Transformação Digital e Educação
Se o conceito de Transformação Digital ("TD") diz respeito a utilização de novas tecnologias que viabilizam a obtenção de melhorias significativas em um negócio e impactam de forma decisiva a vida dos clientes, o que seria essa mesma coisa aplicada ao contexto de um governo; de uma organização que presta serviços públicos?
Talvez você use uma definição diferente para TD. Pode ser. Esqueça por um momento isso. Minha pergunta é a seguinte, dizendo de outra forma: Seria possível aplicar os mesmos conceitos motivadores e, digamos, operacionais de TD, para uma situação onde a relação negócio-cliente é de outra natureza?
Eu acho que sim. Acho que, na essência, TD tem que ver com olhar para uma certa organização e se perguntar o seguinte: Se não houvesse restrições orçamentárias e se existisse musculatura e disposição para realizar todo e qualquer tipo de mudança nos processos, como usaríamos as tecnologias existentes para maximizar a geração de valor para os clientes? Que processos teríamos se pudéssemos usar de forma ótima toda a inovação disponível?
Essa pergunta serve para governo também, obviamente. Talvez mais ainda dado que a ausência do requisito de "dar lucro" simplifica a análise da conveniência de se mudar processos para maximizar o valor gerado, nesse caso, para os administrados.
Você deve estar se perguntado: Sim, mas o que tem isso que ver com Educação?
Tem tudo a ver. Se existem lugares que clamam por TD são as escolas tocadas pelas três esferas de governo. A razão disso é a seguinte: o processo, ou grupo de processos, educacional que é executado nesses lugares é muito impactado pelos fatores de sempre: violência, indicadores sócio-econômicos, problemas de infraestrutura física, qualidade duvidosa dos gestores, baixo engajamento das famílias, deficiência na formação dos professores etc.
Se fizessemos um exercício de "re-imaginação" dos processos de uma dessas escolas e usássemos livremente todas as tecnologias existentes, no final teríamos uma organização que funcionaria de forma radicalmente diferente. Na prática, porém, há restrições orçamentárias e, portanto, toca perguntar: O que deve ser priorizado?
Chegamos então ao ponto central desse artigo e, depois de dizer isso, vou terminar. Acredito que o primeiro ponto que deve ser enfocado em um processo de TD de uma escola pública seja a criação de uma base de dados multidimensional sobre cada aluno. Essa base de dados deve possibilitar uma visao "360 graus" do aluno e de sua família.
Informações externas à vida acadêmica, como indicadores sócio-econômicos, preferências pessoais, eventos ligados à disciplina, avaliação do aluno sobre os professores e avaliação subjetiva dos professores sobre o aluno, entre outras, precisam ser correlacionadas com a performance acadêmica e dar uma visão "holística" sobre o aluno que de outra forma seria impossível.
Somente a disponibilidade desse tipo de informação permitiria que professores e diretores de escola ajustassem os processos da escola de maneira a melhorar a "jornada" de cada cliente, quer dizer, de cada aluno.
Em resumo, os dados que podem ajudar melhorar a escola pública brasileira não são somente os indicadores formais habitualmente usados na educação, tais como notas e frequência.
Talvez não estejam nem na sala de aula.