Trabalho em grupo, absorventes e aprendizagem ativa.
O trabalho em grupo, aquele safadinho. Sei que você que me lê agora já passou alguma vez por isso, pelo menos uma. E se foi uma só, espero que a experiência tenha sido boa. Nem sempre é assim. Mas em algum momento é preciso decidir como estes momentos vão se desenrolar, afinal, é seu tempo e uma grande oportunidade de aprender que há na sua frente. E aí? Vai se encostar ou vai aprender?
Meu objetivo com este artigo é compartilhar como eu consegui mudar a rota da minha participação em trabalhos em grupos - levante em conta a aprendizagem ativa, dividir o processo que fizemos para ter um grupo realmente engajado, dar sugestões para que você também possa aproveitar melhor esse momento e ainda mostrar como é possível tornar o processo… divertido.
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O professor anuncia as avaliações do semestre e logo estampa no slide: trabalho em grupo. Alguns já reclamam, outros sorriem.
É importante sinalizar que os professores também tem consciência que essa metodologia pode ser arriscada - alguns se prejudicam por fazer tudo e outros não fazem nada. Mas, com um bom planejamento de aula, considerando aspectos didáticos variados é possível conseguir resultados acima da média nesse momento.
Já li em diversos artigos de educação e aprendizagem que hoje o aluno tem uma nova postura para assumir, a de protagonista do seu próprio aprendizado. Modelos diferenciados de metodologias podem proporcionar uma experiência diferente na sala de aula e de fato, fazer o aluno evoluir no aprendizado, tais como: estudo de caso, simulações, aula-laboratório, aprendizagem baseada em problemas e outras.
A postura do professor é um fator bem importante nesse momento. Além de ler sobre o assunto, comecei observar como isso influenciava no resultado final de trabalhos que participei. Na graduação não tinha essa maturidade, mas voltando no tempo, consigo refletir e ver o resultado de trabalhos que foram excelentes e outros que poderiam ser melhores, mas faltou um incentivo - em vários aspectos - do professor e meu também. Foi então que me deparei com o termo aprendizagem ativa.
Aprendizagem ativa é o termo técnico utilizado para dizer que o aluno não é apenas um recebedor de informação, ele deve ter uma participação ativa e pró-ativa na busca pelo conhecimento, conforme seu objetivo. O professor deve somar a este momento. Entenda que a responsabilidade de aprender é do aluno e o professor ganha um papel de curador do conhecimento.
Estudos científicos foram feitos, medindo-se a aprendizagem dos alunos por meio de cursos convencionais, e comparando-se os resultados da aprendizagem dos mesmo cursos, ministrados utilizando-se de técnicas de aprendizagem ativa. Os ganhos na aprendizagem dos alunos são efetivos e evidenciados por estudos, e não somente a opinião de alguns entusiastas. (Ricardo R. Gudwin)
Pois bem, a medida que fui entendendo e estudando sobre aprendizagem, decidi que no MBA que seria diferente. Afinal, to dedicando tempo, investimento e realmente quero aplicar meus conhecimentos de forma efetiva. Então, no primeiro trabalho em grupo tudo mudou.
O absorvente que ensinou e mudou a vida dos homens
Calma, não aconteceu nenhum problema com meu absorvente ou de uma colega. Até seria uma história bem bacana pra iniciar o assunto.
Mas na verdade este foi o tema do trabalho da disciplina de Digital Analytics e CRM - que tinha como metodologia o aprendizado por desafios, segundo o próprio Professor. O tema: livre. O objetivo era coletar dados secundários, analisar os dados (usar o Tableau como ferramenta de análise), comparar o comportamento de grandes players do mercado em relação à sua audiência e vice-versa.
Cogitamos três temas, levando em consideração o crescimento dos respectivos mercados e opiniões pessoais do grupo:
- Games e o youtubers que falam sobre o tema
- Marcas de absorvente
- Marcas de fraldas
Quando sugeri o tema absorvente não tinha tanta expectativa em ser aceito, estávamos em três homens e duas mulheres. Mas usei argumentos como o crescimento do mercado, o empoderamento da mulher, o empreendedorismo feminino, a autonomia da mulher e a importância de entendermos a histórias por trás disso tudo. Minha dúvida era: será que as marcas estão atentas aos movimentos atuais? ou só estão criando produtos novos pra continuar vendendo, vendendo e poluindo por aí? Discutimos brevemente sobre cada um.
