Fenômeno do teto de vidro: Quando mulheres assumem cargos de liderança.
A teoria do ´´ Teto de vidro`` comentada por diversos artigos e periódicos atuais quando se fala em Liderança Feminina, é representada por uma barreira sutil e invisível que as mulheres enfrentam para manter-se competitivas e atraentes no cenário globalizado. A representatividade da mulher em altos cargos vem aumentando ao longo dos anos, mas as dificuldades ainda persistem, salários abaixo do mercado, menores índices de cargos de liderança, menores influências no mercado corporativo, fazendo um adendo aos artigos lidos e confrontando com matérias publicadas na Forbes, as mulheres andam ganhando cada vez mais espaço e força no mercado corporativo, com maiores números em cargos antes ocupados pelo sexo oposto.
A intensidade e constância do crescimento da atividade feminina vem ganhando força nessas últimas décadas do século XX, o país passou por importantes transformações demográficas, culturais e sociais que tiveram grande impacto sobre o aumento do trabalho feminino, justificando essas ascensões de carreira pelos seguintes motivos: a queda da taxa da fecundidade, a redução dos tamanhos das famílias, o envelhecimento da população e maior expectativa de vida da mulher, com isso o maior número de arranjos familiares, onde em diversos casos, a mulher é a responsável direta pelo sustento familiar.
Em anos passados, a mulher dona de casa era vista apenas como uma mera trabalhadora sem remuneração, assumindo apenas o trabalho reprodutivo, trabalho de cuidados aos membros da família, a mulher era responsável direta pelos afazeres domésticos e o homem pelo sustento da família. Com o novo cenário, o homem assume tarefas domésticas, dividindo esses feitos com a mulher, mas sempre ficando com a menor parte. O empoderamento feminino e as diversas ações e estudos voltados para a diferença e igualdade de gênero no Brasil, fomentou a necessidade de um estudo mais aprofundado sobre questões de gênero, mercado de trabalho, ascensão de carreira e liderança;
Os artigos de referências a leitura, foram embasados em pesquisas Qualitativas, com pesquisas de campo estruturada em formulários de entrevista, usando a teoria do labirinto da liderança, onde buscou-se identificar os obstáculos que se apresentam ao longo da carreira da mulher brasileira e entender como ela se reconhece na posição de líder, quais são seus principais desafios e como ela pode superá-los para atingir a igualdade – não apenas no trabalho, mas também no lar.
As autoras inicialmente explanam desigualdades históricas, diferenças de culturas em diversos países onde salientam a desigualdade social e de mindset das organizações, citando também o empoderamento feminino e a busca por maior reconhecimento no mercado de trabalho, por outro lado, as desigualdades históricas de gênero em termos ocupacionais persistem, sobretudo se mencionarmos que as mulheres constituem minoria nas ocupações de maior status, como, por exemplo, cargos de alta gerência e posições executivas.
No Brasil, a realidade não poderia ser diferente: poucas são as mulheres que ocupam a posição de liderança, por vezes ainda respondem a CEOs do sexo masculino.
Além disso, a incompatibilidade entre comportamentos considerados mais femininos, como empatia, bondade, e comportamentos associados aos líderes, como confiança e assertividade, podem levar a uma distorção no que se espera de uma líder feminina. Acredita-se que a mulher deva se manter feminina e, ao mesmo tempo, aderir ao comportamento de um líder tradicional – o que pode ser fonte de preconceito no ambiente de trabalho, os autores citam que a liderança (Gestão) é o fato de executar o que deve ser feito com eficiência, independente do gênero, onde Goleman cita: “líderes eficazes são parecidos em uma maneira crucial: além de apresentarem habilidades técnicas, todos eles têm um elevado grau de inteligência emocional”.
A priori o artigo define o que é liderança e o que é ser líder, descrevendo a liderança em quatro aspectos: Líderes situacionais, tradicionais, transformacionais e transacionais, desmitificando a teoria do líder tradicional como eficiente, egoísta e de forte personalidade, indo contra o comportamento de líderes atuais onde notou-se maiores traços de humildade, disciplina, concentração, boa comunicação, ausência de narcisismo e uma personalidade discreta, sendo esse comportamento mais observados em mulheres.
Outra explicação oferecida por Eagly (2007) é a procura da mulher por um estilo que não seja, particularmente, masculino ou feminino. Como o estilo transformacional é mais andrógeno, pode ser mais adotado por mulheres em busca de um estilo neutro que não provoque preconceito por parecer incompatível com a visão tradicional de mulher gentil e de líder agêntico.
Algumas pesquisas usadas como referência no artigo estudado, citam as mulheres como líderes em minoria, citando em suas características uma fragilidade e empatia maior que o sexo masculino, tendo essas mulheres um grau de escolaridade bem maior que o sexo oposto, citados também como fatores impeditivos e de diferenças entre os homens a questão da maternidade, alguns acreditam que a licença maternidade atrapalha o processo de crescimento da mulher por esta passar de 4 a 6 meses fora do mercado de trabalho, precisando ser substituída, em alguns casos por funcionários que não sejam mulheres.
Outro aspecto que surge no artigo como um dos fatores de desigualdade de gênero é a aparência, fazendo referência ao fato delas terem alcançado promoções no trabalho, por conta de seus atributos físicos e até mesmo por terem casos amorosos com os chefes, desmerecendo a atuação dessas mulheres. Também houve a associação de mulher bonita com mulher burra, que prefere gastar tempo se arrumando em vez de estudando ou trabalhando.
