SXSW 2024: humanos ao centro, superciclo tecnológico e olhar em 2050!
O SXSW terminou neste último sábado, com as últimas apresentações do festival de música, cinema e TV. Já a conferência, formada por palestras, workshops e seminários teve seu encerramento na sexta-feira.
Texto de Douglas Miquelof
Aos frequentadores mais assíduos e de longa data, os relatos são que as edições do South by Southwest sempre mudam de um ano para outro. Os lugares e formatos podem até serem os mesmos, mas as mensagens mudam e evoluem com a mesma velocidade que a tecnologia avança, impulsionada pela inovação e que tem desdobramentos nas mais diversas áreas dos negócios para as empresas e na jornada de consumo e comportamento das pessoas.
Fazer um resumo, deste que é um dos maiores encontros mundiais, sobre inovação, tecnologia e transformação, com mais de 25 trilhas de conhecimento, é quase impossível. Mas sinalizar as tendências provenientes de informações, mensagens, notícias e dados, que se repetiram ao longo dos dias do evento nas mais diversas apresentações e debates espalhadas entre o Austin Convention Center, os hotéis Hilton, JW Marriot, Fairmont, entre outras instalações como, por exemplo, as ativações de entidades e governos, como a Casa São Paulo do Governo do Estado de São Paulo, Governo do Canadá, da Alemanha, entre outras e, claro, das marcas, como Porsche, Prime, Audible, Itaú, Dell, Delta, entre outras, podemos arriscar e fechar um panorama de macrotendências para esta edição de 2024.
Dentro das linhas de maior repetição e suas conexões, os pilares das tendências em Austin passa por três pontos principais em seu conteúdo, que são transversais para todas as trilhas, que reflete um pouco sobre como o posicionamento do evento que vem evoluindo ao longo do tempo, na pegada “Menos ‘tech’ mais ‘touch”. São eles:
1) Humanidades: pessoas ao centro
O ser humano foi o principal ponto de partida da grande maioria dos conteúdos apresentados. As pessoas ao centro foi o assunto que mais permeou as várias discussões ao longo dos dias no SXSW. Tudo parte de algo que visa contribuir, solucionar, facilitar ou arrumar algo no cotidiano das pessoas, seja na vida pessoal ou profissional. E, claro, com muita transparência nos impactos, como desde a automação que vai eliminar postos de trabalho, que ao mesmo tempo aumenta a produtividade nas empresas para produtos e serviços mais baratos, passando pela educação que irá recapacitar essas pessoas que perderam seus empregos para novas funções e atividades profissionais, conectadas com pesquisas sobre senioridade e vida além dos cem anos, com tecnologias que buscam uma vida com mais qualidade, equilíbrio e saúde mental, chegando até os tratamentos mais avançados para a cura de doenças com uso de técnicas que exploram decodificação genética, tratamentos com psicodélicos, uso de chips no cérebro ou tecidos dos mais variados órgãos produzidos a partir de celular tronco em laboratório. Muito distante das suas origens na trilha do Interative, onde o foco era a tecnologia, criatividade e inovação ao centro para o ‘South by’, agora as discussões possuem camadas interessantíssimas sobre questões que impactam a humanidade. Tecnologia e inovação estão cada vez mais como pano de fundo e sendo tratadas, muitas vezes, como commodities ou apenas a ponte ou via de acesso que conectam pessoas, empresas e governos, sendo sua resultante as experiências, aprendizados e transformações proveniente destas relações.
Claro que a reboque, já que as pessoas estão ao centro, questões ligadas a ética, inclusão, diversidade, sustentabilidade e meio ambiente, trabalho e renda, saúde física e mental, apareceram com alta relevância e frequência nos discursos dos mais importantes palestrantes, além de debates em painéis que impulsionaram estes pontos da perspectiva onde tecnologia e inovação são, mais uma vez, meios que podem contribuir para a evolução necessária da nossa conduta como sociedade, inclusive amadurecendo e reparando vieses da nossa história, pois sem isso, não conseguiremos evoluir. Precisamos levar para dentro da tecnologia os atuais parâmetros, mais adequados para a realidade do nosso presente e o futuro que nos aguarda em breve.
