Sustentabilidade: Moda Passageira ou Prioridade Permanente?

Sustentabilidade: Moda Passageira ou Prioridade Permanente?

Em um mundo em que as crises climáticas e os desafios relacionados aos direitos humanos se tornam cada vez mais evidentes, é essencial questionar se a sustentabilidade permanece como uma prioridade ou se corre o risco de se transformar em uma tendência passageira. O recente índice de Transparência da Moda Brasil, lançado pelo Fashion Revolution Brasil, destaca um progresso lento, mas significativo em questões relacionadas à responsabilidade ambiental e social. Porém, é evidente que ainda há um longo caminho a ser percorrido para que a sustentabilidade deixe de ser uma iniciativa isolada e se torne parte integral das estratégias corporativas.

A indústria da moda, frequentemente apontada como uma das mais poluentes do mundo, é uma vitrine dos dilemas enfrentados pelo modelo socioeconômico contemporâneo. Estudos indicam que o setor é responsável por até 8% das emissões globais de gases de efeito estufa, em grande parte devido ao uso de materiais como o poliéster, um derivado do petróleo, e o algodão, cuja produção está associada ao uso intensivo de recursos naturais e práticas trabalhistas frequentemente questionáveis. O índice revela avanços na divulgação de dados sobre emissões de gases de efeito estufa, com marcas ampliando a transparência em suas operações diretas e cadeias de fornecimento. No entanto, esses avanços são insuficientes frente à urgência climática.

As tragédias climáticas recentes reforçam a necessidade de a sustentabilidade ser tratada como uma responsabilidade permanente. No Brasil, os eventos de enchentes, seca extrema e queimadas em 2024 expuseram os impactos devastadores de um modelo de desenvolvimento baseado na exploração descontrolada de recursos. Esses eventos não são apenas alarmantes, mas também um sinal claro de que o compromisso com a sustentabilidade não pode ser apenas uma moda. Da mesma forma, as ondas de calor extremo no Paquistão e México, assim como furacões na Flórida, ilustram que a crise climática é uma realidade global que exige soluções coletivas e integradas.

Entretanto, muitas empresas alegam dificuldades em implementar as metas estabelecidas pela Agenda 2030 e outros acordos globais, citando barreiras financeiras, regulatórias e operacionais. Isso tem resultado em uma retração na formação de comitês de sustentabilidade e na redução da transparência em relação às práticas ambientais e sociais. O índice de Transparência da Moda Brasil aponta que apenas 17% das marcas divulgam a quantidade de resíduos gerados, enquanto nenhuma se comprometeu com o decrescimento da produção, uma medida essencial para reduzir os impactos socioambientais.

Apesar disso, há sinais positivos. O índice também destaca que 68% das marcas reconhecem que a pesquisa impulsionou suas práticas de sustentabilidade, com 72% observando mudanças internas significativas. Isso demonstra que ferramentas como o índice de transparência podem ser catalisadoras de transformação, promovendo maior responsabilidade e compromisso no setor. Além disso, marcas de capital aberto têm demonstrado um nível mais elevado de transparência devido às exigências regulatórias, sugerindo que legislações mais rigorosas podem ser um caminho eficaz para acelerar o progresso.

Em resumo, a sustentabilidade não deve ser vista como uma tendência passageira, mas como uma prioridade fundamental para enfrentar os desafios do nosso tempo. Enquanto avanços estão sendo feitos, a velocidade e a profundidade dessas mudanças são insuficientes diante da urgência climática e das questões de direitos humanos. A continuidade da sustentabilidade como tema central depende da pressão da sociedade civil, da legislação e do compromisso genuíno das empresas em integrar práticas responsáveis em seus modelos de negócio. Caso contrário, o risco é que a sustentabilidade se torne apenas uma moda passageira, incapaz de trazer as mudanças necessárias para garantir um futuro mais justo e equilibrado.

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