A transformação digital do setor financeiro e os seus desafios

A transformação digital do setor financeiro e os seus desafios

Para os gigantes do setor bancário, muitos dos quais ainda operam com um mindset metodológico tradicional, os desafios são muitos e exigem uma mudança cultural. A antiga promessa de que a tecnologia transformaria as instituições financeiras não foi quebrada. Assim como toda mudança, a digitalização do setor financeiro resolveu muitos problemas e também criou outros durante o processo.

A verdade é que os consumidores agora têm tantas opções quando se trata de produtos financeiros que mesmo as instituições mais sólidas precisarão se superar para permanecer relevantes e garantir um lugar ao sol. A seguir estão alguns dos desafios que considero mais significativos na transformação digital do setor de serviços financeiros e os seus impactos.

Seus dados financeiros estão seguros?

As violações de dados envolvendo empresas de serviços financeiros aumentaram 480% entre 2017 e 2018. Levando em consideração que cada ataque custa milhões às instituições financeiras, são necessárias soluções inovadoras para combater esse tipo de crime. Tudo indica que a tecnologia blockchain terá um papel importante neste cenário, servindo como base para soluções que podem surgir com o propósito de combater os crimes cibernéticos.

À medida que mais e mais instituições adotam a Distributed Ledger Technology (DLT), o blockchain se tornará, de fato, a solução para manter os dados financeiros seguros. A integração do DLT às infraestruturas financeiras existentes traz à tona alguns obstáculos sérios que devem ser superados. Mesmo assim, já passamos do ponto de questionar se o blockchain é o santo graal da segurança de dados financeiros. Tudo indica que sim.

No Brasil, por exemplo, em maio de 2018, durante o Fórum Internacional de Tecnologia da Informação, promovido pelo Banrisul, foi anunciado um novo sistema interbancário de transferências, que promete ser mais rápido (transferências instantâneas), e permitirá o envio e recebimento de recursos todos os dias, independentemente do horário. Batizado de Sistema Financeiro Digital (SFD) será uma alternativa ao DOC e TED que conhecemos de longa data. O SFD permitirá a transferência de dinheiro entre instituições participantes sem que seja necessário a utilização de um agente intermediário. Hoje as instituições utilizam a câmara de transferências da Febraban, que só funciona em dias úteis e dentro do horário comercial. O SFD eliminará o intermediário por meio da utilização da tecnologia Blockchain.

Já ouviu falar em RegTechs?

O ambiente regulatório em constante mudança representa um desafio permanente para instituições financeiras de todos os tipos. As RegTechs, por sua vez, são uma indústria emergente que pode ajudar a aliviar o peso das regulações no setor financeiro.

Usando, em parceria com as FinTechs, as tecnologias mais recentes para atender às exigências dos órgãos reguladores, as startups da RegTech estão preenchendo a lacuna entre os reguladores e o setor de serviços financeiros. Considerando que o Sistema Financeiro Nacional é altamente regulado, e sem perspectivas de mudanças neste quesito, as instituições financeiras devem se preparar para atender às demandas regulatórias, impulsionando as oportunidades para as RegTechs. Relatórios e auditorias automatizadas e a simplificação de processos são apenas alguns dos benefícios oferecidos pelos aplicativos da RegTech.

Big Data & Analytics

Quando falamos em Big Data, facilmente conseguimos imaginar diversas oportunidades e desafios para provedores de serviços financeiros. Por exemplo, explorar as mídias sociais, bancos de dados de consumidores e até feeds de notícias podem, sem dúvida, ajudar os bancos a atender melhor seus clientes.

Entretanto, classificar grandes volumes de dados não estruturados em busca de informações úteis não é uma tarefa simples. Requer uma poderosa tecnologia de análise e profissionais especializados para que as instituições possam desfrutar dos benefícios associados ao Big Data. Desafios como esse estão sendo solucionados com a aplicação de algoritmos de Machine Learning (ML), que têm aumentado a capacidade de análise e o processamento desses dados de forma realmente exponencial.

Esse é um exemplo da tecnologia empregada na solução das duas vertentes do desafio que mencionei: capacidade de processamento e inteligência para análise dos dados, com a finalidade de produzir insights de negócio.

Um setor mais inteligente

Especialistas acreditam que a inteligência artificial transformará quase todos os aspectos da indústria de serviços financeiros. Gerentes e assistentes virtuais, verificação de background de clientes, assim como soluções baseadas no conceito de OpenAPI, como Open Banking e Open Insurance, oferecem oportunidades interessantes para empresas especializadas em soluções de inteligência artificial.

Avanços significativos na tecnologia Deep Learning estão abrindo o caminho para a inteligência artificial. Na verdade, se você já foi alertado pelo seu banco sobre uma atividade suspeita em sua conta, provavelmente já se beneficiou de algum recurso construído com IA. O desafio enfrentado agora é aprender a se beneficiar do poder da inteligência artificial, sem ser vitimizado por ela.

