A Transformação do Setor de Seguros: O que esperar da Estrutura de Gestão de Riscos?

A Transformação do Setor de Seguros: O que esperar da Estrutura de Gestão de Riscos?

A atuação da Estrutura de Gestão de Riscos (EGR), apresentada na Circular SUSEP 521/15, é um tema relativamente recente na indústria brasileira de seguros. A cadeira de Chief Risk Officer (CRO) vem se tornando cada vez mais relevante na estratégia do negócio e precisa de profissionais com uma visão holística da organização e que atuem com protagonismo.

Com a iminente transformação do ecossistema de seguros, é esperado que esses profissionais estejam fortemente integrados com as áreas de negócio e focados em decisões de longo prazo, liderando análises de cenários e abordagens prospectivas. O objetivo deste artigo é promover algumas reflexões sobre questões emergentes para os gestores de riscos nas seguradoras e como suas contribuições podem ser importantes para o sucesso dessas organizações.

1. FOCO NA ESTRATÉGIA E NO AMBIENTE EXTERNO  

A agenda de modernização do mercado securitário brasileiro, por meio de iniciativas como o SandBox Regulatório e a segmentação das supervisionadas com critérios de proporcionalidade, tem como objetivo impulsionar o desenvolvimento do mercado e proporcionar um ambiente mais favorável à entrada de novos participantes. Provavelmente, se verá nos próximos anos um estímulo a novos modelos de negócio e, consequentemente, mais opções ao consumidor final.

A pandemia de COVID-19 mostra a urgência em se modernizar a jornada dos clientes de seguros e traz à tona o expectativa de um grande grupo de consumidores com modelo de relacionamento digital. Seguradoras que desejam prosperar em uma indústria mais moderna e competitiva devem reinventar a forma de relacionamento ao longo de toda a cadeia de valor, com ações como desburocratizar, simplificar processos e colocar foco em experiências OmniChannel.

Ter o cliente como centro do negócio já não se trata de um diferencial, mas sim de uma diretriz que as companhias devem ter como base de seu planejamento, sendo a tecnologia uma importante alavanca para promover uma experiência única ao cliente. A combinação entre os rápidos avanços tecnológicos e o perfil de consumidor orientado à experiência mais ágil e tecnológica trazem um senso de urgência para que as companhias não fiquem vulneráveis.

Nesse ambiente dinâmico, os CROs devem agir com inciativa nas decisões do negócio, fornecendo à alta administração perspectivas e orientações sobre os riscos estratégicos, quando os assumir e suas consequências para a solvência e reputação da companhia. Cabe ressaltar que o know how desses profissionais pode também ser utilizado de forma proativa para agregar valor em estudos de viabilidade de negócios, identificação de oportunidades e avaliações de business plan.

2. VISÃO ORIENTADA A LONGO PRAZO E SUSTENTABILIDADE

Os pilares de ESG (Environmental, Social and Governance) tem se tornado relevantes para empresas dos mais diversos segmentos ao redor do mundo. Esses princípios norteiam o compromisso das organizações em adotar diretrizes que sejam sustentáveis e que disponham de boas práticas de governança e responsabilidade social.

No setor de seguros a nível global, o tema tem sido gradualmente discutido como base para a estratégia de longo prazo. Afinal, é esperado que as seguradoras desempenhem um papel de maior protagonismo nesta pauta, enquanto fornecedor de proteção a indivíduos e corporações.

Os CROs podem liderar agendas de ESG promovendo insights e indicadores para gestão do negócio. Alguns exemplos de posicionamentos relativos a sustentabilidade são o Assessement de parâmetros ESG na subscrição de novos contratos, a utilização de ratings para monitoramento de seu nível de apetite, KPIs de investimentos em green bonds, oferta de Fundos de previdência sustentáveis e controle de exposições a negócios baseados em combustíveis fósseis.

No contexto social, é importante que as empresas tenham o compromisso de promover boas condições de trabalho e um ambiente diverso. Os riscos relacionados ao capital humano são diretamente relacionados a este pilar, onde grupos de afinidade, ações sociais em prol da comunidade, representatividade e políticas inclusivas são importantes iniciativas.

Em relação às boas práticas de Governança Corporativa, a gestão de riscos possui um papel essencial em coordenar ações para transparência na apuração de resultados, políticas de remuneração e gestão do risco de conduta. Os padrões de relatório financeiros internacionais (e.g., IFRS 17 e IFRS9) demandam forte participação da EGR, visto que são projetos de grande complexidade com o objetivo de padronizar as divulgações de informações financeiras. 

3. INVESTIMENTO EM TECNOLOGIA E AUTOMAÇÃO

O uso de automação, programação e tecnologia tem o potencial de reduzir o tempo gasto pelos CROs nas análises de informações, armazenamento de dados, projeções, revisões e produção de relatórios. Além disso, há uma evidente contribuição nos requisitos de Data Quality, com menor propensão a falhas operacionais e fraudes internas.

