A soma de todos os (meus) medos!
No dia em que eu fiz 29 anos. Em uma praia desolada chamada Sunny Beach, leste da Bulgária.

A soma de todos os (meus) medos!

Exatamente quinhentos e vinte anos após o fidalgo comandante português Pedro Álvares Cabral ter posto os seus pés caucasianos pela primeira vez em terras que entrariam para a história sob a nomeclatura Brasil, eu quase tive um infarto agudo do miocárdio.

Na última quarta-feira, 22 de abril de 2020 eu passei por uma experiência terrível. Uma consequência psicológica causada pelo estado de quarentena imposto para conter o alastramento da Covid19 no mundo.

Para além das milhares de mensagens sobre como podemos passar por essa quarentena psicologicamente bem, esse texto é um relato que aconteceu comigo a apenas 4 dias e que pode lhe ajudar a ficar atento e mentalmente saudável.

Esse texto fala de saúde mental.

01 - Montando o tabuleiro.

No início de fevereiro de 2020 eu e Maria Juliana, minha namorada e parceira de vida estávamos na Argentina. As notícias que chegavam do Brasil, especificamente da família de Maria eram no mínimo estranhas. Minha sogra, que comumente fazia muitas chamadas de vídeo começou a não parecer normal nas últimas ligações.

Para uma pessoa sempre tão viva, de repente parecia levemente dopada. Nos lembrava muito da vez que ela enfrentou um câncer e passou maus bocados. Ainda durante nossa passagem por Buenos Aires, suas ligações diárias foram perdendo a frequência.

Voltamos para o Brasil quando a América Latina estava na sua última semana antes do fechamento de fronteiras. Quase ficamos presos na capital Argentina como nossos amigos Evilázio Côelho e Stefany Guedes.

Por estarmos atentos as notícias da pandemia, eu e Maria decidimos passar nossas primeiras 2 semanas pós viagem em Recife/PE antes de retornarmos de vez para a cidade que moramos, Caruaru/PE, mas o estado de saúde da minha sogra piorou e voltamos às pressas para interná-la em um hospital. Ela estava com infecção urinária.

Chegamos em Caruaru no dia 13 de fevereiro. Eu e Maria nos separamos. Ela precisava cuidar da mãe dela. Estar presente enquanto minha sogra se recuperava da infecção que quase a matou. Eu me enclausurei em minha casa saindo de lá apenas 2 vezes até o dia 22 de abril. Uma vez para ir visitar minha sogra no hospital e outra para acompanhar Maria à farmácia, quando precisamos comprar medicamentos para minha sogra.

Ao todo foram 41 dias isolado (e contando!).

Eu não fiquei completamente sozinho. Ao longo desses dias, Maria intercalava a semana entre minha casa e a casa da sua mãe. Comigo ela ficava das quintas aos domingos. Aproveitamos para botar nossos empreendimentos em dia. Com sua mãe, ela ficava dos domingos às quintas. Tinha que ser assim, pois a mãe dela precisava de ajudar para banhos e incontinências urinárias. Era uma rotina muito puxada.

02 - Fatos importantes ao contexto.

Eu cresci nesta casa que me encontro confinado. Hoje sozinho. Minha família, mãe, pai e irmão estão em nossa outra casa, em Recife. Mas nem sempre foi assim.

Eu cresci vendo meu pai em uma rotina diária de segurança que as vezes podia beirar a paranóia. Ele sempre foi uma pessoa muito preocupada em trancar todas as portas e janelas, afinal de contas eram casas enormes, e crescer observando essa rotina e as constantes advertências me deixaram muito atento.

Aliás, me deixaram de certo meio paranóico também. A verdade é que eu tenho um medo da p0rr# de ficar sozinho na minha casa de Caruaru, e agora eu me vejo 50% do tempo só, 50% com Maria.

Além disso, eu o que eu vou revelar a seguir nunca foi dito a ninguém!

Eu tenho um histórico de paralisia do sono. Sim! Aquelas histórias que a gente lê na internet de pessoas que ficam vendo imagens e não conseguem se mexer.

Aconteceu muito comigo até meus catorze anos e depois em episódios muito raros. Tinha acontecido mais uma vez, na útima segunda-feira, 20 de abril de 2020, dois dias antes do grande dia!

Um adento importante ao fato que vou descrever no proximo tópico é que nos últimos meses eu tive o trauma de ter acordado com um rato do tamanho da minha mão no meu ombro esquerdo, fora um experiência de uma barata que passou por cima de mim ano passado. A cereja do bolo foi ter me deparado com 2 escorpiões nas últimas semanas.

