Teria algo se perdido?
Eu nunca fui de ídolos. É um pouco de estilo, de ver todo mundo como gente, com falhas muito humanas. Reconhecer que aquele baita desenhista era meio canalha; que o músico tinha uma personalidade pouco recomendável; que o sujeito exemplar também podia ser mau.
É normal, me sinto bem com isso e parece ser uma coisa que não vai mudar em mim. Os grandes não são divindades, e eu aceito que seja assim.
Mas admirar, aí é bem diferente.
Perguntei dia desses para amigos sobre qual o último trabalho que tinham feito que merecia portfólio e quais trabalhos subiam a adrenalina.
Um teste, e descobri coisas interessantes. Como sempre. Isso é o legal de pesquisar.
Um deles tascou uma referência de um tempo distante; alguns ficaram pensativos; um colega perguntou se eu estava falando dos portfólios de publicidade, me confessando achar que nunca chegou a se sentir bem; outro deixou a publicidade de lado e pensou nos seus quadros cheios de cores e sentimento; um dos amigos veio falar comigo inbox pra ver se estava tudo legal após eu desenvolver essa reflexão de modo público. A preocupação fazia sentido: teve gente que me relatou pensamentos deprimentes. Houve também algumas exceções felizes. Cada uma à sua maneira.
Todas as pessoas que reagiram à conversa não são meus ídolos, mas eu admiro de alguma forma.
Ídolos são abstratos, são uma idealização. Admiração é concreta, é real.
Engraçado como quase todas essas pessoas convergiram para um único ponto. Aquilo que fazia ELAS MESMAS se admirarem estava perdido em um ponto distante no tempo. Esquecido na memória. “Já faz 84 anos”, disse uma pessoa.
Veja só, O NOSSO MELHOR se tornou irreal. Se tornou uma metáfora, nos motivamos apenas pela expectativa. Somos otimistas com o futuro, mas ele nunca vai chegar.
Metáforas, coisas motivacionais, otimismo com o que está por vir não vão ter utilidade. Nós precisamos de uma alegria sentida na carne. Nós precisamos encher o pulmão com uma respiração profunda. Nos sentirmos vivos, não idealizados.
Queremos esfolar os dedos de tanto dedilhar porque a gente quis isso.
Queremos ganhar calo na mão de tanto ficar na prancheta porque a sensação depois acaba com qualquer dor.
Queremos varar madrugada escrevendo para nos surpreendermos com nossos próprios personagens.
Pois é, pessoal.
Onde a gente se perdeu? Cadê aquelas coisas incríveis que, antes de qualquer um, faz acelerar O NOSSO coração? As peças (não precisa ser só de publicidade. Pode ser um desenho, um pôster) que não temos na imaginação, mas temos no portfólio? Onde estão as músicas que pensamos, não para finalmente virar estrela, mas porque seria divertida de gravar no estúdio alugado?
Tá na hora da gente compartilhar mais o nosso melhor apenas pelo motivo de se sentir bem. Faz bem para nós e os outros.
O que você que chegou aí no final do texto tem pra mostrar?
Doutorando | Universidade de Aveiro
5 aexcelente reflexões Redi, bom ver que alguém está disposto a pensar além do que está dado. Tem faltado a coragem de tomar fôlego para conhecer abaixo da superfície. Principalmente no universo dos projetos e profissões ditas criativas.