Além disso, a EGR precisará investir em capacity e em novas tecnologias para conduzir de forma mais proativa discussões sobre ambiente regulatório, estratégia de negócio e competição. Metaheurísticas, machine learning e IoT sob a ótica de gestão de riscos são importantes para reconhecimento de padrões que irão subsidiar decisões e dar diretrizes sobre potenciais níveis de exposição (e.g., modelo preditivo de fraudes).

A utilização destas tecnologias pode, ainda, orientar a quantificação e definição do nível de apetite dos acionistas e administradores do negócio. Com a evolução das relações digitais, surge também a gestão do Risco Cibernético e os requisitos de segurança da informação, com enorme relevância enorme quando falamos da era digital em seguros.

4. ENVOLVIMENTO NA AGENDA DIGITAL

Na medida em que a demanda por experiência digital avança e a regulação estabelece medidas mais vigorosas sobre a observância de aspectos de segurança da informação e sigilo de dados (e.g., LGPD), a indústria de seguros se mostra cada vez mais consciente sobre a necessidade de mitigar sua exposição ao risco cibernético e seus potenciais danos sobre sua reputação e imagem.

Ao mesmo tempo em que as seguradoras se deparam com a exposição ao cyber risk, surge a oportunidade de oferta de seguro cibernético. Esse produto tende a ganhar maior representatividade, visto que as organizações provavelmente irão demandar mais soluções de seguro que sejam capazes de cobrir custos associados a violação de dados e quebra de requisitos de segurança, tais como sanções, perdas de negócios e clientes, danos à reputação, entre outros. 

Por se tratar de um tipo de risco em franca expansão e com dados ainda pouco conhecidos, o papel dos CROs será fundamental para mapping, quantificação dos limites exposição e análise de eventuais mecanismos de compartilhamento desses riscos por meio de arranjos de co(re)sseguro. Sua atuação também deve abranger a segunda opinião sobre os processos de subscrição e pricing, além de um ambiente de controles internos que seja suficiente para mitigar possíveis lacunas nas práticas de segurança da informação.

5. DISCUSSÃO SOBRE OS LIMITES DE EXPOSIÇÃO A RISCOS FINANCEIROS

Dentre os papeis e responsabilidades dos CROs, espera-se a capacidade de fornecer uma visão prospectiva e orientada a longo prazo para a tomada de decisão. As métricas para avaliação do nível de exposição a risco devem refletir, por exemplo, projeções das posições de solvência e liquidez para o horizonte de planejamento estratégico (e.g., 03 anos), sob determinadas condições e cenários de alocação de ativos financeiros.

Apesar de a estratégia de investimentos das seguradoras estarem focadas na proteção dos recursos sob sua gestão (mecanismo de hedge), o ambiente de baixa taxa de juros tem pressionado estas companhias a estudarem alternativas para impulsionar suas linhas de resultado financeiro. Nesse contexto, espera-se a participação ativa dos CROs para revisitar seus limites de Risco de Crédito, Mercado e Liquidez, pois a estratégia de maior alocação de ativos em renda fixa privada, equities e outros papeis poderá entregar melhor resultado financeiro.

Nos processos de avaliação dos limites de exposição, a EGR pode utilizar técnicas de testes de estresse e análise de cenários para conhecer o nível de risco incorrido frente ao ganho de rentabilidade, no caso, por exemplo, de aumento de exposição a crédito privado e renda variável. Assim, é possível quantificar e determinar o nível de apetite a partir de um buffer gerencial de capital, calibrado conforme o horizonte de tempo e o nível de confiança estatística desejado.


Everaldo Zieben

Superintendente de Produtos, Head de Underwriting, Head Produtos, Superintedente Comercial

3 a

Parabéns Diogo! Excelente reflexão.... sem dúvida CRO e time atuando em conjunto com as áreas de Negócios agregam substancialmente para o desenvolvimento e perenidade do mercado.

Rogério Camara Nigro

Legal Claims | Corporate Affairs | Legal Ops

3 a

Excelente texto. Parabéns!!!

Fernanda Piedade Fernandes

Gerente de RH | Talent Acquisition Manager | Business Partner

3 a

Ótimos pontos Diogo! Bem como áreas e atividades que nem sempre foram protagonistas estão se tornando relevantes/essenciais para manutenção e perpetuidade do negócio!

John Liu

Diretor de Produtos Previdência Zurich Santander | Diretor Executivo de Investimentos Zurich Brasil | Presidente da Comissão de Investimentos da CNSeg

3 a

Excelente texto

Wilson Lapa

MSc | Coordenador Risco de Crédito

3 a

Excelente overview

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