Territórios Criativos
Espaços a serem definidos
Falar dos desdobramentos da nova economia no contexto dos habitats de convivência humana é um grande desafio, pois significa desvendar como a humanidade passou a incorporar insumos como criatividade, arte, cultura, entretenimento e inovação da alma mater da sociedade contemporânea. Falamos aqui de um novo sistema econômico que derrubou muros mentais e colocou para conversar os diferentes universos profissionais, até então isolados em suas percepções do mundo. A nova ordem caminha aceleradamente para o pleno compartilhamento de idéias, informações e nossos ambientes de convivência, que hoje transcendem a dimensão geográfica graças à tecnologia da comunicação. Esta nova economia se alimenta basicamente de diversidade humana, é matricial, distribuída e multiplicadora, não hierárquica. Mais do que econômico, trata-se de um fenômeno social, ancorado em respeito mútuo e relações de confiança.
Do ponto de vista local, tais ambientes podem se desenvolver naturalmente de forma lenta e gradual ou de maneira induzida, de forma organizada e acelerada, formando o que se convencionou chamar inicialmente de territórios criativos. O conceito de território tende a nos induzir a uma referência geográfica, além de denotar relação de poder ou posse de um indivíduo ou grupo sobre um espaço delimitado, o que se contrapõe ao caráter libertário da dinâmica criativa; sem contar que territórios podem ser inóspitos ou até desabitados.
O conceito de território que defendemos é mais entendido como um habitat ou ambiente dinâmico, que traz à nossa mente a noção de espaços vivos e ricos em convívio e diversidade. Como um verdadeiro ecossistema de ideias e iniciativas, vibrante, fértil, inclusivo e sustentável e não necessariamente contíguo, pois a tecnologia nos possibilita criarmos territórios virtuais ilimitados, nos conectando em comunidades digitais.
Estes ambientes criativos, quando entendidos como localidades, se desenvolvem em geral espontaneamente. Costumam ser denominados de clusters, arranjos produtivos locais, polos, núcleos, aglomerações, coletivos, etc. Suas características particulares os tornam únicos e fascinantes. A dimensão espacial desses habitats criativos é bastante variável, podendo ser desde uma salinha de uma associação de artesãos, incubadoras de empresa, empresas, escolas, igrejas, universidades, bairros, até mesmo cidades ou melhor ainda: tudo isso junto. Também há as iniciativas que nascem por um processo planificado, um esforço associativo ou governamental, podendo ser um plano de revitalização de uma área urbana ou um programa local de geração de emprego e renda.
Tentar impor uma estrutura de poder e decisão hierarquizada sobre tais comunidades criativas é totalmente desaconselhável. Quando se tenta hermetizar ou enrijecer os fluxos criativos desses ambientes com a adoção de processos de comando e controle ou excesso de formalismo institucional, seus formadores tendem rapidamente a se desinteressar e dispersar para posteriormente se reagruparem em novas comunidades flexíveis, dinâmicas e fluídas.
TERRITÓRIOS CRIATIVOS
Espaços para a troca, o compartilhamento e a produção criativa.
Na ultima década como resultado de vários fatores e como uma alternativa de forma de desenvolvimento sustentável, nasceu o termo Economia Criativa. Apesar de não ser original nas suas idéias, o termo se estabeleceu como sendo um dos setores de maior potencial para geração de empregos e renda no século XXI. Segundo a pesquisa da FIRJAN de 2012 o setor hoje já é responsável por aproximadamente 18% do PIB. Esse número não é devido a nenhum esforço ou incentivo governamental, mas sim devido ao esforço independente de uma indústria praticamente independente.
É um setor basicamente informal e que depende da criação de leis, regulamentações, e incentivos, mas é um território ainda sem mapa. Mapeá-lo é o primeiro passo para identificar seus atores, e garantir índices que dêem segurança a investidores, mas que podem torná-lo em uma das maiores fontes de inovação e provedores de riqueza para o País.
