o valor da própria informação e do desenvolvimento das competências humanas, só para citar alguns deles.
Na hora de contratar um profissional para atender uma necessidade sua, esforce-se e procure conhecer minimamente como ele realiza aquela atividade. Busque entender o cenário em que se atua. Pesquise como aquela expertise foi conquistada e, se não for pedir muito, já tenha em mente, com coerência e bom senso, de que maneira aquele profissional escolhido irá realmente auxiliá-lo a atingir seus objetivos. Lembre-se: todos são trabalhadores. Elogios falsos não pagam boletos. “Puxar o saco” ou fazer promessas não vão suprir as necessidades diárias. À exceção dos inescrupulosos e gananciosos que existem em todas as áreas de atuação, todos também temos ideais a conquistar, contas a pagar, livros para comprar e estudar. Todos temos métodos próprios, certificados e adequados, de colocar em prática o que foi aprendido. E adquirir isso levou tempo, dinheiro e alguns fios de cabelo.
Se as corretas formas de atuação e a competência de um profissional irão ajudá-lo em seus propósitos, confie. Respeite. Invista. Remunere adequadamente. Todas as profissões têm seu valor. E quase todas elas, em algum momento da sua vida, terão importância fundamental. Você vai precisar daquele conhecimento específico. Nunca se sabe, não é? O mundo dá voltas...
Thamyris Assunção é jornalista, apaixonada por Comunicação Corporativa e Gestão de Pessoas. Atualmente, cursa o Mestrado em Ciências da Comunicação na Universidade do Minho em Braga, Portugal.
MENTOR DE CARREIRA E PALESTRANTE / @leonnedomingues
1 aExcelente texto. Muitas pessoas não compreendem todos os conhecimentos e esforço por trás de um serviço ou produto; mesmo profissionais que, por vezes compreendem tal contexto, comportam-se de forma anti-ética com outro profissional.