´´A dedicação e atenção ao trabalho são características esperadas de mulheres, logo, um comportamento atencioso por parte de um homem é notável, enquanto que uma mulher com o mesmo comportamento não o é. Os homens não são julgados por não ajudar, enquanto as mulheres são (EAGLY e CARLI, 2007) ``.
Heilman (2001) cita o desmerecimento da mulher como um grave problema. Atribuir o sucesso da mulher a fatos externos a ela a torna uma exceção, como se isso não pudesse ter acontecido sem circunstâncias especiais. A dificuldade de chefiar das mulheres é uma realidade, para uma mulher gerenciar homens, mais velhos é um grande desafio, não fazendo parte da cultura de algumas empresas e pelo fato da masculinidade não aceitar o sexo feminino como dominante, sendo cultural apenas para o sexo masculino, agindo por diversas vezes de forma rebelde e desrespeitosa com essa líder, muitas vezes, tais comentários disfarçados de assédios, ditos como elogios, não conseguindo por diversas vezes enxergarem o preconceito embutido em tal fala, demonstrando alguns deles a sua natureza preconceituosa mais claramente, associados ao fato da mulher ser mais fraca, mais frágil, ou não ser boa o suficiente, sendo mais facilmente percebido pelas pessoas, apesar de nem todas se sentirem ofendidas ou prejudicadas, então, muitas preferem não intervir. Essa conduta gera normalização do preconceito, fazendo com que seja difundido cada vez mais como uma brincadeira inofensiva e não como algo agressivo e que insulta.
Outro ponto relevante no artigo é a questão da interferência familiar e a cobrança em cima da mulher, mãe e profissional, onde muitas vezes, esta tem que abrir mão de oportunidades de trabalho, aumentar sua jornada de trabalho ou até mesmo de fazer cursos de qualificação após o expediente, pois faz parte da cultura a mulher cuidar dos filhos, faz parte da natureza feminina cuidar da família, sendo essa divisão discrepante quando o sexo masculino precisa fazer a gestão da casa e dos filhos, sendo cultural o excesso de jornada masculina, o chegar tarde do trabalho e a divisão das tarefas de casa, ficando sempre com a menor parte, atuando a maior parte das entrevistadas em cargos de gestão, consultorias, chefes de departamento e diretoras, tendo excesso de jornada e cargos muito importantes dentro das organizações que estão inseridas, não tendo vidas separadas, ou seja, pessoal e profissional, unem as duas carreiras e a transformam em uma só, fazendo uma integração de ambas, onde a jornada dupla das mulheres é destrutiva, sobrando pouco tempo para socialização e networking. No artigo as autoras citam também que acrescem aos impeditivos de ascensão de carreira a mulher casada e com filhos, mostrando que as mulheres solteiras ou casadas e sem filhos conseguem maiores ascensões de carreiras, são vistas como livres e disponíveis para o trabalho, assim como os homens, mesmo sendo casados e com filhos, ainda assumem cargos em níveis hierárquicos mais altos.
Outro ponto citado é falta de ambição explícita da mulher, muitas assumem que ainda têm medo de assumir cargos de liderança e não conseguirem executá-los com maestria, chegando ao fracasso, sendo estas uma minoria, tendenciosas ao atribuírem os seus sucessos a sorte, conhecer pessoas certas nos lugares certos, mas nunca pelas suas reais competências, já os homens acreditam que o seu sucesso é fruto do seu trabalho e mais do que merecido, agindo assim, as mulheres desmerecem o seu trabalho, a sua formação, o seu investimento, creditando todo o seu esforço na sua sorte, citando alguns autores que estas citações ressaltam a necessidade que a mulher tem de apresentar-se com modéstia, evitando que sejam julgadas como arrogantes, acreditando essas mulheres que foram entrevistadas nesse estudo de caso que o homem é um líder nato, natural, possuidores de características mais associadas aos líderes, semeando e fomentando assim o preconceito, a fragilidade e despreparo da mulher em cargos de liderança.
A inserção das mulheres no mercado de trabalho brasileiro é caracterizada pelos altos níveis de instrução destas e vastas experiências que ainda pesam nos currículos, variando de acordo com o seguimento que estão inseridas, tendo maiores atuações em enfermagem, fisioterapia, arquitetura, adentrando em áreas tradicionais do reduto masculino, como medicina e engenharia, profissões anteriormente tendo atuação apenas o sexo oposto, chegando a conclusão de que as trabalhadoras brasileiras obtiveram progressos no mercado de trabalho, mesmo embora encontrando inúmeras condições desfavoráveis a esse crescimento, sendo resilientes, multifuncionais e deixando de lado os preconceitos, desfavores e desigualdades de gênero, servindo estes como fatores motivacionais.
REFERÊNCIAS:
HRYNIEWICZ, L. G. C.; VIANNA, M.A, Mulheres em posição de liderança: obstáculos e expectativas de gênero em cargos gerenciais, Cadernos EBAPE.BR, v16, n.3, p. 331-334,2018.
BRUSCHINI, Maria Cristina Aranha, Trabalho e Gênero no Brasil nos últimos 10 anos, Caderno de Pesquisa SP, v.37, n.132, p.537-57