2) Superciclo tecnológico: somatória da Biotecnologia (BioTec) com Inteligência Artificial Generativa (AIG) e Internet das Coisas (IoT).
Entre os conteúdos ligados ao futurismo, inovação e impactos na vida em sociedade, que ajudam a pautar discussões e decisões de negócios na atualidade, ficou claro que estamos chegando em um momento de aceleração de mudanças ‘hipersônica’, classificada por Amy Webb, uma das palestrantes mais assíduas e a sensação do evento nos últimos anos, devido a divulgação do seu relatório anual de tendências sempre no SXSW, produzido pela sua empresa Future Today Institute, como ‘Superciclo Tecnológico’.
“Nós nunca vivemos esta junção e evolução de três movimentos tecnológicos combinados até então”, afirmou Webb. Na história, desde a revolução industrial, a humanidade havia presenciado apenas movimentos únicos e com velocidade que até então nossa mente e corpo podiam acompanhar dentro dos parâmetros fisiológicos que temos registrado como padrão até aqui. Nesta nova era, as mudanças serão mais agressivas, pois a integração de biotecnologia, inteligência artificial generativa e internet das coisas fará com que avancemos para outro nível de consciência humana, mas logo falaremos sobre.
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Claro que além destas tecnologias em destaque, que serão responsáveis por movimentar as transformações, elas não andam sozinhas. A evolução do processamento quântico por superchips, novos formatos de armazenamentos de dados e informações descentralizadas por sistemas como blockchain, machine learning, realidade imersiva, entre outras, serão potencializadas e combinadas neste processo, tanto que Amy Webb cunhou que a estamos entrando em uma nova geração, a Geração T, de transição.
Outro ponto que ela chama atenção é sobre a centralização deste poder tecnológico, pois como vemos em muitos filmes que se passam no futuro, com o acesso regulado pelo mercado, que irá cobrar seu preço, pode acontecer que a desigualdade entre os humanos se acentue. Claro que a visão sobre o assunto tem sempre uma abordagem mais positiva e que o impacto deste movimento promoverá melhorias para a sociedade, mas como são ferramentas, estudos e dispositivos produzidos por empresas privadas em sua grande maioria e, que muitas vezes, estão dentro de grandes grupos econômicos, existe sim o risco da eletrização deste movimento.
Já na visão do pesquisador e escritor sobre futuro Neil Redding, em breve viveremos na coexistência entre máquinas e humanos. A proposta de Redding é que em poucos anos, como a realidade não é objetiva, ela poderá ser cocriada entre humanos e as tecnologias disponíveis para resolver os problemas do dia a dia, oferecendo maior capacidade criativa e qualidade de vida para as pessoas, de forma conectada, preditiva e inteligente. Ele conceitua a proposta usando o termo ‘computação espacial’, onde o ambiente físico será integrado com realidades imersivas, promovendo um novo espectro de realidade, um nível mais avançado, que impactará a forma como a sociedade se comporta, se organiza e consome.
Em uma conversa exclusiva com Neil Redding, do qual participei com um grupo reduzido de brasileiros, promovido pela consultoria White Rabbit, parceira da Compasso Coolab, mais uma vez o ponto sobre viesses foi levantado. Todos concordaram que este é um gargalo da maioria das ferramentas disponíveis, uma vez que elas buscam referências da história registrada, onde muitos pontos, como o racismo, por exemplo, precisam ter o devido tratamento, visto o fato que a sociedade praticou atrocidades em vários setores da humanidade e que, infelizmente, influenciam os resultados das máquinas e precisam de uma curadoria muito mais assídua, apurada e alimentação de histórias do presente para que haja a evolução do consciência dos algoritmos e assim evitarmos novos viesses.
3) Futurologia 2050: o novo estado da consciência humana
Falar de 2050 pode parecer longe, mas faltam pouco mais de vinte e cinco anos. Neste quarto de século, as previsões são de mudanças profundas e acentuadas. Seguindo relatos e usando exemplos, alguns até antigos, como a Lei de Moore de 1965, que previa que o poder de processamento dobraria de velocidade a cada dois anos, os relatos da junção do Superciclo Tecnológico como cunhado por Amy Webb superará qualquer previsão.
