TEMPOS DE CRISE DEMANDAM DOSES CAVALARES DE AUTOCONHECIMENTO

Estamos encarando uma nova rotina de trabalho e vejo muita gente compartilhando “receitas mágicas” para se adaptar a isso. Me desculpem, mas não acredito em receita pronta para essa situação. Cada ser humano tem suas particularidades (uns com filhos em casa, outros cuidando de idosos, outros vivem sozinhos e com histórico de depressão, etc), formas diversas de encarar o fato novo e tempos diferentes de resposta a tudo o que vem acontecendo.

Como manter o foco, produtividade e equilíbrio emocional? Perdeu-se o “horário comercial”. De casa a sensação é de que estamos trabalhando 24h, seja segunda, domingo, qualquer dia. Perdemos a referência de início e fim de jornada. E como lidar com isso?

Pra mim, é hora de buscarmos principalmente nos autoconhecer profundamente, para gerenciarmos o “eu” da melhor forma possível. Reconhecer nossas fraquezas e limites, reconhecer que o próximo também está encarando um “fato novo”. É preciso ter empatia e respeitar a forma e tempo de cada um para que todos saiam bem dessa tormenta.

Na prática, no como “não fazer”, compartilho um dos primeiros aprendizados desses dias de trabalho de casa: logo que estabelecemos o home office, solicitei ao meu time que incluíssem na minha agenda as reuniões que eles fariam, para que eu pudesse participar delas remotamente. Em 2 dias deste exercício, ficou claro pra mim o erro que eu estava cometendo. Nada mais era do que uma insegurança besta e tentativa frustrada de manter controle. Se eu não participo presencialmente das reuniões quando estou sentado ao lado deles, por que deveria fazer isso agora? O que mudou? Apenas o espaço físico? Era o meu “eu” disparando um gatilho de insegurança por simplesmente viver um cenário novo. De imediato, voltei atrás, saí da agenda de todos e busquei me equilibrar novamente. Precisamos ter autocontrole e empatia, a situação não está nada fácil para todos. Cada um na sua forma e no seu tempo saberá se adaptar à nova situação.

É natural tomarmos decisões “impensadas” diante de fatos novos e ameaçadores, mas o quanto antes identificarmos essas derrapadas da mente, maior será o nosso sucesso em manter o controle emocional e menor serão os impactos futuros no resultado do que almejamos.

Portanto, se existe receita para lidar com tudo isso não sei, mas diria que certamente todo mundo vai precisar de doses cavalares de autoconhecimento para sair dessa com agilidade e mais forte do que entrou.

Por fim, deixo uma última reflexão: "as espécies que sobrevivem não são as espécies mais fortes, nem as mais inteligentes, e sim aquelas que se adaptam melhor às mudanças". A frase soa bem, mas não é de Darwin, embora tenha sido atribuída a ele. No entanto, está gravada em uma placa de mármore do átrio da Academia de Ciências da Califórnia e figura atualmente em uma exposição dedicada à Paleontologia na Cidade das Ciências de Paris.