Soft Sensors - Instrumentação Analítica e Indústria 4.0
Fábrica Digital (Imagem de FABRICE DUPREZ por Pixabay)

Soft Sensors - Instrumentação Analítica e Indústria 4.0

O conceito de indústria 4.0 se baseia em um conjunto de tecnologias cuja aplicação pode trazer inúmeros benefícios: capacidade de tomada de decisão para modificação de processos produtivos em tempo real, virtualização, descentralização, etc. As tecnologias que compõem a indústria 4.0 incluem: Big Data, Internet das Coisas (IoT), Computação em Nuvem, Manufatura Digital, entre outras.

A integração dessas tecnologias em uma fábrica a tornariam em uma “fábrica inteligente”, onde seriam processados dados de todo o sistema físico, operacional e recursos humanos, com o objetivo de dirigir fabricação, manutenção, controle de estoque, digitalização de operações, entre outros, com maior capacidade de prever e se adaptar às mudanças necessárias.

Porém para entender a conexão entre esse universo e a instrumentação analítica, e os avanços que estão acontecendo, precisamos focar na área de Big Data. Esta área do conhecimento está relacionada com a manipulação e processamento de um grande volume de dados.

Dentro do Big Data existe ainda a área de Mineração de Dados (Data Mining), que basicamente significa extrair informação desses dados, identificando padrões consistentes capazes de gerar insights valiosos para o processo. Vale ressaltar que são os instrumentos analíticos que disponibilizam esses dados na indústria de processos (química, petroquímica, papel e celulose, farmacêutica, etc.).

Esses dados, que são utilizados principalmente para monitoramento e controle do processo, podem também ser utilizados para construir modelos preditivos, o que significa estimar um parâmetro crítico utilizando informação fornecida por outros parâmetros ou sinais.

Esses modelos preditivos são chamados de “Soft Sensors” (ou “software sensors”). Outros termos comuns são sensores preditivos, sensores inferenciais, ou analisadores on-line virtuais. Os soft sensors representam a conexão da instrumentação analítica com a indústria 4.0.

Vejamos uma representação esquemática:

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A lista de aplicações é ampla. Alguns exemplos são:

- Desenvolvimento de Soft Sensor para predição on-line de emissões de NOx em um processo de combustão, cujo modelo está baseado em diversas variáveis de processo: pressão e vazão do ar de combustão, temperatura na entrada do economizador, vazão e calor latente do combustível.

- Desenvolvimento de Soft Sensor para medir a qualidade da alumina no processo, a partir de medições da planta realizadas por instrumentos on-line, e dados de laboratório.

- Diversas aplicações na indústria química, papel e celulose, aço, entre outros.

Porém surge a dúvida: Por que estimar um parâmetro crítico a partir de outros sinais, e não medir aquele parâmetro diretamente? Talvez por motivos tecnológicos (aquele parâmetro não pode ser medido on-line) ou motivos econômicos (é necessário investimento muito alto em equipamentos, e uma estimativa suficientemente boa poderia ser obtida utilizando sensores de menor custo).

Saber utilizar eficientemente o conhecimento adquirido a partir dos dados, e converter esse conhecimento em decisões efetivas é o grande desafio das indústrias de processo.

As técnicas para a construção desses modelos preditivos podem ser lineares ou não lineares: PCA (análise por componentes principais), MLR (regressão linear multivariada), PLS (mínimos quadrados parciais), redes neurais, etc. Mas vou deixar para falar dessas técnicas em outro artigo.

Fontes:

(1) Curso “Desvendando a indústria 4.0”. Centro SENAI de Tecnologias Educacionais. 2020.

(2) “The smart factory”. Deloitte University Press. 2017.

(3) M Kadlec, P., Gabrys, B., & Strandt, S. Data-driven Soft Sensors in the Process Industry. Computers and Chemical Engineering. 2008.

(4) Hasnen, S.H., M.S.H., Zabiri, H., Prakash, K.K., Mat, T.T. Adaptive PLS inferential soft sensor for continuous online estimation of NOx emission in industrial water-tube boiler IOP Conference Series: Materials Science and Engineering 702.2019.

(5) Cregan, V., Lee, W.T., Clune, L. A soft sensor for the Bayer process. Journal of Mathematics in Industry. 2017.

(6) Development of soft sensors for monitoring and control of bioprocesses. Linköping Studies in Science and Technology. Dissertation No. 1954. 2018.

(7) Ge, Z., Song, Z., Ding, S.X., Huang, B. Data Mining and Analytics in the Process Industry: The Role of Machine Learning. IEEE Access. Special Section on Data-Driven Monitoring, Fault Diagnosis and Control of Cyber-Physical Systems. 2017.






Vilson Lima

Coordenador de Qualidade

4 a

Artigo muito interessante. Esta área irá se desenvolver muito, principalmente pela característica pró-ativa destes tipo de sensor!

Alberto Barriga

On-demand Oil&Gas Consultant (Petrobras/Refining) - Gestão de Produção, Projetos de Processo de Unidades de Refino, Petroquímica, Lubrificantes, experiente em automação e paixão pela Excelência Operacional

4 a

Muito bom artigo Francisco Falla Sotelo, comecei lembrar de algumas coisas que aprendemos, que eu lembre, juntos, só que você ficou na area. Teu artigo aborda bem como tratar as correlações para obtenção da variável desejada (inferida). Antigamente, por um período, comecei a trabalhar com NIR (Near Infrared) mas saí da area, você sabe se atualmente exitem muitas aplicações em NIR, porque seria uma espécie de coringa para propriedades de hidrocarbonetos on-line. Se souber de algo que possa sinalizar, agradeço. E braços por teu trabalho. Sucesso.

Sergio Trindade

Ianalítica Consultoria & Treinamento

4 a

Muito interessante e provocativo esse tema, os modelos de predição analíticos já estão em uso a algum tempo, principalmente em emissões em turbinas. Com o uso da aprendizagem de máquina e da IA essas aplicações podem se ampliar e alcançarem maior robustez, com menos derivação e maior confiabilidade. Pelo menos isso pode ser considerado uma visão a se persseguir.

Eduardo Barbosa, MSc.

Químico Analítico | Especialista de Aplicação | Gestão de Produtos | Gestão de Projetos | Gestão de Laboratório Químico | Prospecção & Desenvolvimento de Negócios

4 a

Legal, Francisco Falla Sotelo ! Há quase 10 anos atrás se falava dos VCEMS - ou CEMS virtuais, baseados em inferências de sensores não-analíticos... Obviamente muito se caminhou de lá para cá, e os paradigmas mudaram significativamente. Acredito que, mesmo ainda não sendo totalmente robustos e autônomos, nada substitui um sensor analítico para prever propriedades químicas. Especialmente a espectroscopia de processo - IR, UV, Raman - está contribuindo neste aspecto, onde os preditores do processo já não usam mais o valor previsto pelo modelo PLS do analisador, mas sim o espectro inteiro junto com outras variáveis importantes do processo. A sacada aqui para melhorar o controle é justamente "salpicar" os modelos multivariados "macro" com sensores analíticos, mineração de dados e análises offline de laboratório, para ter a melhor inferência possível do processo. Este é definitivamente o futuro!

Renan Klopper

Engenheiro de Automação | MBA em Gestão de Projetos | Engenheiro de Produção | Óleo & Gás

4 a

É muito interessante quando surgem novos termos baseados na evolução da tecnologia. Significa que está sendo implementado e precisa ser amadurecido. E nós agradecemos por fornecer todo esse conhecimento no amadurecimento de mais este termo. 👏

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