Tenile, Arquitetura Para Todos: O fracasso da arquitetura no Brasil.

Tenile, Arquitetura Para Todos: O fracasso da arquitetura no Brasil.

Andei lendo sobre esse tema e após refletir muito sobre isso, cheguei a algumas conclusões.

Quando me formei quase não havia cursos de arquitetura na minha região, os trabalhos não eram divulgados em redes sociais era um cenário muito diferente do que é hoje. Mas o que será que mudou? E será que mudou para melhor? Na minha humilde opinião a arquitetura deu um boom, mas entrou em um viés equivocado é que dificilmente será revertido. 90% das pessoas que me procuram, dizendo como amam a arquitetura e que querem seguir essa carreira, já chegam até mim deduzidas pela ideia de que é possível criar ambientes lindos, luxuosos, já amarradas a essa concepção limitada de que arquitetura se resume a uma sala decorada, igual a postagem do Instagram.

A arquitetura é muito mais que isso, uma profissão profunda e complexa que no Brasil de forma geral não é valorizada. Em mais de uma década de atuação e posso dizer que pelo menos comigo, rapidamente eu vi o público se transformar, 80% do público não quer contratar a arquitetura e sim um desenho, que ele mesmo traçou, mas precisa que esteja completo e entendível e com isso vem o ato simples de uma assinatura, sim, a maior parte do público hoje quer a assinatura necessária para a aprovação e como consequência trata o arquiteto como um atravessador pois se não fosse obrigado a contrata-lo, jamais iria de fato.

As casas viraram Frankenstein fornecidos pelo Google, onde, uma parte foi tirada dali outra daqui o resultado dessa criação envaidece o criador que se aventura no “autoprojeto” e dá espaço para uma frase que eu ouço muito: eu já sabia tudo que eu queria! Quando a frase deveria ser eu já sabia tudo que eu necessitava. A casa se tornou um produto, as pessoas estão comprando ideias como se fossem regras, vou dar um exemplo prático, é comum ter duas cozinhas em casas onde nenhum dos habitantes sabe cozinhar, uma dentro é uma fora, ambas inteiras, equipadas com tudo do bom e do melhor, ambas com coifas caríssimas porque esse item não “pode” faltar. A cozinha interna servirá para tomar água e esquentar um leite no micro-ondas, mas de algum modo isso passou a fazer tanto sentido que para uma grande parcela da população, virou quase uma regra, e quando o arquiteto tenta mostrar para o cliente que ele talvez não necessite daquilo, o arquiteto passa a ser um vilão, pois está matando o sonho de consumo de um cliente que nunca parou para se colocar em primeiro lugar nessa história.

A funcionalidade é outro conceito que eu aboli! Funcional significa que serve a que, que tem um propósito, nem os conceitos tão bem estruturados da ergonomia é capaz de englobar todos os indivíduos existentes, como supor que exista uma funcionalidade de rebanho sem que a funcionalidade perca seu propósito? As pessoas estão se amarrando a regras que não servem a elas, mas que são amplamente divulgadas como funcionais, e mais uma vez voltamos à estaca a zero do pré-concebido, que o cliente em sua particularidade não necessita, mas fizeram ele acreditar que sim! Sabe aquele espanador de pó elétrico que você vê na propaganda e compra achando que vai mudar a sua vida e descobre que não serve pra nada? Pois bem, a casa como um todo está sendo baseada nesse mesmo conceito, só que diferente do espanador que custou 100 reais a casa custou meio milhão e não pode ser abandonada em uma gaveta e a casa acabará desvalorizada e vendida.

Tive poucos clientes até hoje que me permitiram fazer o meu trabalho, a esses poucos, o resultado apareceu o ambiente se tornou único e o cliente satisfeito agradeceu!

Aos que tiveram experiências não satisfatórias com a arquitetura convido aqui a refletir; será que você se permitiu ser premiado por um projeto que te colocasse em primeiro plano, confiou no profissional que tentou te alertar que as coisas podiam ser diferentes, ou sua experiência não rendeu os frutos que era esperado porque a armadilha do “ter” lhe amarrou a um padrão que era um no fundo somente um simples desejo?

Será que o arquiteto está propondo coisas das quais o cliente não precisa ou será o contrário?

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