Apesar dos bons índices e de dados favoráveis, esta não é uma Economia feita apenas de números, caro leitor. Estamos nos referindo a uma riqueza capaz de transformar todo o contexto socioeconômico atual com base na valorização e reconhecimento da cultura local. É imperativo que as diferenças sejam valorizadas e esta diversidade seja assimilada como riqueza. Nesta nova Economia o resultado, é o fruto da criatividade transformado em potencial econômico e coletivo, através da criação e da inovação. É no mundo das idéias que são geradas soluções alternativas, novos processos, tecnologias e serviços. As invenções tornam-se inovações. A nova ordem é descobrir soluções para os problemas atuais através de processos criativos. A capacidade inventiva e inovadora se manifestará em todas as áreas e esferas sociais e profissionais, social, política, organizacional, cultural, da tecnológica à econômica; será imprescindível aprender a pensar transversalmente e considerar a interdisciplinaridade para a ‘exploração’ desta riqueza.
Ao lado desta Economia surgem novos objetos de estudo, novas ferramentas e formas de atuação e, com eles, o desafio de decifrar, conceituar e decodificar todos os seus desdobramentos.
Neste artigo, em especial, nós analisaremos os termos e os conceitos da terminologia: “Territórios Criativos’. Como o assunto ainda não é de domínio geral e as fontes de informações são diversas vamos, primeiramente definir cada um destes termos de forma que mesmo o leitor ainda incipiente possa entender as diferentes terminologias utilizadas. Consideramos a economia a soma das riquezas de um setor; aqui falamos especificamente dos setores criativos. “Os setores criativos são aqueles cujas atividades produtivas têm como processo principal um ato criativo gerador de um produto, bem ou serviço, cuja dimensão simbólica é determinante do seu valor, resultando em produção de riqueza cultural, econômica e social.” (Plano da Secretaria da Economia Criativa: políticas, diretrizes e ações, 2011)
Esta nova Economia e seus atores deverão construir um novo sistema baseado nos valores da Diversidade Cultural, Sustentabilidade, Inovação e Inclusão Social. Estes são os princípios norteadores da Economia Criativa e portanto estabelecem o objetivo a ser alcançado.
Esta nova ordem define que uma empresa e seus produtos devem prezar pela valorização da nossa diversidade cultural e que sua construção e produção devem ser social, cultural, ambiental e economicamente sustentável.
A inovação é apresentada pelo Plano Nacional de Economia Criativa - PNEC, numa relação direta com a aplicação da criatividade na indústria e denota a importância dela nos processos. Muitos temem que a apropriação da lógica de mercado para o desenvolvimento da cultura e das artes, possa causar a mercantilização destas, mas mesmo o Plano nos lembra e ressalta que o termo ganha um outro significado quando empregado neste setor. Pois quando falamos em arte, a inovação representa a ruptura com o mercado.
E por último, mas não menos importante a inclusão social que fecha os requisitos básicos de uma economia criativa. Aqui considero que o Plano inovou ao incluir a população na cadeia produtiva garantindo seu acesso além do consumo e contribuindo para criar ambientes favoráveis ao desenvolvimento e à democracia.
Todos estes requisitos criam um ambiente que quando concentrado em um espaço delimitado, sob a coordenação de uma pessoa, grupo de pessoas, organização ou instituição formam o que consideramos os Territórios Criativos, aqui nosso objeto de estudo.
O ambiente criativo definindo territórios criativos
Ambiente Criativo, termo cunhado em 1983, por Törnqvist é formado por quatro traços: “informação transmitida entre pessoas; conhecimento (baseado em parte no estoque de informação); competência em certas atividades relevantes; e criatividade (a criação de algo novo, como resultado das três outras atividades).” Apesar da vasta pesquisa e de já termos acesso a algum material, não encontramos um conceito fechado para territórios criativos. No trabalho “Territórios Criativos, estudo sobre pólos criativos no Brasil”, há um vasto número de exemplos e casos que somamos a outros exemplos nacionais e internacionais, entretanto, concluímos que não há uma regra fixa e que talvez este termo será sempre um conceito em constante formação, como afirmam outros estudiosos. Alguns casos estudados mostram Territórios Criativos que nasceram ou se desenvolveram de maneira coordenada e outros de forma espontânea, mas que isto não foi o determinante do fracasso ou do sucesso nos empreendimentos. Encontramos alguns termos que podem denominar estes espaços; muitos deles dependem diretamente da formação de origem destes ambientes criativos. São eles: Clusters , APLs , ONGS, Incubadoras, Pólos e chegamos às Cidades Criativas.
