TIMIDEZ FANTASMA ACUSADOR

TIMIDEZ FANTASMA ACUSADOR

TIMIDEZ FANTASMA ACUSADOR

E dizem como sou agradável, discreto e meigo, porque não falo nem participo das gargalhadas. Riem de como sorrio e abaixo a cabeça, se soubessem como pesa olhar de frente para sorrir também. Se chego em um local, todos os olhares são de críticas, meu andar desengonçado, minhas mãos trêmulas e suadas revelam o medo de cumprimentar, prefiro o silêncio a falar o que penso e o que tenho certeza que estou certo, mas o fantasma em forma de palhaço pula na minha frente e diz que não devo falar. Se quero dizer o quanto amo, meus gestos serão motivos de risos, prefiro silenciar. Bom ser tímido para quem está ao meu redor, assim não incomodo nem imponho meus desejos. Se vou descer de um ônibus, tenho que pedir licença, prefiro empurrar a falar, e ouço murmúrios de críticas, se vou ao mercado não acho o que quero, não pergunto, porque é difícil me expressar. Se errei o endereço, não sei perguntar, e perambulo pelas ruas, assim não falo com ninguém. Se quero um beijo de quem sei que também quer, recolho-me, assim protelando a felicidade que nunca vem. E ainda dizem que ser tímido é charme é educado e confortável, mas só pra quem está do lado de fora dessa sala de acusações, críticas e gargalhadas. São fantasmas a rodopiar a minha frente e sorrir do que vai em minha mente, são acusações que meus gestos são ridículos, que meu corpo é desconforme, que minhas roupas são inadequadas. É uma sala de sons confusos e sem luz, é uma ladeira após a porta, é medo de cair e não saber levantar. Timidez, sentimento que proíbe dizer o que sinto e o que sei.


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