Neste mesmo sentido segue Ray Kurzweil, um dos maiores especialistas na área de inovação tecnologia, ele é um dos pioneiros nos campos de reconhecimento ótico de caracteres, síntese de voz, reconhecimento de fala e teclados eletrônicos, além de autor de livros sobre saúde, inteligência artificial, transumanismo, singularidade tecnológica e futurologia. Durante o papo que ele teve com o jornalista Nick Thompson sobre seu novo livro “The Singularity is Nearer”, que ainda será publicado, ele enfatiza o potencial dos avanços da biotecnologia com as demais tecnologias e que para 2045 seremos capazes de conectar nossos cérebros diretamente na nuvem.
Seguindo a linha deste conteúdo, em pouco tempo, viveremos em um mundo onde todas as coisas estarão de fato conectadas. Todas as coisas, e isso inclui serviços. O mundo físico será replicado no mundo virtual, promovendo alto índices de monitoramento, controle e otimização. Com o uso de novos dispositivos integrados aos nossos corpos, teremos uma extensão entre o mundo real com camadas de realidade imersiva. A holografia, tecnologia que simula a presença de pessoas, deverá representar um campo de avanço integrado com realidade virtual e aumentada, criando reproduções perfeitas de qualquer ambiente. Literalmente é viajar ou trabalhar sem sair de casa, mas com a capacidade de interagir com outras pessoas, que também estão vivenciando este ambiente virtual, tornado a experiencia realística, como se todos estivessem juntos fisicamente.
Agora, se ajeite na cadeira, pois essa evolução vai continuar e se integrar com a biologia em nível exponenciais, jamais vistos. Por exemplo, já está em desenvolvimento o biocomputador. Ele foi criado a partir da combinação de um tecido cerebral humano cultivado em laboratório com circuitos eletrônicos. Esta combinação está sendo inclusive testada usando ferramentas de machine learning, inteligência artificial e conectividade. O potencial desta tecnologia deve levar para o futuro de 2050 uma série de dilemas, só visto em filmes de ficção científica, como Matrix, por exemplo, filme inclusive citado por Scott Galoway, autor, empreendedor, apresentador e professor da Universidade de Nova York em sua palestra, contrapondo o pensamento lógico desta referência, para falar que o Metaverso ou demais mundos virtuais não seja tão Matriz assim, mas algo parecido com o que acontece no filme Her de 2013.
Ampliando o conceito de expansão da consciência em um grau maior, imagine você que estamos a frente da possibilidade da criação de super-humanos e da vida eterna, vivendo entre o mundo real e virtual, pois dado os avanços do Superciclo Tecnológico, estamos falando em criar uma ‘nova consciência’, onde o corpo que conhecemos hoje, deverá se transformar e integrador como uma nova ‘máquina biológica’, com capacidade de armazenar e transferir informações, conhecimentos e experiências, além de processá-las com altíssima velocidade. Pense que poderemos vivenciar também, a possibilidade de comprar conhecimento e fazer o upload para nosso cérebro e, ao mesmo tempo, uma vez nosso corpo envelhecer, poderemos copiar nosso cérebro para reinstalar em um novo corpo. Em última escala, podemos pensar que em certo ponto, nossa consciência será totalmente alocada em um novo ‘mundo virtual’, do qual vamos habitar como espíritos, desprendidos da matéria orgânica, como se fossemos seres de luz e energia, para a vida eterna.
Se tudo isso irá acontecer como premeditado pelos especialistas, estudos e experiências, só a história irá contar. O importante é entender que vários destes movimentos estão em estágio avançando de desenvolvimento e impactarão a forma com ao sociedade se organiza, consome e interage, levando mais complexidade para os negócios e empresas. Claro que precisaremos passar por uma série de complexidades que envolvem aspectos legais, morais, éticos, regulações e tudo mais necessário para que essas novas descobertas tenham o acompanhamento necessário para que tudo fique bem.
Publicitário | Estrategista de Marketing | Especialista Planejamento Negócios Digitais Inovação | Mestre em Comunicação | Prof Mkt USP ESALQ IED | Vendedor de Ideias | Desenvolvedor Novos Negócios | Apaixonado por Flores
9 mBelo, belo, resumo Douglas Miquelof, obrigado pela brilhante cobertura e por dividir esses preciosos insights.