Tem que ser tão solitário no topo?

A posição de CEO é frequentemente descrita como emocionante, gratificante, difícil, estressante e desafiadora. Solitária não costuma estar nessa lista, mas, vamos encarar, poderia muito bem-estar. A solidão é um sentimento real, e vai com o trabalho, afetando a maioria dos líderes mais cedo ou mais tarde. De fato, muitos CEOs são atormentados por sentimentos de isolamento quando assumem o cargo principal.

Sem ser tratada, a solidão pode acabar com sua confiança e autoeficácia. Pode trazer ansiedade, até depressão, e geralmente compromete seu julgamento e desempenho. Empreendedores e CEOs iniciantes são especialmente vulneráveis a sentimentos de isolamento, sem falar nas executivas femininas tão exclusivamente suscetíveis. Compreensivelmente, trilhas ardentes e tetos de vidro quebrados, para elas, vêm com seu próprio conjunto de desafios e emoções, especialmente a solidão.

Você pode gerenciar esse sentimento

Procurar entender, por que pode ser tão solitário no topo, é o primeiro passo para encontrar maneiras de gerenciar esses sentimentos e até evitá-los completamente.

Convenhamos, a dinâmica de relacionamento muda quando você é um CEO. Família e amigos próximos podem, de repente, se afastar, sem saber como lidar com seu papel elevado. Ex-colegas e colegas de trabalho, agora seus funcionários diretos, podem não saber mais como se relacionar com você. Como chefe, você não é mais "um deles".

Há alguma verdade nisso. Você pode ser amigável com seus funcionários, mas não pode ser seu amigo. Isso criaria favoritismo, provocaria políticas disfuncionais e provavelmente prejudicaria sua liderança. E tem mais, ‘CEO’ depois do seu nome pode minar sua confiança nas pessoas. O funcionário que acabou de te trazer sua bebida de café favorita está sendo atencioso ou querendo alguma coisa?

Ao tomar decisões, um CEO solicita a contribuição de sua equipe, conselheiros, membros do conselho, clientes e outros. Desses grupos - você espera – que irão apoiá-lo, mas é seu nome na decisão. É solitário porque só você decide.

Se você sabe que as consequências de sua decisão serão dolorosas — como quando tiver que fazer uma redução no quadro de funcionários — a solidão pode se tornar aguda.

O mesmo acontece quando considerações legais ou estratégicas o impedem de explicar completamente sua decisão. Você pode ter que manter sentimentos pessoais para si mesmo, não mostrando nenhuma rachadura em sua armadura.

Crises testam qualquer CEO. Toda crise lhe chama, direta e pessoalmente. Uma crise crítica pode desgastar e isolar até mesmo o executivo mais forte. Em pontos tão baixos, você pode ser tentado a fingir, ou simplesmente ignorar a realidade. Essas táticas podem aliviar momentaneamente a solidão, mas acabam por sabotar o sucesso.

Todas essas causas de solidão dos líderes podem ser combatidas pela construção da resiliência pessoal. Veja algumas ideias:

Cultivar conexão. A cura soberana para a solidão está fazendo conexões necessárias. Você precisa de uma gama de grupos e indivíduos com quem você pode falar. Basta escolher essas pessoas cuidadosamente e interagir com elas com cuidado.

Equipe de Liderança. Sua equipe de liderança é seu círculo íntimo. Mas não deixe o círculo se tornar uma bolha. Um círculo amplia sua eficácia como líder, aproveitando sua conectividade de liderança. Uma bolha isola você e sua equipe do resto da empresa e, finalmente, da realidade lá fora. Vocês começam a respirar o escapamento um do outro. A solidão se torna coletiva, e quando isso acontecer, você e sua equipe se encontrarão em um novo nível de isolamento.

Grupos de pares. Particularmente, proponho se juntar a um grupo da VISTAGE. Receberá ótimos conselhos e considerável conforto dosesse grupo e, irá descobrir que todos que dele participam, enfrentam muitos dos mesmos desafios. É como se fosse seu próprio conselho consultivo "silencioso" de pares. São pessoas que vivem a sua realidade e se preocupam com o seu sucesso. Eles dirão o que você precisa ouvir, não o que você quer ouvir. Eles conhecem seus pontos fortes e fracos, e você estará feliz por ser assim, porque confia neles implicitamente.

Otimismo pragmático. Um viés de ação requer um viés para o otimismo. Isso não deve ser confundido com falsa esperança. Quando fundamentado na realidade, o otimismo é um poderoso ativo de liderança. Os otimistas acreditam na viabilidade de criar um estado futuro melhor do que o estado atual. O otimismo, portanto, é voltado e orientado para o futuro e inerentemente estratégico. Embora o pessimismo possa parecer realista, isso te obriga a pensar sobre o que você não pode fazer em vez do que é possível.

Humildade. Como CEO, muitas vezes você acredita que precisa ter todas as respostas. Desta forma, irá confundir humildade com falta de confiança. Na verdade, os melhores líderes têm uma visão realista de seus pontos fortes e fracos. Eles estão seguros em saber que não sabem tudo, e não têm problemas em pedir ajuda, aprender com os outros e se desculpar por seus erros. Esse grau de confiança e mente aberta atrai as pessoas, criando uma cultura de inclusividade e colaboração.

Trabalho e Família. Desmistifique o mito do equilíbrio trabalho/vida. Dê 100% ao trabalho. Dê 100% à família. Não é uma questão de gerenciar seus recursos. É sobre gerenciar seu tempo.

Repense "Seu Tempo". Desistir de alcançar o equilíbrio trabalho/vida pode não ser a melhor decisão a ser tomada. Buscá-lo o ajuda a encontrar ou mesmo criar momentos de equilíbrio no seu dia, todos os dias. Agende tempo consigo mesmo. Considere 10 minutos para tomar um ar fresco e respirar profundamente. Redefina "seu tempo" como "tempo significativo" e descubra que o significado é mais gratificante e rejuvenescedor do que você.

Gratidão. Promover uma cultura de trabalho baseada em valores facilita a conexão com sua equipe e outras partes interessadas. Celebre os sucessos e marcos de seus funcionários. Expressar sua gratidão por suas contribuições cultiva conexão e reduz o isolamento executivo. Inicie um programa de mentores para seus próprios funcionários — e inscreva-se também. Pode até te dar novas ideias de negócios.

Como escreveu o teólogo Paul Tillich (1886-1965): "A solidão expressa a dor de estar sozinho enquanto a solidão expressa a glória de estar sozinho."

(Dois livros desse autor que me impressionaram muito, e recomendo a leitura, foram “The New Being” e “The Shaking of the Foundations”)

Não precisa ser tão solitário no topo.

Enfim, à medida que os CEOs crescem, tanto na experiência quanto no papel, eles aprendem a olhar para o isolamento da liderança e, assim, expandir sua tomada de decisão e criatividade. Gerenciar seu tempo, armar-se com otimismo e humildade, e criar uma infraestrutura de conexão entre diferentes grupos confiáveis, transforma o isolamento incapacitante em uma liderança confiante.