No fim, todos gostaram da temática e resolvemos estudar absorventes. Acreditem, os homens ficaram super empolgados com a escolha! Diziam que finalmente iam entender muitas questões, saberiam falar com as esposas/namoradas sobre o tema… enfim, ia dar pano pra manga. Já fiquei bem empolgada!
Como fazer o trabalho funcionar
Era o primeiro trabalho do MBA, não tinha muita intimidade ainda com os colegas, então fui compreendendo como deixar claro que não fazia o meu tipo compactuar com o modelo “encostado” no trabalho em grupo.
Todos morávamos longe e quando combinamos de encontrar pessoalmente não fechava agenda, logo sugeri que fizéssemos tudo online via zoom. Check! Toparam e lá fomos nós durante os sábados nos encontrarmos remotamente pra desenvolver a pesquisa. Alguns não conheciam a ferramenta, adoraram. (um dos integrantes até fez uma proposta no trabalho pra fazer home office utilizando o zoom, coisa que nunca tinha rolado. Legal, né?)
Horário marcado e um deles já avisou no WhatsApp que ia atrasar. Faleu que só iríamos dar start quando ele chegasse. Ele comentou que podíamos ir fazendo que só em 40 minutos estaria disponível. Mantive a postura e disse que não teria problema, todos aguardaríamos.
A primeira escapada não rolou. Já entendeu, né?
Quando todos estavam presentes, começamos a pesquisar as marcas. Depois de definidos nossos players, cada um ficou responsável por coletar dados de um canal digital. Enquanto isso, dois pesquisavam sobre a história do absorvente, movimentos femininos impactos culturais e assim por diante.
Dividir as atividades de forma justa é fundamental pra não ter "o sobrecarregado". E claro, levar isso a sério. É comum, e eu já fui essa pessoa por muitas vezes, você assumir grande parte do trabalho na ilusão de garantir que ele fique “bom”. O que na verdade não faz o menor sentido, porque a troca, a conversa, a reflexão em conjunto é o que faz o trabalho em grupo ser válido. Então, não seja essa pessoa. Tente, com força, você vai conseguir!
Paciência e compreensão são fatores fundamentais para o bom desenvolvimento do trabalho. As duas polaridades sempre existem nos grupos: os que têm mais facilidade e outros com maior dificuldade. Não julgue, esqueça a grosseria para que o resultado e a motivação de todos não seja comprometida. Essa situação só gera tensão, não ajuda em nada.
Dados coletados, hora de definir o cronograma. Observamos tudo que deveria ser feito no trabalho, organizamos os prazos que cada tarefa poderia ser realizada e pronto.
Encare o trabalho de forma positiva
Ter em mente que o trabalho não é apenas o resultado final e a nota é imprescindível. Normalmente as pessoas só querem fazer logo e se livrar daquela obrigação ao invés de aprender, se envolver e aproveitar o momento.
Fazer trabalho em grupo é uma experiência e um processo de aprendizagem que pode, e deve, ser levado para a vida. Em todo os níveis acadêmicos e no mercado de trabalho, saber trabalho em harmonia com outras pessoas é essencial. Esse é um ótimo momento para você treinar e aprender como fazer isso funcionar!
Levando isso em consideração e a curiosidade dos homens pelo tema, resolvi levantar algumas discussões. No meio da tarde já havíamos coletado um volume interessante de material, então resolvemos refletir sobre o que cada um encontrou. Esse momento foi sensacional! Deixamos, propositalmente, o time masculino pesquisar sobre a história do absorvente e movimentos femininos.
As surpresas foram do início ao fim. Descobrimos como a cultura é diferente em todos os lugares do mundo ao se tratar de menstruação. A mulher, em alguns países, é vista como “impura” nesse período - eles nem acreditavam no que liam. Ih… fomos longe! Falamos de feminismo, onde nasceu, conhecemos todos os modelos de absorventes que já existiram (eles também não acreditavam que não existia, há um tempo atrás, descartável e se perguntavam como era possível) até chegarmos ao famoso coletor menstrual. Aí sim eles chocaram!
