A urgência da sustentabilidade na moda
Não há dúvidas de que o aumento da consciência em relação ao consumo vem crescendo nos últimos anos e, principalmente no cenário pandêmico da COVID-19. Há uma reflexão sobre as necessidades, sobre o que é prioridade na lista de compras (deixando de lado o impulso) e sobre o bem-estar. As pessoas estão buscando cada vez mais entender a cadeia de produção dos artigos que compram, desde os alimentos ao vestuário.
A pesquisa "10 Principais Tendências Globais de Consumo 2021", realizada pelo Euromonitor Internacional, aponta que houve um aumento na expectativa dos consumidores em relação às empresas para criarem um mundo mais sustentável, contribuindo para a solução de redução dos danos ambientais, ou seja, para reconstruírem melhor.
No estudo levantado, 73% dos profissionais afirmaram acreditar que as iniciativas de sustentabilidade são essenciais para o sucesso. As empresas precisaram dar prioridade à relevância das ações sociais, participando do desenvolvimento de vida mais sustentável de seus consumidores.
As marcas que se dedicarem a isso, ganharão vantagem competitiva, licença social e confiança da sociedade. As estratégias deverão focar mais nos movimentos com propósito do que apenas no lucro em si, agregando valor aos seus nomes.
Toda essa preocupação tem a maior origem nas mudanças climáticas drásticas e prioridades sociais. A crise sanitária atual teve um impacto profundo, trazendo essas questões de volta à tona na mente dos consumidores, que passaram a se importar mais com o meio ambiente e a saúde.
A indústria têxtil é uma das maiores causadoras do lixo do nosso planeta, em geral, 20% ou 30% do tecido é descartado no processo de produção de apenas uma peça. A poluição dos gases emitidos pelas fábricas representam entre 8% e 10% dos gases responsáveis pelo efeito estufa. Esses gases emitidos vêm do transporte de mercadorias, criação de animais (para fabricação de couro e lã), da demanda energética, do consumo de água e entre outros. Além disso, cerca de 500 mil toneladas de microfibras sintéticas têm seu fim nos oceanos todos os anos, que equivalem a 1 caminhão de lixo por minuto. A contaminação do solo por conta do uso de pesticidas utilizados nas plantações de fibras naturais é outro ponto de extrema atenção.
Esse impacto absurdo está fazendo marcas de moda refletirem sobre quais são seus papéis sociais e quais caminhos desejam seguir. De acordo com a Vogue, a realidade de uma produção mais consciente ainda se reserva a elite, como afirma Angela Luna, uma das fundadoras da Adiff, marca de roupas e acessórios que utiliza materiais que seriam descartados, em entrevista para a matéria.
"Muitas grifes se aproximaram dos conceitos de sustentabilidade e ética para apoiar o movimento. Mas me parece injusto que a maior parte da população não tenha o direito de participar da cultura da moda sustentável por não ter como pagar por ela...Nosso objetivo é achar um jeito de democratizá-la.”
A LVMH, grupo dono das grandes marcas Louis Vuitton, Dior, Fendi, entre outras, foi uma das primeiras a se impor em relação ao movimento e lançou em 2016 o projeto "Life 2020", que tem como objetivo reduzir em até 25% sua pegada de carbono. Para atingir essa meta, foram criadas lojas mais sustentáveis, com energia renovável e entregas sem emissões de gases, com carros elétricos.
E não podemos esquecer da grife e designer que está comprometida com a causa, Stella McCartney. Pioneira no movimento dentro do luxo, ela se posiciona contra o sistema atual de produção e diz que se dependesse dela, não seria assim há muito tempo...
“Se estamos a queimar o equivalente a um caminhão de roupas a cada segundo que passa ou a usá-las como aterro, não há nada de atraente nisso… Acho que, no final do dia, estamos todos a viver neste planeta, juntos, e precisamos de sobreviver, sabe? Esta indústria é muito nociva, mas não tem que ser assim” afirma em entrevista à BBC, em 2017.
Já em uma conversa para a Forbes, a embaixadora do Pacto Global da ONU de incentivo a empresas para a adoção de políticas de responsabilidade social e sustentabilidade e fundadora do Ecoera, um movimento de consciência ambiental focado em moda, beleza, design e gastronomia, Chiara Gadaleta, afirma que a sustentabilidade nunca foi uma tendência, mas sim uma necessidade de transparência por parte das marcas - escancarada pela crise atual - que terão de lidar com consumidores mais conscientes, inclusivos e diversos. Ela avalia que as políticas industriais de diminuição de resíduos e emissão de carbono vão fazer uma diferença no ato de compra e na posição ética nas condições de trabalho, reforçando a fala anterior de Angela Luna sobre a iniciativa do setor como um todo.
“É importante dizer que não se trata da iniciativa de apenas uma ou outra empresa, e sim de um esforço de todo o setor.” afirma Gadaleta.
Para os consumidores, independente da pandemia, é preciso que as empresas atuem com propósito e responsabilidade ambiental, social e ética. Está nítido a gravidade da nossa cadeia e prática de consumo atuais, o quanto nosso planeta está sendo afetado diariamente e agressivamente pela estratégia irresponsável com o meio ambiente e a nossa saúde.
Visando essa mudança, em agosto de 2020, 14 executivos sêniores da Danone, Philips, L’Oréal, Mastercard, entre outras organizações, criaram uma entidade sem fins lucrativos, a Leaders on Purpose, propondo um roteiro 14,5% econômico para reconstruir melhor. A meta é reunir cada vez mais empresas a fim de fazerem a diferença e contornar essa situação.
Referências:
Stella McCartney Shoots Her Fall 2017 Campaign in a Landfill
Moda e sustentabilidade: um encontro inevitável
Grifes buscam sustentabilidade
Moda e sustentabilidade: um futuro com passado
Redefinindo a moda sustentável em 2021: as novas prioridades da indústria
10 Principais Tendências Globais de Consumo 2021
Conheça os impactos da indústria têxtil no meio ambiente.
Lixo têxtil desperdiçado por segundo
Stylist
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