Sorte ou Talento?

“O fenômeno começou quando Whindersson tinha 15 anos e resolveu fazer vídeos para postar em seu canal no YouTube”. Assim é o início da biografia de Whindersson Nunes, que além de ser youtuber, canta, toca, atua. Dotado de variados talentos, o nordestino conquistou o Brasil e a internet. Convidado por vários programas de tv para participações e entrevistas, assim como presença requisitada em outros vários canais de sucesso no youtube para fazer aquela parceria. Hoje ele lota casas de espetáculo e teatros Brasil a fora, com sua peça de stand up em que divide suas lembranças e arranca muitas gargalhadas da plateia, falando de sua infância, abordando os conflitos com a mãe e sua trajetória de interiorano que conquistou sua liberdade. Tudo isso da forma mais hilária possível, garantindo gargalhadas da plateia, que sempre esgota os ingressos por onde passa.

O rapaz hoje que fez de seu hobby seu próprio negócio, é sempre alvo de grandes marcas, seja para ganhar brindes, seja para estrelar campanhas. O ator hoje conta com um time de produção, assessoria de publicidade e de imprensa. Whindersson possui até a data de hoje (06/07/2017) o título do canal com maior número de inscritos do Youtube Brasil, nada menos que 21.234.336 de inscritos. O jovem do interior do Piauí possui hoje vídeos que vão de 219 mil até 55 milhões de visualizações, somando mais 800 milhões de visualizações ao todo, é de fato um fenômeno da internet. Com a sua peça também vem se saindo bem, levando mais de 200 mil espectadores aos teatros.

Whindersson é um entre vários casos de sucesso que acontecem em nosso país. Podemos citar outros como Anitta, que fez de sua carreira iniciada no funk hoje estabelecida nacionalmente e inserida aos poucos no mercado internacional, também repleta de parcerias, é nome constante em diversas matérias, programas, sempre convidada e presenteada pelas marcas famosas, além de estampar campanhas e ser patrocinada. Paulo Gustavo, outro grande fenômeno do humor, com mais de 10 anos de carreira, hoje carrega multidões onde passa. Seja na TV, no cinema ou teatro, o ator é recorde de público, sucesso de críticas e líder de audiência.

Sempre quando pessoas estão em evidência, famosas nacionalmente ou não, mas com um reconhecimento considerável e certa notoriedade, é comum associar tais conquistas a sorte. Mas até que ponto a sorte determina a vida, o futuro e a carreira das pessoas? Será mesmo que o talento não é levado em conta, ou não tão em conta?

Não vamos direcionar essas reflexões às chamadas ‘subcelebridades’, ou aqueles que lutam para estar na mídia a qualquer custo, tramando aparições, inventando namoros, relacionamentos, armando flagras, pagando para aparecer em desfiles etc. Vamos falar dessas pessoas que realmente prestam algum serviço, seja entreter, disseminar cultura, divertir, de maneira profissional e que possuem números altamente impressionantes de consumidores de seus serviços.

Existem muitas crenças que permeiam as mentes, e uma delas é responsabilizar a sorte pelo sucesso. Não que isso seja impossível, que nunca exista um fato vindo dela, mas será que todo sucesso parte disso? Por que enfatizar tanto a conquista e deixar de citar o caminho até ela, não é verdade?

Não se procura saber dos esforços das pessoas. Ou pior, quando há essa procura, espera-se que exista uma história de sofrimento, quase uma exigência, um conforto. “Olha onde fulano chegou, mas também sofreu tanto...” esse tipo de pensamento nada mais é que outra crença, limitante e até preconceituosa. Será mesmo que tem que haver sofrimento sempre para justificar as conquistas? Não é que não devam acontecer, mas deveriam ser regras? Por que há tanta empatia ao conhecer a história de grandes empresários e CEO’s ou figuras públicas que vieram da pobreza, passaram dificuldades, sofreram grandes perdas, enfrentaram doenças graves...enquanto aqueles de igual sucesso, mas que não carregam tantas desgraças, são menos mencionados, ou tem suas biografias menos vistas e lembradas. São menos exaltados.

Há uma compaixão, uma empatia com aquele que sofre muito antes de realizar grandes feitos. Ao mesmo tempo, quando pessoas ainda jovens vivem seu sucesso, há uma grande lamentação e tentativa de rebaixar seu potencial, quase uma forma de amenizar a própria frustração por não ter a vida que sonha.

O julgamento antecipado é tão errado que não traz qualquer benefício para nenhum lado. Não se sabe o que realmente se passa na vida do Whindersson, do Paulo Gustavo, Anitta, assim como vários outros. Apenas eles sabem de suas histórias reais, de suas horas de estudo, práticas, ensaios, testes, reprovações. As dificuldades na infância, na juventude, ou mesmo as facilidades que por hora tiveram. Tentativas que falharam, outras que deram muito certo. Mas e aí? Eles têm sorte de estarem onde estão? Ou a “sorte” seria o talento que eles carregam?

É importante entender que sem talento não há efetividade, não há sucesso que dure. Talento é mensurável, impacta de alguma forma. A resposta é imediata. E quando esse talento não é nato (muitos chamam de dom) ele pode ser adquirido, através de esforço e dedicação. Não há regras, contar com a sorte pode ser válido ou pode não ser. Mas arregaçar as mangas é fundamental. A persistência é a chave quando se acredita muito em algo, afinal, os nãos acabam surgindo. Cabe a cada um dar a devida importância àquilo que acredita e quer para sua vida, e tentar de novo, e de novo...e mais uma vez.

Precisamos aprender a facilitar a entrada da sorte em nossa vida, deixar as portas abertas para ela. Não adianta saber que ter contatos é importante e ficar preso em casa, sem interagir com o mundo. Não adianta saber que cursos técnicos, profissionalizantes, de idiomas, graduações ou pós fazem diferença e impulsionam, e não estudar, nem mesmo os cursos gratuitos. É como querer se tornar milionário pela Mega Sena, mas nunca jogar. É contar com uma sorte sem dar chance para ela acontecer.

Assim também é com o talento. Não adianta deter, aperfeiçoar, ser um dos melhores no que faz, e não fazer. Não mostrar o melhor, não apresentar ao mundo, não esgotar as possibilidades e chances. Existe público para todos, e o seu está à espreita, aguardando ansioso para aplaudir de pé pelo seu talento. Que tal tentar a sorte? Arrisque!

por Thales Henrique


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