O luto da Covid-19
Vivemos um tempo em que todo o mundo conhece alguém que morreu de Covid-19. Pai, mãe, esposo, esposa, filho, irmão...Um primo, uma tia, um genro... Cunhado, vizinho ou parente distante. Sogro da irmã, amiga da avó, ex-colega de faculdade. Talvez alguma autoridade local, médico renomado na região, artista de que a gente gostava. Ou o padeiro que tinha aquelas mãos mágicas para deixar a massa mais macia. Ou aquela mãe de família com três filhos pequenos, vizinha da prima.
Há ainda casos em que a pessoa não sabe mais como carregar o peso de um luto em cima do outro, já que na família morreram três, quatro pessoas. O os buracos só aumentam, no cemitério e nos corações.
E, isoladas, as pessoas têm dificuldade em demonstrar solidariedade. No máximo, escrevem um “sinto muito” em um post no Instagram ou Facebook. Alguns – raros – ainda telefonam, mas como faltam palavras, muitos preferem se calar.
Sim, sabemos que essas demonstrações de condolências são honestas, verdadeiras, que estão carregadas de vontade de estar do lado, abraçar, fazer uma água com açúcar, segurar na mão. Sabemos que muitos têm se unido em correntes de oração, com esperança de que Deus atenda aos pedidos de cura. Mas na verdade, já não temos ideia do que mais podemos fazer. E cada um de nós tem sofrido do seu jeito, suportado o peso dessa pandemia da forma que consegue.
Mas, que tal fazer algo diferente disso no dia de hoje? Só hoje, podemos, por exemplo, escrever uma carta e mandar para alguém especial, surpreendendo-o com uma forma diferente de contato, com sabor de nostalgia... Ou fazer um bolo bem gostoso e entregar na porta da casa de alguém que a gente sabe que está sofrendo muito... Talvez colher uma flor no nosso próprio jardim e dar para a vizinha que está de luto, ou fazer um kit de temperinhos da horta e levar para aquela família em que todos estão sem apetite por causa da tristeza...
Talvez, amanhã a gente faça algo surpreendente de novo... E depois de amanhã também... E assim a gente vai curando as nossas próprias feridas e, se essas gotinhas de amor se espalharem, quem sabe, esses nossos gestos se repliquem.... Afinal, “há moedas de amor que valem mais do que os tesouros bancários, quando endereçadas no momento próprio e com bondade” (Joanna de Andelis).