Todo lugar é lugar de Educação em Direitos Humanos
Trabalho na educação infantil, atualmente com crianças de dois anos de idade, e tenho preferência pela faixa etária dos bem pequenos, dentre outros motivos, por acreditar que quanto antes expusermos indivíduos aos valores defendidos pelos Direitos Humanos, maiores serão as chances de que compreendam sua importância e as chances de que possam contribuir para a sociedade ao longo de suas vidas.
Neste sentido, diversos pontos trazidos pelos formadores desta jornada se conectam com minha prática, e gostaria de destacar uma passagem de Francisca Pini durante este percurso: "A Educação em Direitos Humanos é para e pela cidadania". Com os pequenos, busco incessantemente elucidar a importância da resolução de conflitos, das atitudes de respeito às diferenças e individualidades dos pares, dos valores de solidariedade e empatia, e das contribuições para o bem estar de todos que fazem parte da comunidade. Esperançosamente, para as famílias dos pequenos procuro mostrar o quão fundamental é agirmos como modelo para as crianças a respeito do que vislumbramos para seus futuros: um mundo melhor, mais justo, com mais oportunidades e trocas, e no qual os Direitos Humanos estejam de fato garantidos para todo e qualquer indivíduo.
Algo que me chamou bastante atenção foi uma fala de Maria Nazaré Tavares Zenaide, que trouxe a noção de que a Educação em Direitos Humanos frequentemente se encontra em segundo plano por conta de toda a violência e autoritarismo que infelizmente representam fortes traços da nossa cultura e que devem ser combatidas emergencialmente, como luta primeira para que possamos seguir transformando nossa sociedade. A Educação em Direitos Humanos acaba sendo, também, uma luta por si só, já que se opõe aos ideais das forças autoritárias que ainda prevalecem no nosso contexto, "sempre atrás do prejuízo", como coloca a educadora. Após refletir sobre o contexto da Educação Infantil, me dei conta que a violência e o autoritarismo estão presentes nos mais diversos âmbitos, desde a violência com o corpo da criança que sequer é avisada pelo adulto que a manipula até a prepotência do adulto em assumir que a criança sabe menos e precisa ser doutrinada por conteúdos transmitidos por uma educação bancária, à qual se referia Paulo Freire. Ao meu ver, isto também se conecta com outra fala de Francisca Pini, de que "Todo lugar é lugar de Educação em Direitos Humanos".
À luz - ou treva - dos incontáveis atos antidemocráticos que configuram o governo atual, destaco também a relevância da influência da mídia sobre a opinião pública, que, no caso dos Direitos Humanos, parece ser um fator decisivo em sua "baixa popularidade" em nosso país. Enquanto for vista como um decreto, como algo artificial e supérfluo ao entendimento da maioria, a Educação em Direitos Humanos seguirá remando contra as marés. Termino esta jornada com ainda mais sede de contribuir para formar sujeitos críticos, ativos e protagonistas de suas próprias histórias, que participem desta mudança cultural tão urgente.