SOCIEDADE DOS POETAS MORTOS
“O Captain! my Captain! our fearful trip is done.” – Walt Whitman
Até a adolescência, eu odiava poesia. Para falar a verdade, ainda tenho minhas muitas ressalvas. É difícil entender, é complicado achar serventia pra ela. Se não significa muito, por que deveria ler ou dar atenção? Por que cargas d’água o poeta escreve desse jeito esquisito? Fala logo direto na nossa cara, sem enrolação. Detestava poesia porque ela me obrigava a pensar, e isso, pensar, dá muito trabalho.
“Meu quintal é maior que o mundo”, dizia um certo poeta. Essa frase é o resumo básico da obra de Manoel de Barros, poeta mato-grossense, viciado em coisas mínimas e nos detalhes daquilo que a maioria das pessoas não percebe. O que leva um homem adulto a afirmar que seu quintal é maior que o mundo? Talvez esse quintal seja o pedaço da mente onde se pode atear fogo, fazer festas e ressignificar a vida.
O filme “Dead Poets Society” é uma coisa boa que aconteceu no cinema. Estrelado por ninguém menos que Robin Williams, o longa de 1990 mexeu num vespeiro que até hoje cria calombos em quem ousa discutir o assunto. John Keating, o personagem de Williams, é um professor de inglês que acredita no poder da liberdade de expressão. Para ele, a criatividade não é um dom divino, mas pode ser cultivada no quintal de qualquer pessoa, necessitando apenas de imaginação e um pouco de boa vontade. Cadeiras enfileiradas são um sinal de que há algo errado. Um manual de redação seria um outro sinal de que páginas precisem ser rasgadas.
We don’t need no education. Meu quintal é maior… O seu quintal é maior…
Na 7ª série, meu professor Pedro, aquele homem negro de 2 metros, parecia um pivô de basquete, mas, na verdade “ensinava” português. Ele nos arrebatava com suas aulas show. Porém, o que realmente marcou a todos era a sua sensibilidade. Quando via um rosto triste parava tudo. Pedrão gastava 50 minutos falando sobre os desafios que nós adolescentes enfrentaríamos, como sexo, drogas, trabalho e relacionamentos. Falava que ter paciência era a melhor saída na hora de tomar decisões importantes. Já nem lembro das regras gramaticais que aprendi, mas descobri com aquele sujeito que eu possuía um “quintal”.
Quando a realidade é confrontada. Quando o mundo começa a parecer menos confortável, aí as coisas revelam um sabor estranho, um amargo gosto de poesia, uma coisa meio difícil de entender. O professor está lá, no meio da sala, de mãos encharcadas de giz, o quadro escorrendo de informações, e os meus olhos lacrimejam à espera de algum tipo de emoção real. Estou morto, morrendo aos poucos, enquanto busco alguma luz na tela do smartphone. Um lugar sensível ao toque.
A película registra um épico. Toda uma geração foi impactada por sua poderosa mensagem. E acredito que ainda podemos sentir a sua força. Alunos sufocados dentro de uma sala de aula. Vidas sendo moldadas por regras sociais. Mentes dilaceradas por lâminas morais. Cena repetida, insuportável realidade. Peter Weir, diretor do filme, consegue, poeticamente, levar nossos olhos ao ângulo apropriado: a todas as direções. Não há uma regra definida. Há o que se perceber. Há o que pudermos ser. Há o que for possível como limites de cada quintal. Afinal, nossas mentes são o trampolim para as camadas mais profundas da alma. Campo minado das emoções. Espaço de liberdade, onde não são bem-vindas normas métricas e regras de comportamento.
A triste e doída viagem acabou, meu capitão. O sistema vence, parcialmente. Mas, ficam espalhadas sementes. As mesas servem de palco, e o antigo modelo não funciona mais. Prescreveu. A amarga poesia já tem um novo sabor. Doses de ousadia não assustam mais. Existem outras histórias entre as linhas e o obscuro sarcasmo do professor mal resolvido. A poesia ainda incomoda. Alfineta. Hey you, carpe diem!
A poesia ainda me chama para o lado de fora da caixa, onde o mundo é redondo e as coisas precisam de novos nomes. Ininterruptamente. A poesia é tão viva que pode criar sociedades de poetas nem tão mortos assim. Tão impressionante que é capaz de parar o tempo e nos fazer pensar sobre o presente, viajando num passado distante, enquanto imaginamos um futuro possível, quando seremos um ser tão diferente de nós mesmos, hoje, que será preciso um novo esforço para brincar naquele imenso novo quintal, de onde ninguém consegue fugir, mesmo que tente.
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