Seu gerente virtual

Com um papel cada vez mais importante no setor financeiro, a inteligência artificial impulsionou a criação de gerentes e consultores inteligentes, ou seja, robôs ‘conselheiros’. Usando algoritmos complexos, robôs controlados por inteligência artificial podem calcular as melhores oportunidades de investimento, as melhores taxas de juros, os melhores provedores de empréstimo, praticamente tudo que alguém precisa para manter-se informado sobre suas perspectivas de investimento.

Mantendo os seus clientes

A competição por clientes de serviços financeiros nunca foi tão acirrada. Embora a lealdade à marca possa não estar definitivamente morta, está certamente sobrevivendo conectada a aparelhos. O que importa para a maioria dos clientes é maior personalização no seu atendimento. Mais serviços automatizados, acesso mais fácil e com experiência diferenciada. Instituições que conseguirem combinar esses pontos, sem dúvida, garantirão sua fatia do mercado.

A chave para não perder a batalha é reconhecer que os clientes estão menos preocupados com a familiaridade da marca ou bandeira da instituição financeira do que com os serviços que estão buscando. Fornecer aos clientes esses serviços que desejam é fundamental para sua retenção. Há pesquisas que indicam que 56% dos clientes dos bancos estão dispostos a abrir seus dados caso recebam melhores produtos ou serviços. Migrar de bancos tradicionais para bancos digitais ou serviços agregadores são tendências que podem trazer mais competitividade ao setor.

Garantindo os melhores profissionais

As empresas do setor financeiro não sofrem apenas com a retenção dos clientes, mas também com a dificuldade em atrair e manter bons profissionais. A falta de talentos qualificados para preencher novas funções de TI e uma força de trabalho composta, na sua maioria, por profissionais da geração millenium, que evitam carreiras de longo prazo, são exemplos de fatores que agravam esse cenário.

Instituições que desejam atrair e manter uma força de trabalho qualificada devem passar por uma mudança cultural. Oferecer bons salários e benefícios não é mais suficiente. Os profissionais agora esperam que as empresas cultivem uma cultura que se adapte aos valores e estilos de vida dos colaboradores. Essa mudança de mindset é necessária para se conseguir uma força de trabalho estável e qualificada. Mas não crie falsas expectativas, essa não é uma tarefa fácil.

O Impacto do Blockchain

Esta inovação disruptiva tornou-se a principal corrente de transformações no setor financeiro, proporcionando maior transparência, segurança e diminuindo a duração das transações financeiras. No primeiro tópico deste artigo, mencionei o blockchain como um componente-chave na batalha contra os crimes cibernéticos. Mas a segurança de dados não é a única aplicação para blockchain no setor financeiro.

Temos vários exemplos que estão provando o valor do blockchain em uma ampla variedade de aplicações bancárias e de investimentos. Começando pela solução dos desafios enfrentados pelos bancos de investimento para ajudar os clientes a fazer transações de pagamento mais rápidas, seguras e transparentes, a lista de oportunidades para a aplicação do blockchain está crescendo diariamente.

Ainda é improvável, no entanto, que ocorra uma adoção em massa da ferramenta em toda a indústria financeira, pelo menos até atingirmos um ponto de inflexão na maturidade da tecnologia. Quando isso vai acontecer? Ninguém pode afirmar.

Novas formas de pagamento

O papel-moeda tem dado lugar a soluções inovadoras de pagamento enquanto as carteiras digitais e as ferramentas de pagamento sem contato se tornaram a ordem do dia. A expectativa é de que, ainda em 2019, a tecnologia transforme a nossa visão de transações digitais devido ao rápido crescimento das criptomoedas, principal impulsionador de mudanças nos sistemas de pagamento.

O maior mérito de usar criptomoedas e tokens nos pagamentos está em se distanciar do sistema bancário tradicional e de suas regulamentações inerentes. Indivíduos e empresas preferem uma forma mais democrática de administrar fundos, o que se tornou realidade graças a inovações disruptivas nos pagamentos.

Etherum, Ripple, Litecoin, Dash, Cardano, Stellar, IOTA, até a mais recente moeda criada pelo Facebook, a Libra, entre outras moedas virtuais, disputa espaço no mercado com a famosa Bitcoin, a primeira criada no mundo. Até quem não entende sobre o mercado de criptomoedas já ouviu falar e sabe o que é Bitcoin.

Próximos passos

Pesquisas recentes indicam que menos de 10% das instituições financeiras já adotaram soluções baseadas em nuvem, esse é apenas um indicador de quanto espaço ainda há para que essa transformação digital ganhe uma escala maior. A relutância em adotar soluções baseadas em novas tecnologias é compreensível. Afinal, o setor bancário sobreviveu muito bem por dezenas de anos sem elas. Mas a revolução dos serviços bancários já começou e não terminará até que a última instituição tenha ultrapassado a barreira digital.


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