Tarde Demais para Desistir

Tarde Demais para Desistir

O volleyball masculino do Brasil conseguiu no Rio de janeiro a façanha da terceira medalha de ouro olímpica. O time de Bernardinho ganhou por 3 sets à 0 da invicta seleção da Itália, contra quem, inclusive, o Brasil havia perdido na etapa inicial da competição, chegando, assim, ao topo do ranking mais uma vez.

Finalizado o triunfo inédito veio à premiação do melhor jogador da competição (MVP) e, ao contrário do que, talvez, se imaginasse, pois normalmente a expectativa é que a distinção vá para um atacante, o prêmio foi dado ao líbero Sérgio Dutra Santos, o Serginho.

Paranaense de Diamante do Norte, 40 anos, casado, pai de 3 filhos, Serginho já havia sido eleito em 2009 o melhor jogador da Liga Mundial. Terminada a olimpíada de Londres, o líbero resolveu se aposentar, mas foi convencido pelo técnico Bernardinho a fazer parte da equipe que disputaria as olimpíadas do Rio. Desafio aceito, mesmo com a idade avançada para um jogador de volleyball, Serginho se constituiu no grande nome da conquista do tricampeonato.

Durante muitos anos alimentei, tolamente, a ideia de que precisava ter sucesso antes dos 40 anos. Na time line da minha carreira profissional, dos 40 aos 50 eu deveria consolidar minhas conquistas e, depois dos 50, talvez até os 60, experimentaria a estação outonal de todo executivo até ter de lidar com o momento da aposentadoria.

Na verdade, essa questão parece habitar o inconsciente coletivo empresarial, existe uma espécie de mito introjetado na mente dos trabalhadores de que, depois dos 40 anos, tudo fica mais difícil, as pessoas não são mais contratáveis, as empresas perdem o interesse por gente “velha”. Por isso é tão comum você encontrar profissionais que se tornaram empresários depois dos 40 anos, muitos deles devido ao fato de se verem sem alternativas no mercado para continuarem suas carreiras, até então, bem sucedidas.

Qual é, portanto, a fenomenologia por trás desta questão? Uma análise simplista da história humana recente pode nos dar algumas pistas. Como sabemos, houve uma abrupta mudança do mundo agrícola da idade média para o mundo industrial da idade moderna. Esta quebra socioeconômica provocou uma grande revolução na relação trabalhista de milhões de pessoas em todo o planeta. A demanda por novas profissões fez com que a atividade produtiva das cidades fosse afetada positivamente, gerando enormes oportunidades para a criação de negócios e empresas.

Não obstante isso, mesmo com a tecnologia empregada às máquinas tendo evoluído substancialmente, a ciência médica ainda não conseguia acompanhar tais avanços. Para termos uma ideia, na Alemanha do século XIX, a expectativa de vida de uma pessoa não passava dos 37,2 anos. Só a partir da segunda metade deste século, com as descobertas do francês Louis Pasteur, que comprovou que a maior parte das mortes estava ligada a questões de higiene pessoal, foi que o quadro começou a ser revertido.

Ora, vidas mais curtas determinavam, também, carreiras mais curtas. A necessidade de se fazer sucesso precocemente era quase que um determinante existencial, ninguém imaginava começar algo com a possibilidade de sucesso após os 30 anos de idade. O tempo passou e o mito sedimentou-se, porém, muito mais do que um fenômeno sociológico, estamos diante de um paradigma psicológico.

Hoje, com o aumento da expectativa de vida das pessoas que, no Brasil, está na faixa dos 72 anos, é uma grande tolice imaginar que profissionais na faixa dos 50 anos em diante estão fadados ao desemprego ou a ser empurrados, irreversivelmente, para o empreendedorismo, às vezes, sem qualquer vocação para tal. Muitas iniciativas empresariais revelam o que estou afirmando, ou seja, pessoas atingido o melhor estágio de suas carreiras em idade considerada por muitos como longeva.

Ray Kroc, um vendedor de máquinas de Milk-Shake, criou a cadeia de lojas fast food McDonald´s aos 52 anos. John Pemberton, um médico com especialização em farmácia, criou a marca mais famosa do mundo, a Coca Cola, com 55 anos. O sueco Niklas Zennsrom, então com 37 anos, criou o insuperável serviço de comunicação telefônica via internet, o Skype, e Jan Koum e Brian Acton, aos 35 e 37 anos, respectivamente, criaram o serviço WhatsApp e o venderam ao Facebook por US$ 16,0 bilhões.

Eu penso que o técnico Bernardinho estava certo quando convocou o Serginho e o desafiou a superar seus limites e, quem sabe, o mito dos “40 anos”. O resultado está aí: a consagração absoluta da seleção de volley masculino com mais uma medalha de ouro. Profissionais maduros contrabalançam a impetuosidade dos jovens saídos das universidades, com toda sua experiência, acham caminhos alternativos para problemas complexos, são mais ponderados na avaliação de riscos, conseguem planejar com maior amplitude situações que muitos, sequer, sabiam existir.

No mundo contemporâneo, não há mais limite de idade para se obter sucesso profissional. Manter este paradigma dentro de uma organização é um grande retrocesso diante dos incontáveis cases de sucesso que temos testemunhado. Se você já passou dos 40 anos e está preocupado com sua empregabilidade, meu conselho é que se concentre em fazer o melhor na sua profissão, pois, como aprendi na minha carreira, quem tem competência se estabelece. No mais, como diz o cancioneiro popular, “Panela velha é que faz comida boa!”.

Carlos Moreira
Executivo do segmento de Tecnologia da Informação & Negócios, tem formação em Análise de Sistemas pela Universidade Católica de Pernambuco e pós-graduação em marketing de serviços. Bacharel em Filosofia pela Universidade do Sul de Santa Catarina, é também conferencista, escritor e Sócio - Diretor da Level Group.

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