A sua atitude gera o impacto que você espera? Qual é o futuro do trabalho que você deseja?
Com já alguns anos de estrada no mundo do trabalho, posso afirmar que o mesmo mudou, e muito, quando comparo com o cenário que encontro hoje no ambiente corporativo.
No entanto, ainda não é hora de cantar vitória. Quem me acompanha aqui na rede sabe que sou extremamente ativa quanto às pautas referentes aos direitos das mulheres no mercado de trabalho, assim como nossa busca por igualdade. Mas as mulheres não são o único grupo afetado pelo status quo do business, seus ideais ainda conservadores, e as consequências àqueles que “fogem da regra”.
Num levantamento feito pelo LinkedIn em 2019, com mais de mil profissionais da comunidade LGBTQIAP+ e heterossexuais de diversos setores e regiões do país, foi constatado que metade dos primeiros já assumiu sua orientação sexual[1] ou identidade de gênero no trabalho abertamente; outros 25% afirmaram já ter contado a alguns de seus colegas, enquanto os últimos 25% ainda não falaram a ninguém.
Quando analisados apenas os entrevistados heterossexuais, 58% sabem de algum colega de trabalho LGBTQIAP+, independentemente da pessoa ter lhe contado ou de ter descoberto de outra maneira.
Embora ainda não tenhamos atingido o cenário ideal, abraçando toda a diversidade e exercendo mais empatia e inclusão no mercado de trabalho, não devemos esquecer das pequenas vitórias.
Lembro de escutar no passado, por mais de uma vez, que vida profissional e vida pessoal eram coisas separadas e que trazer elementos de um lado para o outro não era aceitável.
Naquele contexto, mais do que hoje, ser um profissional que foge da regra heterossexual era inadmissível. Improvável. Ou seja: ser profissional + membro da Comunidade LGBTQIAP+ era uma equação que resultava num conjunto vazio.
Hoje, sei que sou privilegiada, pois sempre trabalhei em empresas de tecnologia, conhecidas por ter, na inovação, sua engrenagem propulsora. Essas empresas vivem da criatividade e, por consequência, sabemos que se tem uma coisa que gera o surgimento de soluções inéditas, é a diversidade.
Desde que me conheço por profissional, convivi com pessoas dos mais diferentes espectros da comunidade LGBTQ+ mesmo sabendo que isso não era o padrão do mercado.
Ao longo da minha carreira, encontrei gerentes, pares e novos talentos que faziam parte desta comunidade, tendo oportunidade de abrir meus olhos para os diferentes desafios do mundo profissional e pessoal pelos quais eles passaram e ainda passam, desafios esses sobre os quais uma mulher heterossexual como eu nunca tinha pensado antes.
Lembro bem de como esse time diverso permitia um ambiente de trabalho reconhecido por ser aberto e pautado pelo respeito, tendo a inclusão como um dos pilares da cultura organizacional. De uma certa maneira, via que o fato de todos poderem ser, agir, segundo os padrões com os quais se identificam, fazia com que a presença de pessoas LGBTQ+ crescesse, e que a cada dia esses nossos colegas permitiam-se ser quem eram, compartilhando histórias de sua vida com seus colegas, sua rotina e seus planos de futuro, sem medo de julgamentos.
Formávamos uma equipe de alto-desempenho, num excelente clima organizacional, com o apoio mútuo para as longas horas de trabalho. Isso não significa, no entanto, que não há, SEMPRE, espaço para melhora, para mudar de comportamento.
Mas meu maior aprendizado aconteceu quando cometi a maior agressão que tenho consciência.
Um dos executivos de contas do meu time, gay, que sempre trouxe excelentes resultados e acabara de ser promovido para assumir uma carteira de clientes mais estratégicos, convidou-me a acompanhá-lo a sua primeira reunião de diretoria num tradicional banco de varejo.
O compromisso estava agendado para às 8h30 da manhã e portanto combinamos de nos encontrar na recepção do edifício onde ficava o cliente. Cheguei às 8h e não passaram 5 minutos vejo o executivo de conta entrar de terno preto, camisa branca e gravata vermelha. Eu nunca tinha visto-o vestido assim e minha surpresa foi tamanha que eu disse:[3]
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- Você está demais, eu se fosse você vestiria terno todo dia! Vamos subir?
