Sonho Olímpico

Sempre fiz muitos esportes. Desde criança sou bastante competitivo. Gosto principalmente de esportes coletivos onde posso, além de disputar com adversários, também estar ao lado dos amigos. Na escola adorava handball e volei. Uma das coisas que acho mais fascinante no volei e fazia questão de sempre reforçar é quando se pontua, todos se unem no meio da quadra e vibram. Talvez já tenha reparado que mesmo os melhores times do mundo fazem isso. E quando o fazem conseguem se fortalecer ainda mais e parecem que entram em sintonia. Sou apaixonado por esse aspecto mental do esporte e que está fora do treino físico ou tático.

Também desde criança acompanho todo tipo de campeonato. Acordava para ver o Senna nas manhãs de domingo. Ia ao estádio do São Paulo quase todas as semanas com os amigos do colégio. Guga jogando e fazendo história na França. O dream team dando show com o monstro Michael Jordan. Sem falar na seleção brasileira de volei. Acompanhei por anos os caras sempre perdendo para os mesmos times. Mas continuavam crescendo e finalmente conquistaram a medalha de ouro. Eu ficava sempre sonhando em ir para as Olimpíadas. Já imaginou o que deve ser participar desfilando na cerimônia de abertura? Alojar-se na vila olímpica com atletas dos mais diferentes esportes e dos mais variados países do mundo? A ansiedade ao entrar no vestiário antes da estreia? E principalmente representar o seu país no maior evento do mundo?

Talvez inspirado pelo “Pai dos Jogos Olímpicos”, o senhor Pierre de Coubertin, que dizia que “Ganhar não é tão importante quanto participar” eu não pensava em ganhar medalhas ou bater recordes. Meu sonho era fazer parte dessa história. Apesar de como falei eu ser muito competitivo, para mim estar lá já seria uma vitória.

O esporte que escolhi ou que pelo qual fui escolhido é o rugby. E infelizmente, enquanto eu estava na seleção brasileira não passava nem perto a ideia de que um dia o esporte poderia me levar aos jogos. Então, ficava pensando que eu poderia ser mais um daqueles atletas que depois de se aposentar, inicia uma carreira em outro esporte e consegue o feito de ir para as Olimpíadas. Mas isso não passou de imaginação.

Em 2011, vi muitos amigos indo para Guadalajara. Era o inicio do processo do rugby olímpico. Eu já com 33 anos e pelas minhas contas no Rio 2016 eu estaria completando 38 anos. Para mim era muito tarde, pois o rugby 7s, modalidade olímpica, é de muita velocidade e capacidade aeróbica. Raros são os casos de jogadores com mais de 30 anos. Teria que me contentar em apenas assistir.

Agora você consegue imaginar o que foi para mim quando na semana passada recebi uma ligação sendo convidado para acompanhar parte do time e comissão técnica dos All Blacks 7s no Rio de Janeiro?

Além de poder começar a sentir a atmosfera que está se formando na cidade maravilhosa. O fim das reformas na cidade, a construção de algumas estruturas provisórias para os jogos como a arena do volei de praia em Copacabana, a midia e os jornalistas que já cobrem os preparativos. Também pude ter contato com o time mais vitorioso do mundo. Referência no esporte em todos os sentidos.

A seleção de 7s da Nova Zelândia ganhou 12 campeonatos mundias dos 17 disputados. Possuem um percentual de vitórias acima de 80%. Isso significa que precisam em média jogar 2 torneios seguidos para perderem um jogo (cada torneio um time joga em média 6 partidas).

Essa foi a segunda visita da comissão técnica para verificar pessoalmente como estão os preparativos para a tão antecipada volta do rugby aos Jogos Olímpicos. Estar ao lado deles nesse momento, ter sido escolhido para acompanhá-los é motivo de enorme felicidade. Para mim significa muita confiança, pois levam a preparação muito a sério.

Durante o tempo que passamos juntos pudemos conversar e busquei mergulhar um pouco nessa cultura vencedora. Tive a oportunidade de conhecer o famoso Ross Everiss. O “gerente” da seleção neozelandesa que nas palavras do técnico Gordon Tietjens é o “cara mais importante do time”. E por muitos é considerado de fato um dos grandes responsáveis pelo sucesso ao longo dos últimos 13 anos em que ele exerce essa função. Só mesmo num país como a Nova Zelândia, o manager é considerado a pessoa mais importante num time cheio de estrelas. Discutimos sobre a importância de conhecer o que terão pela frente. Gerenciar expectativas e assim diminuir a ansiedade de todos. Mapeando as distâncias e condições dos campos de treinos, poderão planejar detalhadamente os dias em que estarão focados para a competição. E como fiz questão de perguntar se vencer é o mais importante, ele foi enfático ao concordar que o importante é a preparação. Vencer é consequência.

Tive a honra de acompanhar lendas do rugby olímpico como Scott Curry capitão dos All Blacks 7s, que lesionou o ombro no início dessa temporada e está se preparando muito para voltar com tudo nas olimpíadas, e Tim Mikkelson um dos maiores jogadores de todos os tempos. Eleito melhor do mundo em 2013, melhor jogador da Copa do Mundo também em 2013, o jogador da Nova Zelândia que mais fez tries na história e atual capitão na ausência de seu parceiro Scott. Com eles mais uma vez tive a oportunidade de lembrar que apesar de todos os feitos e superlativos são apenas pessoas. Humildes e brincalhões foi como se nos conhecessemos há muito tempo. Dois grandes jogadores, dois grandes líderes, dois grandes seres humanos.

Exemplos como esses mostram que temos ainda muito o que aprender com a cultura do rugby. Tracei como meta da minha vida trazer essa cultura para o Brasil. Para as crianças, para os jovens, para as empresas, enfim para toda a sociedade. Infelizmente não fui um atleta olímpico, mas não tenho mais esse sonho. Meu sonho hoje é muito maior.