Eu estava atento, para dizer o mínimo.

03 - Chegou o grande dia.

Maria que nos últimos 40 dias estava vindo para minha casa me fazer compania nas quintas-feiras veio um dia mais cedo dessa vez. Ela chegou na quarta. Um ótimo sinal de que sua mãe já estava curada e ela poderia ficar mais tempo comigo.

Fomos dormir.

Aproximadamente às 1h e 30 minutos da madrugada já da quinta-feira, eu sinto um movimento por cima do meu ombro direito. Era a mão de Maria que se mexia enquanto ela se revirava buscando uma posição melhor para seu sono. Eu sabia que era a mão de Maria.

Mas o trauma recente com a ratazana que me acordou alguns meses antes, junto com as lembranças desagradáveis das baratas e escorpiões que cruzaram meu caminho me levantaram no pulo!

O que eu nunca imaginei que poderia acontecer, de repente aconteceu.

Eu que levantara de susto diante da possibilidade de ter algum animal peçonhento na minha cama (novamente) de repente vejo uma sobra do tamanho de um ser humano se levantando da mesma cama e correndo em direção ao banheiro.

Após anos temerosos de que alguém poderia invadir minha casa em algum dia, finalmente isso se transformou em um pesadelo real... alguém invadiu minha casa!

Em um curto-circuito do meu cérebro reptiliano, eu não sabia se eu fugia ou se eu lutava, então em uma tentativa bizarra de fazer as duas coisas, eu comecei a gritar o mais rápido e forte possível. Na manhã seguinte eu constataria que meu smartwatch tinha registrado o pico de batimentos do meu coração que subiu para 141 batimentos por minuto.

Maria que tinha corrido para o banheiro quando me viu levantando de assalto só teve tempo de ligar a luz do banheiro antes de constatar que eu estava aterrorizado, olhando diretamente para ela e gritando a plenos pulmões.

Ela não fez outra coisa se não começar a gritar apavorada, diante da visão de um namorado completamente transtornado em um possível ataque de paranoia, que não a reconhecia na frente dos seus olhos.

Instantaneamente após Maria ter ascendido a luz do banheiro, eu a reconheci, mas meu corpo ainda não me respondia, visto que este ainda reagiu por mais uns 4 segundos em um grito initerrupto que deve ter acordado os vizinhos mais próximos.

Quando meu corpo parou, eu cai tremendo na cama, frente ao susto. Recolhido como um inseto morto que se fecha em si próprio. Eu olhava para minhas mãos e soluçava: "Eu não estava tendo nenhum pesadelo! Eu não estava tendo nenhum pesadelo!"

Eu passei 2 dias sem voz e ainda elétrico do susto por mais de 24 horas.

04 - O que (eu acho) que aconteceu.

De maneira prática, eu não soube reconhecer que eu estava acompanhado.

Após condicionar minha mente durante apenas 42 (fucking) dias de que metade da semana eu estava só e metade da semana eu estava com Maria, eu não tinha conseguido discernir em tempo hábil que naquela madrugada específica eu NÃO estava sozinho.

Eu juntei todos os meus medos recentes ao estado de quarentena. Era um desastre anunciado.

Eu quase morri de susto e levei Maria junto comigo.

Ao longo da semana que passou eu tinha anotado diversos insights para escrever textos úteis e práticos para quem quisesse ler, mas depois desse episódio tão forte, eu resolvi trazer o alerta para quem tiver a oportunidade de ler essa história.

Cuide da sua saúde mental! Fale com um psicólogo. Exponha seus medos e tente entendê-los, superá-los. Não acumulem os medos feito eu. A gente está vivendo tempos estranhos, que nos tiram das nossas normalidades e os desgostos psicoemocionais que são suportáveis no nosso dia a dia podem virar a causa da nossa ruina!

Em um universo paralelo uma versão minha está sendo sepultada nesse exato momento e em sua (minha) lápide está escrito: "Teve a coragem de tomar as rédeas da própria vida, mas morreu de um mero susto!"

Sobre o autor:

Opa! Sou o Heitor, pernambucano, mestre em Administração pela UFPE, idealizador da Expire (uma plataforma de terapia online), criador do Podcast Nômade, o podcast oficial da Nomadesfera (comunidade de nômades Brasil a fora!) e de quebra, integrante do duo folk Casaprima.

 #saúdemental #melhoresconselhos #paralercomcalma






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