Eu estava tão focada na reunião, que não notei o grande estrago que tinha causado. A apresentação, diferente do que eu esperava, foi mecânica, sem energia, e nem mesmo as incríveis soluções que havíamos desenhado para aquele cliente foram capazes de levantar o ânimo.
Aquele gerente de contas, que sempre foi um profissional que soube ocupar os espaços e vender valor, não passou de um apresentador de slides. Não conseguia acreditar. O que tinha acontecido?
Como faço com todas as reuniões que participo, de volta ao nosso escritório, procuramos uma sala reservada para uma conversa de avaliação sobre o encontro que tínhamos acabado de ter. Comecei logo falando:
- O que aconteceu? Onde estava o gerente de contas confiante e que elaborou as soluções mais inovadoras para o seu cliente? Onde foi parar a sua convicção?
E ele, olhando fixamente para mim respondeu:
"Ele estava sufocado debaixo de um terno preto, uma camisa branca e uma gravata vermelha. Tentando atender a uma expectativa que todos colocam em cima das pessoas para que cumpram com os estereótipos. E você não foi diferente."
Na mistura da decepção dele e do meu estado de choque, conversamos por muito tempo e vi o quanto eu ainda tinha que aprender sobre empatia e individualidade. Através de fatos e situações que esse gerente de contas generosamente dividiu comigo naquela tarde, acordei para o fato que não basta ter um ambiente inclusivo se a mente não é trabalhada intencionalmente para acolher a todos também. Se não buscamos, todos os dias, ir contra nossos preconceitos, questionar nossos padrões e visões quadradas de mundo.
Assumimos um compromisso mútuo: eu ia revisitar minhas falas, meus pensamentos e colocar um foco de atenção em cada uma das pessoas que me cercavam para de fato conseguir aprender os sinais que eu emitia e tentar ler como eles eram recebidos, e ele virou um observador dos meus comportamentos.
Não poderia ter ganho maior presente. Foi certamente quem mais me ajudou a crescer como pessoa e aliada para a causa LGBTQ+.
A lição que carrego comigo é que intenção e impacto estão sempre relacionadas. Uma atitude sem a intenção, não te isenta dos custos do impacto. Ao mesmo tempo, o fato de fazer algo, dizer algo com “boa intenção”, também não te garante um impacto positivo.
Se voltarmos ao começo desse artigo, ao estudo mencionado, teremos o impactante dado de que para 82% dos entrevistados LGBTQ+, ainda falta muito para que as empresas os acolham melhor.
Para concluir, quero compartilhar um aprendizado. Eu me pergunto sempre: qual será o impacto que as minhas atitudes estão de fato gerando. Elas criam um ambiente acolhedor e me levam ao futuro do trabalho onde todos possam ser quem são? E para você, quão colorido é o futuro do trabalho que você projeta?
#ProudAtWork
Senior Sales Consultant End User & Systems Integrator South Brazil | Optimization & Sustainability Challenges | Digital Transformation
3 aAdorei seu artigo! Belas palavras colocadas em um contexto tão importante e inspirador! 😍
Farmacêutica • Coordenadora do GTT de Propaganda e MKT Farmacêutico • Marca Pessoal • Posicionamento • Reestruturação de perfil LinkedIn • Saúde
3 aQue artigo fantástico! Seu texto é inspirador, Ana Claudia Plihal. Gostaria de destacar o trecho "Uma atitude sem a intenção, não te isenta dos custos do impacto." Precisamos trabalhar nossa mente e revisar nossas falas para realmente incluir pessoas. Obrigada por nos agraciar com sua experiência.
Especialista em Negócios Públicos
3 aSua auto-análise é inspiradora! Esse exercício sem dúvida, agrega valor próprio e no outro. Questionar se nossas atitudes estão alinhadas com um propósito de valor, é poderoso! 🦋
SDR Manager for Americas at Claroty
3 aA internet é mágica, justamente porque permite que vozes silenciadas possam exercer seu lugar de fala. Se antes, a possibilidade de um futuro colorido estava nas mãos de quem detinha o poder de comunicação, hoje, as barrinhas da meritocracia engatinham para se equalizar. Nunca antes tivemos uma oportunidade na história, de ser ouvidos com legitimidade como agora. O futuro colorido que eu imagino para o trabalho, é aquele em que todas as vozes, sejam legítimas, independente de sexo, gênero, raça, opção sexual.
Business Director @ Microsoft
3 aQue artigo inspirador