A Terra bateu em um iceberg.
Demorei pra entender o verdadeiro tema do filme Titanic, de James Cameron. Pela minha interpretação, não é sobre um navio intransponível e inafundável que, bem, afunda. Tampouco é sobre uma história de amor impossível entre uma moça de família rica e um pobre rapaz “sem dinheiro no bolso e sem parentes importantes”. No fundo (não… não é um trocadilho infame), o filme é sobre o comportamento do ser humano quando precisa encarar uma catástrofe irreversível. Tipo esta que estamos vivendo agora.
Na grande tela, como aqui na vida real, estamos vendo um desfile de comportamentos tão heterogêneos quanto óleo e água. Na grande tela havia os que negavam que a coisa era feia, afinal, era o Titanic, pô. Como o tempo foi passando e o navio não parava de fazer água, alguns deles foram mudando de opinião até que todo mundo se dá conta de que, pegando emprestado a frase de um personagem de outro filme, “deu merda .
E diante disso, vê-se de tudo. Tem os que conseguem manter a dignidade e, mesmo diante da incerteza e do desespero que toma conta de todos a sua volta, conseguem agir de forma solidária para se ajudar, e também ajudar o próximo. Há os abandonados no porão, tratados como coisas, tipo uma maçaneta ou uma cama e, portanto, não valendo qualquer esforço daqueles do andar de cima. Falando nesses, há os que são “apenas” privilegiados sem culpa e sem ação, aqueles que não atrapalham mas que podiam fazer muito mais e os que não estão nem aí para a famosa máxima “mulheres e crianças primeiro”, claro contando com a colaboração daqueles que fecham os olhos pra tudo isso porque vão ter alguma pequena vantagem, resumindo em uma palavra, os covardes.
Ah, sim, e tem aqueles que, já de saco cheio de tudo, resolvem se reunir no convés e tocar uma musiquinha. Tivessem uma churrasqueira, assariam uma carne e iriam curtir o final em autoindulgência.
Resta saber em qual desses grupos eu e você, amigo leitor, nos encaixamos. Não me cabe nenhum juízo de valor sobre esses comportamentos e nem é isso que pretendo com esse texto. Talvez eu tente entrar em contato com o James Cameron pra saber dele como isso tudo acaba. Vai que ele sabe?
Ilustração de @diegocarvalho.arte on Instagram