Vejamos alguns termos e suas definições:
Segundo Michel Porter, “os clusters são uma concentração geográfica de empresas interconectadas, fornecedores especializados, prestadores de serviços, instituições e empresas associadas em indústrias de setores relacionados.” Um bom exemplo é Cluster de Design Buenos Aires, projeto que promoveu a revitalização de um bairro através da Economia Criativa. Ainda para Cluster, a definição da Creative Cluster Conference and Network é a que mais me agrada; “Um cluster de empresas criativas requer muito mais que a visão padrão de um parque de negócios, próximo a um campus tecnológico. Um cluster criativo inclui organizações sem fins lucrativos, instituições culturais, centros de artes e artistas individuais, junto a um parque científico e a um centro de mídia. Clusters criativos são locais de residência e trabalho, nos quais os produtos culturais são produzidos e consumidos. Eles estão sempre abertos, para trabalho e lazer. Alimentam-se de diversidade e mudança e, portanto, prosperam em ambientes urbanos ativos, multiculturais, que têm suas distinções locais, mas estão conectados ao mundo.”.
Outro termo que aparece com freqüência quando falamos em territórios criativos são os Arranjos Produtivos Locais – APLs que segundo a maioria dos autores, se caracterizam por ser um aglomerado significativo de empreendimento em um determinado território e indivíduos que atuam em torno de uma atividade produtiva predominante, que compartilham formas de cooperação e alguns mecanismos de governança. Podem ser pequenas, médias ou grandes empresas. Neste caso, podemos citar como exemplo de APLs, o Porto Mídia- no Recife/PE, que está entre os sete Pólos Criativos identificados no Estudo sobre Pólos Criativos no Brasil, de Selma Maria Santiago Lima/Consultora UNESCO para o Ministério da Cultura.
Richard Florida, outro estudioso da área, prefere pensar estes territórios além do agrupamento por um objetivo em comum. Para ele a cena musical, e eu estenderia para a cena artística e cultural de uma cidade, seria tão importante para o seu desenvolvimento quanto investimentos tradicionais como Shopping Centers. Talvez percebendo a mesma importância Charles Landry, outro estudioso, criou o conceito dos 3 Cs: Cultura, Comunicação e Cooperação, como três fatores primordiais no desenvolvimento destes espaços criativos. A “Cultura” por ser a identidade de uma cidade, seu patrimônio, seu passado e a imagem que esta projeta no seu presente e impulsiona o seu futuro;
A “comunicação” por ser o modelo de aproximação (físicos e tecnológicos) dos seus habitantes e mediador dos conflitos;
A “cooperação” pelo papel de interação e aceitação explícita da diversidade. Ou seja: é impossível falar em territórios criativos sem incentivar o intercâmbio de idéias, conhecimento e pessoas.
Algumas cidades por suas características e clima acabam por desenhar uma vida cultural ou um modelo de negócio próprio. Outras já foram redesenhadas para uma nova realidade; foram projetos que garantiram a revitalização de locais, bairros, centros inteiros.
Vamos apresentar alguns casos de sucesso identificados no material desenvolvido pelo MINC, “Pólos Criativos Um estudo sobre os pequenos territórios criativos brasileiros, de Selma Maria Santiago Lima, Consultora UNESCO para o Ministério da Cultura’, disponível para download.
O estudo concluiu que poucos Territórios Criativos dependem da institucionalização para nascerem, mas esta pode ser vital para o seu desenvolvimento e crescimento. O estudo mostra que a institucionalização pode ser oficial quando origina-se de ações de órgãos públicos e privados, e no sentido oficioso quando as suas comunidades validam estas ações através da valorização. É preciso entender a população e o ambiente ao redor destes territórios como agentes ativos deste processo. Seguem, alguns exemplos de sucesso e um breve relato apresentado no estudo sobre os casos mencionados.
