Transição(ções) de carreira : minha história

Nem todos sabem, mas eu sou um profissional que fez uma mudança radical de carreira. Aos 25 anos, eu era professor de história e cursava mestrado na UFRJ. Mas em um determinado momento, tudo isto parou de fazer sentido para mim. E resolvi entrar no mundo digital, me forcei a virar designer web, que era o nome da função na época. Neste artigo faço uma retrospectiva de como tudo aconteceu, e acho que pode ajudar algumas pessoas que estão entrando no mercado ou pensando em mudar de área. É sim possível, não desistam!

A Choice foi a primeira empresa que me empregou como designer, fiz um portfólio "fantasma" com muito material que dos meus trabalhos da ESPM. Sim, a primeira coisa que fiz foi voltar a estudar, e me matriculei no curso de Direção de Arte da ESPM. No meu esforço para se conectar com o digital eu criava e inventava muitos projetos. Então minha forma de entrar no mercado foi criar um super portfólio já que eu tinha pouca ou nenhuma experiência profissional, e funcionou. Na Choice , aprendi muito com o Denis Maia sobre empreendedorismo e como criar uma empresa especialista, resiliente e de ter foco em atender ao cliente. Via a empresa crescer, ser investida, ter crise de crescimento e depois voar. Nunca vou esquecer o job de fazer uma versão gigante de um cheque para simbolizar o investimento que o BNDES fez na empresa. obrigado Denis pelo meu primeiro emprego.

Neste período eu tinha uma dupla jornada, trabalhava ao mesmo tempo da Modal Informática como gerente de tecnologia, onde aprendi que existem clientes difíceis e que com jeitinho é possível lidar com eles. A Modal era uma empresa dentro de um publisher de conteúdo e éramos responsáveis por toda infra de tecnologia, de computadores a equipe de designers que cuidava da publicação das revistas e websites. Junto com o Eduardo Quental gerenciei meus primeiros projetos, e aprendi como ir do orçamento a entrega final, obrigado Eduardo Quental.

Na época, eu tinha também um terceiro emprego, dava aulas a noite na Infnet. E agradeço ao Andre Kischinevsky por ter me dado este prazer de ser professor do pacote Adobe, que na época era Macromedia. Dei aulas do velho Flash, Dreamweaver e Fireworks, e até do pacote de transmissão de streaming o Real Audio. Era um lugar bacana de trabalhar, e o mundo de TECH era outro, para vocês terem uma idéia, o professor tinha como padrão dar aula de terno e gravata. Pois esta era a imagem que um profissional de tecnologia deveria ter, para mim na época era bem divertido ter que ir de terno para o centro da cidade algumas vezes por semana, mudava o look :) 

Foi um período bem bacana, pois aprendi a ensinar, e ter três empregos me apoiou no plano de morar sozinho.

Ah!! Lembrei eu tinha um quarto emprego na época também! Na minha busca de formação entrei para a graduação da Estácio de Sá no curso de Designer Gráfico, e ai durante o curso fui convidado pelo gigante Mayrton Bahia para ser professor do curso de produção fonográfica da Estácio de Sá na cadeira de produção para internet. Para voces terem uma idéia uma das aula do curso era aprender converter arquivos em MP3, e vejam só, como baixar musica e converter em MP3, eram tempos do velho oeste no digital. Foi uma experiência muito rica, toda turma era muito doida :) composta de músicos e pessoas bacanas. Nos encontrávamos muito nos lugares underground do rio de janeiro.

Então por uns 4 anos tive quarto empregos simultâneos, foram meses sem almoçar e dei muita sorte por que tanto a Modal com a Choice ficavam no mesmo quarteirão, então muitas vezes saía de uma reunião de última hora ou corria para resolver algum pepino e sempre dava tempo de voltar.

Depois destes quase quatro anos insanos de quarto empregos, resolvi focar em crescer dentro da profissão que na época não tinha o glamour de se chamar UX designer.

Outra formação que busquei foi me especializar em designer de interface, foi um curso incrível e abriu muito a minha cabeça. E conheci uma pessoa incrível o Robson Santos. Conheci os grandes teóricos de UX e lindo ver que todos ainda permanecem atuais, com o Kruger, Nielsen e Rosenfeld. Em outro post vou falar mais sobre a importância da se educar e buscar formações para ajudar a transição de carreira. 

E consegui um emprego em um lugar que eu admirava muito, o Jornal do Brasil. Como historiador eu lia dois jornais por dia, e o finado JB não podia faltar na minha leitura de final de semana. O caderno B me ajudava a escolher meus filmes de final de semana, os livros que ia comprar ou saber dos lançamentos de quadrinhos e músicas. Quem não nasceu antes da internet, não vai entender como era programar seu lazer pela mídia impressa. No Jb minha líder era a Marcia Jones, que com sua risada enchia a sala, e sempre estava de bom humor para passar nossos plantões de domingo para colocar o jornal online. Na época o CMS da empresa permitia aos jornalistas publicarem as matérias, mas a home era feita manualmente em HTML. E este era nosso trabalho fazer e refazer a home o dia todo, de acordo com as matérias e acontecimentos do dia. Foi um lugar com pessoas bacanas, mas achava o trabalho chato, e não somava ao meu plano de construir um portofolio. Eram poucas as chances de hotsites ou trabalhos mais autorais, e decidi sair pois não via oportunidades de crescer. 