Juro pra vocês, eles pararam a call para chamar as esposas/namoradas e perguntar que absorvente elas usavam e começaram a explicar porque elas deveriam mudar.
A essa altura, na minha visão, o trabalho já havia cumprido seu papel.
Consegue entender o impacto que isso gerou na vida de todos os integrantes? Até mesmo a minha colega não conhecia o coletor. Homens ajudando mulheres a escolher uma opção mais saudável e sustentável de absorvente. E mais: constatamos que os players que escolhemos não incentivavam o uso de coletor. A revolta foi grande!
Rimos, aprendemos, compartilhamos e mudamos a vida de algumas mulheres naquele sábado. E também de alguns homens! A discussão foi riquíssima. Provocar esse momento, ao meu ver, é fundamental. Não adianta só fazer o que tá no script. Chame seus colegas, pergunte o ponto de vista deles e coloque o seu. Lembre-se sempre de respeitar todas as opiniões, mas este é o momento de crescimento e evolução do grupo.
Fique atento para os pontos marcados!
Perceber o que deu certo e o que não deu é uma forma de você otimizar cada vez mais os trabalhos em grupo. Observe como os integrantes reagem ao formato do encontro, qual horário estão todos despertos para de fato fazer o trabalho, como a divisão funciona melhor, saber ouvir a opinião dos outros e cobrar postura dos colegas.
No outro sábado já estávamos afiados e mais enturmados, então, só melhorou. O que me chamou atenção foi no momento final que, tivemos um problema com o Tableau e todos se movimentaram para descobrir como resolver - sendo que estava eu estava fazendo no meu computador e apenas dividindo a tela. Estávamos realmente engajados.
Escolher a pessoas do grupo não quer dizer que você precise fazer sempre com seus amigos. Eu já fiz essa escolha inúmeras vezes, tive sorte na graduação por ter um grupo de amigas que realmente funcionava, mas quando não estávamos juntas, o grupo era ladeira à baixo. Entenda que é um momento de desenvolvimento intelectual, pessoal e profissional. A escolha vai definir o quanto você vai aproveitar, ou não, esse momento.
A comunicação clara também é ponto positivo no trabalho em grupo. Não tenha vergonha de cobrar, falar a verdade, chamar o colega e exigir prazos. Tudo com respeito e empatia funciona. Aprenda a praticar esses valores e deixe de lado as tensões e dificuldades que podem aparecer.
Parabéns, professor!
Por fim, chega a hora de apresentar o trabalho para a turma. Este momento é tão relevante quanto os demais! O grupo tem a difícil tarefa de transmitir o conhecimento gerado, cumprir o objetivo exigido pelo professor e engajar a turma toda no assunto.
Uma boa apresentação ajuda muito (hey, existem templates maravilhosos aqui e em outros sites), objetividade (esqueça textão) e nada de ler o slide (POR FAVOR!!!!). O mais importante é o grupo saber comunicar e transferir o aprendizado. Desafio que, se bem executado, dá uma sensação de satisfação que todo bom professor conhece bem.
Esgotamos o tempo porque a empolgação foi muito grande. Os outros homens da turma aprenderam muito, trouxemos dados que refletiam a mudança de comportamento das mulheres em relação à menstruação e como as grandes marcas parecem se esconder quando se trata de saúde e sustentabilidade (da mulher e do planeta).
Professor… parabéns! Depois dessa, o dever sem dúvida foi cumprido. Marcelo Alves, foi o docente responsável pela disciplina e nos surpreendeu durante as aulas. Aprendemos MUITA prática, mas quem diria, que na aula de Digital Analytics e CRM, a turma sairia sabendo tudo sobre história do absorvente, movimentos femininos e igualdade.
Todos os momentos são propícios para evoluírmos, acrescentarmos e somarmos ao viés cognitivo do outro. Independente do seu grau acadêmico, se você fizer um curso livre, investir em extensão… aproveite o trabalho em grupo! É possível SIM fazer ele valer cada segundo do seu tempo.
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O que você pensa sobre trabalho em grupo? Boas ou más experiências? Vamos somar e ajudar professores e alunos a otimizarem esse momento tão significativo. Fique à vontade para comentar.
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