Polo Criativo Art´Escama – Porto Alegre/RS - Voltado exclusivamente para a atividade produtiva do Artesanato. Formado há 12 anos, é composto por artesãs/empreendedoras individuais da área da Biojóia, utilizando o aproveitamento e tratamento da escama de peixe. A iniciativa configura-se mais como um projeto de Arranjo Produtivo Local a ser instalado futuramente, visto que já conta com o patrocínio para instalação física de espaço próprio com projeção de envolver a comunidade da Ilha da Pintada em toda a cadeia produtiva.
Polo Criativo Delta Zero – Pernambuco/PE - Em 2009 o projeto Delta Zero iniciou-se a partir do encontro de empreendedores de diversas cadeias produtivas e da percepção de que a área poderia e deveria ser ainda mais valorizada a partir da experiência econômica local voltada ao setor criativo, fomentando uma cultura empreendedora e empresarial, assim como facilitando a capacitação de forma geral. Para esta finalidade foi criado o Instituto Delta Zero para o Desenvolvimento da Economia Criativa que organiza as iniciativas e os profissionais interessados em participar da experiência. Após cadastrados podem participar das diversas instâncias de decisão e organização, inclusive geográfica, visto que a intenção do Polo é ocupar geograficamente a região da Ilha do Bairro do Recife, em Recife/PE. Estão sediadas no pólo mais de 13 empresas de diversos segmentos: design, arte, cultura, gestão cultural e editorias.
Polo Criativo Caminho das Artes – Belo Horizonte/Nova Lima – MG – O Caminho das Artes foi Criado espontaneamente pelos seus integrantes em 2009 na região metropolitana de Belo Horizonte entre a capital e o município de Nova Lima, através da perspectiva destes grupos de artistas e companhias artísticas que se instalaram na região. Nesta região estão sendo implantados inúmeros espaços de dança e teatro, estúdios de música, galerias, produtoras culturais e restaurantes que agregaram valor ambiental a região. Há ainda a disponibilidade de galpões para locação que podem servir e beneficiar as companhias instaladas, em sua maioria formada por grupos de dança profissionais.
Ao longo deste estudo percebemos que a criatividade é o elo comum entre todos aqueles que fazem esta economia e que estes agentes podem se reunir em espaços físicos delimitados com CNPJs ou CPFs. Este agrupamento pode ser constituído por diversos interesses, mas que tenham em comum a busca do fortalecimento dos seus negócios criativos e um ambiente que possibilite o desenvolvimento e compartilhamento de conhecimento e idéias.
Considero importante, entendermos que estes Pólos, apresentados pelo estudo ao MINC, não representam a totalidade dos Pólos que se multiplicam neste país. É crucial e urgente a localização e mapeação dos diversos Pólos Criativos existentes e que consideremos que os sete Pólos identificados no projeto do governo, não são nem de longe uma amostra do que realmente está sendo feito no País. Esta é tarefa primordial de qualquer governo que pretenda se utilizar desta economia para o desenvolvimento da sua região.
Estamos cientes também do fato de que quando os estudos partem da iniciativa do Governo, devido a interesses políticos diversos, nossos resultados acabam sendo afetados Mesmo assim acreditamos que a união do Estado com a iniciativa privada e a sociedade civil são condições prioritárias para uma visão da Economia Criativa como eixo de desenvolvimento de uma região. Acreditamos que apesar de suas lacunas este estudo abre o caminho para que se perceba a incrível riqueza que temos em nossas mãos.
