Styling Afetivo

Styling Afetivo

Styling Afetivo

Meu interesse por roupas, vem antes de saber o que era moda. Aprendi com Tia Dirce durante as tardes depois da escola a modelar, riscar, recortar e costurar roupas de linho, muitas delas extraídas da Revista Moda Moldes no final dos anos 80.

Ao som de Roberto Carlos, fazia minha lição de casa, enquanto acreditava que “ajudava” , no ar o inconfundível o cheiro de óleo Singer que lubrificava as engrenagens das máquinas.

Singer foi a marca da minha primeira máquina, que passou por Vovó, pela Tia Dirce e acabou comigo antes mesmo de entrar na faculdade, ela era verde e dei o nome de Jurema em homenagem a marca de ervilhas.

Vó Irva era uma matrona daquelas, criou 10 filhos e muitos netos, entre alimentar toda essa turma ainda costurava. E fez meu uniforme da pré escola, que era basicamente uma camisa xadrez vermelha e branca com um shortinho vermelho.

Diferente de Tia Dirce Dona Irva nunca costurou bem, os botões da camisa nunca encontravam as casas corretamente, e a modelagem do shorts era tão mal feita, que ia se retorcendo enquanto andava a caminho da escola. Chegava com os cabelos impecáveis bezuntados de Gumex, porém tão amassado que parecia que havia dormido dentro de um copo. Minhas fotos podem confirmar.

Era muita gente para alimentar, vestir, e ainda cuidar da casa. Tio Luiz tinha uma confecção, e mandava os retalhos para Vovó costurar colchas de patchwork, pode parecer romântico, todos na familia tinham ao menos uma colcha em casa. O que ningúem nunca discutiu eram os formatos. Nenhuma delas era exatamente um retângulo para cobrir uma cama de solteiro, nem exatamente um xale de sofá, ou tampouco pequenas para enfeite. Talvez Vovó visionária estivesse fazendo criações artísticas que não entendemos até hoje.

Vó Yolanda era uma artista, muito conhecida pelo trabalho impecável de bordados de noivas e cabeças de flores em seda. Tinha um pequeno atelier dentro de casa, onde atendia madrinhas e noivas. Ficava enfeitiçado com os potinhos de vidro cheios de pérolas e contas, foi com ela que aprendi a tingir tecido para fazer as pétalas e flores dos aranjos, dela ganhava muitos presentes, ee mais amava era quando vinha retalhos e um vidro cheio de bugigangas que pra eram verdadeiros tesouros. Ela tocava piano e violino, e aos domingos, assistíamos o “Concurso de Transformistas” no SBT pra ver as produções e os bordados das roupas dos artistas.

Cresci com estas mulheres fortes que foram moldando quem sou hoje, e com elas aprendendo o que seria o inicio do meu grande ofício. Através das roupas, trazer o que as pessoas têm de mais bonito por dentro.

Aprendi que a pessoa que veste a roupa, e não o contrário e falo isso nos meus cursos e stylings, não temos que cobrir, alongar, disfarçar ou emagrecer. O styling afetivo vem para trazer a tona o que cada um têm de melhor, fortalecer e lapidar a estima e confiança de cada um. Ao longo da minha profissão a vida  encaminhou naturalmente com sabedoria para trabalhar com homens e mulheres fortes, normais, alguns famosos e muitos anônimos. Entrando na vida, nas casas e nos closets dessas pessoas para com afeto, usar a moda de forma inclusiva hoje em dia o assunto é muito mais sobre a SUA silueta do que a nova silueta de Balenciaga. E é assim que quero contribuir com o que tenho de melhor para o Mundo. O meu trabalho. Agradeço com amor a todos os clientes que me contrataram ao longo destes 17 anos de São Paulo, advogados que precisaravam fortalecer sua imagem profissional, mulheres que ganharam peso e queriam continuar lindas nos escritórios, pessoas, que terminaram relacionamentos e outras que começaram familias, fiz minha primeira noiva! E com essa galera do bem, do amor que hoje chamo de amigos sigo com meus três principios básicos; Moda, Humor, Amor! obrigado.


Rica Benozzati

@ricabenozzati


 

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