Sou Mulher, Preta e Periférica
Recentemente li o livro “Quem tem medo de feminismo negro?” da Djamila Ribeiro e fui confrontada com diversas questões sobre gênero, raça e meu papel numa sociedade machista e racista.
É até estranho falar, mas apenas fui ter consciência da minha raça em fevereiro de 2019, quando participei de uma imersão de Aprendizagem Autodirigida organizada por Alex Bretas.
Como parte das atividades, organizei a Caminhada dos Privilégios com outros amigos pretxs. Ocupei o penúltimo lugar no exercício e senti uma dor profunda no coração, uma queimação de embrulhar o estômago!
Que país é esse que me nega oportunidades antes mesmo de eu nascer? Por que tenho que sofrer as consequências de uma sociedade machista, racista, outrofóbica, elitista e intolerante?
Foi uma das experiências mais dolorosas que vivenciei. Me senti tão pequena e injustiçada! Olhava para os lados e me via sozinha e atrasada.
A partir desse momento, decidi me aprofundar nas questões de gênero e raça. Busquei livros, vídeos, artigos e amigos. Fui acolhida por minha rede, fui cuidada e amparada por pessoas que vivenciaram o mesmo processo que estou vivendo.
Decidi secar minhas lágrimas e dar voz a minha dor.
Eu quero ser protagonista da minha história, e não um personagem caricato duma sociedade racista!
Foram 354 anos de escravidão que reverberam até os dias de hoje. O Brasil é um país fundado no racismo, a população negra trabalhou para enriquecer a branca. É triste ver que passaram 131 anos e pouca coisa mudou. Trocaram-se os personagens, mas o roteiro permaneceu.
O que é RACISMO?
Racismo é um sistema de opressão que vai além de ofensas, negando direitos. É o privilegio de um grupo social em detrimento de outro, oferecendo poder e oportunidades.
Como negra, não quero ser objeto de estudo, quero ser o sujeito da pesquisa!
Quero pensar a negritude a partir da perspectiva existencialista, com caráter fundamentalmente político.
Há poder na minha auto-definição. Meu debate político e minha afirmação de negritude são ferramentas potentes para a mudança social. Foram quase quatro séculos de escravidão e medidas institucionais para impedir a mobilidade social da população negra. A luta da negritude é vista como ameaça, um sinal de insubordinação frente a elite machista, racista e opressora.
Contudo, essa luta não é só minha. Minhas conquistas individuais não podem estar descoladas da análise política. Quando uma mulher preta se empodera, ela cria condições para empoderar outras.
Fonte:
Na luta Contra o Racismo e o Patriarcado — Erica Malunguinho
Livro Quem tem medo de feminismo negro? — Djamila Ribeiro
Amanda Costa é estudante de Relações Internacionais, coordena o Grupo de Trabalho sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (GT ODS) na ONG Engajamundo, é membro das redes Global Shapers Community e Youth Climate Leaders (YCL) e empreende o Climathon Brasil, primeiro hackatoon brasileiro focado no combate as mudanças climáticas.
Connecting Ideas, Engaging People, and Creating Innovative Relations based on People-Environment-Health Practices
5 aHoje dando carona para uma amiga preta e empoderada também sofri de ouvir o relato dela sobre como não conseguiu alugar uma casa por puro preconceito de uma imobiliária. A conversa surgiu , por tentarmos amparar e lutar junto com duas outras mulheres pretas , despejadas de suas casas com uma ação de demolição feita à revelia de um acordo e prazo de desocupação combinado... se eu sofro não estando no lugar delas, não consigo imaginar a dor que sentem.. só posso dizer: Estou do teu lado. Vou compartilhar seu texto com elas, pois acho que vc coloca voz em muitas coisas que estão sentindo
O conhecimento muda tudo, a tecnologia é o catalisador dessa mudança, mas, o que faz a diferença, são as pessoas e as relações sustentáveis que desenvolvem entre si, com suas comunidades e o mundo!
5 aSensacional, Amanda Da Cruz Costa! Parabéns pelo artigo e atitude, obrigado por compartilhar!
Advogado
5 aExcelente artigo Amanda! Obrigado por compartilhar