Em meus estudos particulares gostaria de destacar exemplos no nosso estado que não foram contemplados pelo estudo. Como o Pólo da Moda na região de Cianorte e Maringá e em Londrina os Festivais artísticos que desenharam espontaneamente um calendário com mais de 14 festivais no ano. São mostras, apresentações, oficinas, cursos de Teatro, Musica, Dança, Circo, Literatura, Jazz e Blues, muitos deles com mais de 10 anos de mercado. A cidade conta ainda com o projeto Vila Culturais, espaço culturais com excelente produção própria, para mim um modelo de território cultural e artístico. Em Curitiba há inúmeros exemplos, da tradicional Feira do Largo ao calendário artístico e iniciativas como a do Sebrae com o projeto “sou curitiba souvenirs”. A questão vai além da definição do que é um Terrritório Criativo; a questão para mim é: “como uma região, cidade, ou país pode se utilizar da criatividade para se desenvolver e crescer?”
É importante lembrar os aspectos que foram considerados pelo estudo pois podem contribuir para futuros pesquisadores que queiram se aprofundar no assunto. O estudo considerou os seguintes dados para análise dos Pólos Criativo: número de integrantes (sendo o menor 06 pessoas e o maior 22 grupos artísticos); o perfil dos integrantes; a natureza da atividade principal; e os inter-relacionamentos. A autora concluiu no seu estudo e ressaltou que apesar dos grupos terem se formado na sua maioria instintivamente e sem institucionalização, a medida que se desenvolvem, percebem a necessidade e a importância do suporte legal de apoio do poder público para que possam se desenvolver.
Cidades Criativas
A expansão de um pensamento territorial.
Já falamos em diversas formas pelas quais se apresentam os Territórios Criativos. É possível imaginar estes espaços nos mais diversos formatos, e tamanhos. Geograficamente, podem se apresentar em galpões, casas, ruas, bairros inteiros. Seria possível então ampliá-los ainda mais e pensar em uma Cidade Criativa? Pode uma cidade desenvolver um ambiente criativo generalizado, possibilitando a todos os seus moradores viverem em um ambiente criativo. Preparando a sua diversidade de talentos para que juntos encontrem soluções criativas para os problemas comuns?
O que seria uma Cidade Criativa? Uma Cidade Criativa é uma cidade que tem em seu plano de desenvolvimento a preocupação com seus talentos; cujos líderes apóiam e incentivam seus talentos, de forma a não perdê-los para outros centros mais atraentes que buscam atrair talentos de outros centros, que desejam um ambiente mais propício para o seu desenvolvimento. Estas lideranças devem garantir uma sensação de direção, ser determinada, mas não determinista.
De acordo com Charles Landry para que uma cidade seja criativa, ela precisa incluir: força de trabalho altamente capacitada e flexível; pensadores, criadores e implementadores dinâmicos, já que a criatividade não se refere apenas a ter ideias, mas também fazer acontecer. Para Charles, a comunicação é necessária para a formação de redes fortes de cooperação e uma cultura geral de empreendedorismo, seja com fins sociais ou econômicos e para que este ambiente macro possa se organizar e crescer.
Outra estudiosa da área, Ana Carla Fonseca, explica que para que uma Cidade seja Criativa esta precisa de três elementos básicos: Inovação, Conexão e Cultura. Neste momento, chamamos para a reflexão complexa desta afirmação. Porque se é o compartilhamento de ideais que faz o grupo, se temos que conectar pessoas em grupos ou bairros, teremos que conectá-las nas cidades, ou seja, assim cada vez mais nos aproximamos daquilo que foi descrito pela maioria dos estudiosos de Cidades Criativas. Não importam as diferenças geográficas ou a forma de trabalho que as pessoas tem em comum, é preciso ter um sentimento em comum que é a troca, pois todo esse compartilhamento de idéias cria uma identidade cultural, capaz de criar um ambiente favorável e tolerante a novas idéias e quebra de paradigmas. Estas cidades são capazes de se reinventarem todos os dias.
