Solo não é terra!
Quando falamos de solo, muitos ainda o confundem com a “terra” que vemos à nossa volta, como se fosse apenas um amontoado de partículas inertes. No entanto, o solo vai muito além disso. Ele é um ecossistema vivo, essencial para o crescimento das plantas e, consequentemente, para a produtividade agrícola.
Em uma visita minha, a um grande produtor holandês de substratos agrícolas para hortaliças, perguntei ao pesquisador da empresa o que ele adicionava naquele material que o tornava tão especial. A resposta foi contundente e inesquecível: AR! Ou seja, o substrato era inerte mas conferia uma estrutura física ideal de solo, para o melhor desenvolvimento das mudas de plantas.
Claro que o solo não é apenas um meio físico, mas sim uma estrutura rica em biodiversidade, onde ocorrem interações químicas, físicas e biológicas que determinam diretamente a produtividade agrícola. Porém a parte estrutural é quem potencializa as demais. Um solo compactado ou desestruturado é um solo que tende a ser estéril, doente e improdutivo.
Quando o solo é compactado, a troca de gases, como oxigênio e dióxido de carbono, é limitada. Isso afeta diretamente a respiração das raízes e a atividade microbiana, que são fundamentais para a absorção de nutrientes e o crescimento das plantas. Solos compactados também prejudicam a infiltração de água, aumentando a erosão e reduzindo a capacidade do solo de reter umidade. Desta maneira, com todos estes fatores negativos somados, o crescimento das raízes é bastante prejudicado, consequentemente, a produtividade agrícola também.
As raízes desempenham um papel fundamental nesse processo, funcionando como a principal interface entre a planta e o solo. Elas não só absorvem água e nutrientes, mas também ajudam a melhorar a estrutura do solo ao criarem canais naturais para a circulação de ar e água. Além disso, as raízes liberam compostos orgânicos que alimentam microrganismos benéficos, como os fungos micorrízicos, que ampliam a capacidade de absorção de nutrientes essenciais, como o fósforo, por exemplo.
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A relação do solo com a água é outro aspecto fundamental para a produtividade agrícola. Um solo rico em matéria orgânica tem uma maior capacidade de retenção de água, crucial para a manutenção das plantas em períodos de seca. Solos bem estruturados, funcionam como uma esponja, absorvendo a água durante as chuvas e liberando-a lentamente durante períodos de seca. Isso não apenas reduz a necessidade de irrigação, mas também minimiza os efeitos da erosão e da lixiviação de nutrientes, preservando a fertilidade do solo a longo prazo. Solos não compactados tem uma infiltração de agua ate 7 vezes maior, conforme pude verificar em experimentos que acompanhei em áreas de produção de cana de açúcar.
No entanto, grande parte da verdadeira fertilidade do solo vem das interações invisíveis que ocorrem entre os macro e microrganismos que o habitam. Enquanto as minhocas ajudam a criar canais e melhorar a estrutura física, os microrganismos, como bactérias e fungos, desempenham papéis críticos na decomposição de matéria orgânica e na ciclagem de nutrientes. Um bom exemplo são as bactérias fixadoras de nitrogênio que convertem o nitrogênio atmosférico em formas utilizáveis pelas plantas, reduzindo a dependência de fertilizantes químicos e promovendo uma agricultura mais sustentável.
Utilizávamos, experimentalmente, o solo das áreas de APP (áreas de preservação permanente) como um gabarito do que deveríamos buscar quando aplicávamos praticas de agricultura regenerativa nas áreas de produção de cana de açúcar. Analisar os fatores físicos, químicos e biológicos e utiliza-los como benchmark nos dava um guia de como e onde atuar, indo além das praticas convencionais atuais. Sabíamos também, que um solo estava se recuperando quando identificávamos um simples e eficiente bioindicador: a presença de minhocas. Elas não aparecem em solos doentes ou de baixa fertilidade.
Portanto, a agricultura moderna enfrenta o desafio de produzir mais alimentos com menos recursos, sem comprometer os ecossistemas. E a solução passa pelo entendimento de que o solo não é apenas terra. Ele é um recurso vivo, dinâmico e interdependente, cuja saúde deve ser priorizada para garantir não apenas a produtividade agrícola, mas também a sustentabilidade do nosso planeta. Um solo saudável é o alicerce de uma agricultura próspera, e sua conservação é a chave para alimentarmos as gerações futuras sem esgotar os recursos disponíveis.
VQV!