Com base nos estudos de Ana Carla Fonseca, concluímos que os espaços públicos são aliados importantes destas conexões. Sendo assim, importante preservá-los, para garantir, dessa forma, a fruição de bens e produtos culturais, inserindo-os no contexto da produção cultural da cidade. É neste ambiente público que as trocas culturais e de conhecimento se materializam. Ana deixa claro que a Cultura 1 “é um ativo de enorme valor para uma cidade criativa. Não apenas por seus benefícios diretos e já reconhecidos, mas também pelos impactos sociais e econômicos que desencadeia; pelo reconhecimento de que agrega valor e aumenta a competitividade de setores tradicionais da economia; e como fonte de inspiração e geração de um ambiente mais inclinado à valorização da criatividade (Fonseca e Urani). Assim, na Cidade Criativa, 2 “as indústrias criativas e o setor de artes e cultura desempenham o papel de chamar a atenção para esses problemas, desenvolver soluções para eles, nutri-las e divulgá-las nos espaços e lugares criados” (Joffe); e 3 “a dimensão cultural da cidade criativa age como um elemento aprimoramento da qualidade de vida nos ambientes social e ambiental e ajuda a aumentar sua atratividade como cenário econômico[1]”.
Para criar este sentimento é preciso que suas lideranças sejam capazes de formular uma visão de futuro, com a qual todos, ou a grande maioria, concordem. É necessário que este caminho seja uma aspiração coletiva. Quanto maiores os desafios, mais criativa uma cidade pode se tornar, a medida que este desafios sejam pontos de partida para a busca de soluções para problemas comuns. É preciso que o governo, a iniciativa privada, a população e a classe criativa se unam em benefício de um sonho comum pautado por um conjunto estratégico de metas capazes de motivar os esforços de todos. E isto sem que se negligencie as necessidades básicas desta população, mas sim encontrando soluções criativas para problemas comuns como educação, saúde, transporte.
Todos os recursos culturais urbanos tem o potencial de serem também utilizados como importantes fontes de atração ao turismo. E este tema merece um outro artigo, tão vasto são suas possibilidades e benefícios a serem abrangidos. Um bom exemplo de Cidade Criativa e turismo é Bergen, na Noruega, cujo desenvolvimento urbano, clima e meio ambiente são usados como vantagens competitivas no mercado.
Com uma população de 250 mil habitantes, Bergen é a segunda maior cidade da Noruega e a capital da Noruega Ocidental, a região mais importante para as Indústrias exportadoras do País e é um centro vital de arte e de cultura. Bergen tem uma vida cultural rica, incluindo educação superior e instituições culturais sólidas que contribuem para o desenvolvimento da cidade. Entre 2006 e 2009, na elaboração do seu “Plano Estratégico de Desenvolvimento”, a administração local definiu que a vida cultural era seu principal diferencial, na atração de turistas, para o bem estar da população e para as empresas. E criou diversos documentos de compromisso do poder público que garantiam que estes ativos fossem preservados, incentivados e garantidos por lei. Para os seus governantes era importante defender a importância de uma política cultural que planejava o período de 2008 a 2017. Foi dado destaque para o desenvolvimento das indústrias culturais na estruturação do planejamento estratégico de desenvolvimento econômico, garantindo assim que o discurso “Criatividade e Cultura como eixo de desenvolvimento” se cumprisse na prática.
Para Eloi Zanetti, consultor na área, o ponto de partida é o de que cidades e regiões criativas atraem turistas e negócios, e afirma que uma cidade não necessita essencialmente ter na Economia Criativa seu principal trunfo, mas toda cidade pode se beneficiar de ações e projetos criativos para o desenvolvimento do setor, atraindo turistas e com isto, gerando negócios. Nas palavras de Eloi: “a criatividade pode estar presente em qualquer lugar, até onde menos se espera como pousadas em rochas na Capadoccia, restaurante envolto a ruínas Incas no Equador e hotéis de gelo no Canadá onde o turista dorme literalmente abaixo de zero.”
Não há espaço para concluirmos algo quando falamos em criatividade, e a suas mais diversas formas de manifestação. Seja em territórios criativos definidos geograficamente, territórios digitais, ou ainda na sua aplicabilidade na indústria tradicional e no turismo. Este é um universo de possibilidades, tão vasto quanto à própria capacidade de expressão do homem em sua busca pela evolução. Para muitos de nós é ela que nos faz a imagem e semelhança do criador. É imperativo: _ Criative-se!
Edra Moraes e Gustavo Fanaya