Em seguida entrei para a ( na época) Americanas.com que depois virou a B2W. Foi uma experiência complicada para mim, primeiro pela minha contratação que foi via uma cooperativa então nunca me senti parte da empresa e por ser meu primeiro contato com um modelo de gestão mais corporativo. Nosso trabalho era produzir banners e hotsites para alimentar as atividades do marketing, e aprendi como ser extremamente produtivo, pois tínhamos uma meta altíssima de entrega. A equipe era incrível e conheci pessoas muito bacanas, mas realmente foi uma empresa que tive dificuldade de ter o fit cultural. Mas foi incrível de ter tido meu contato com o mundo do e-commerce e é 100% responsável pelo lugar que ocupo hoje no mercado. Foi minha escolha de digital, e fiz um portfólio incrível que sempre foi minha meta pessoal, então havia um alinhamento entre o que eu queria para mim e o que a empresa me entregava. Mas minha mãe naquele período teve cancer, e eu queria estar mais próxima dela e acompanhar algumas sessões finais de tratamento. Como eu ainda tinha tanto o extra das aulas na infnet, como ainda fazia alguns trabalhos na Modal, foi possível sair da empresa. Então jovens, mantenham sempre por perto opções financeiras para pagar os seus boletos :) Vicente Resende obrigado pelos conselhos da época, e Ricardo Tancredi realmente eu na época, não era o melhor profissional para estar no seu time. Mas aprendi muito contigo sobre layout, tipografia, banners e flash, obrigado.

Fiquei com jobs de freelancer, dando aulas e apoiando na gestão da Modal. Mas voltei a precisar estar no mercado, vida de freela era complexa na época. Com o portfolio bacana das peças que fiz na Americana, consegui entrar na Oficina da imagem. 

A Oficina da Imagem era uma agência focada 100% no mercado imobiliário, e la eu pude fazer algo que eu gostava muito, que era criar hotsites. Cada empreendimento imobiliário era uma piração e tinha muita liberdade e por isto agradeço ao Leonardo Gomes ( uso até hoje a história de subir no banquinho …) . Foi uma empresa que fiquei pelo menos uns 4 anos, e de verdade me sentia realizado por toda liberdade que eu tinha para criar. Para a minha futura trajetória de empreendedor aprendi bastante por lá, desde de como era possível ter uma agência digital especializada a como organizar back-ups e infra. 

Revendo agora, realmente era um lugar que eu me sentia feliz e foi bem difícil de sair, mas eu queria muito mudar para São Paulo. Cheguei a organizar uma transição para o escritório deles de SP, mas acabou que outra proposta apareceu no meio e que também envolvia ir morar em SP e acabei saindo. Era uma empresa que a liderança em ouvia e me dava espaço para conversar e propor ideias para os clientes.

Quando eu estava na oficina da imagem passei a interagir com outra ponta do mercado, e descobri que era ela quem decidia como meu trabalho deveria ser feito, o departamento de marketing. Resolvi mudar de novo, e fui fazer uma pós-graduação em marketing digital, para que pudesse assumir e direcionar com a estratégia digital dos projetos que eu participava. Foi uma experiência incrível e mudou minha vida, mas esta história conto em outro momento.

Quando eu saí da oficina da imagem eu fui trabalhar na Marlin, na unidade que atendia a experiência digital do Santander. E ai conheci uma pessoa incrível o Ginane, o cara realmente era o cara :) A promessa da Marlin era me mudar para SP, e no meio da minha contratação algo aconteceu e a empresa não pode manter o seu combinado, e eu tinha acabado de pedir demissão na Oficina da imagem, e o Leandro lutou por mim, e honrou o combinado da empresa. Juntos fizemos muita coisa bacana, como a campanha de banners do santander com interatividade e artes incríveis que crieis. Os banners eram conectados ao clima tempo, e se estivesse chovendo ou com uma temperatura mais fria em SP o banner variava a animação, lembrando que isto tem mais de 10 anos :) 

Outro passo importante que dei foi investir em tirar a certificação no google adwords, lembrando que eu era designer e estava investindo em mudar para a área de marketing, e este foi o primeiro passo. No momento que comecei a olhar para o Adwords fiquei viciado em operar o produto, e perdi um pouco do interesse em criar interfaces, realmente olhar para campanhas e medir resultados me pareceu tão "palpável" que comecei a buscar novas oportunidades onde pudesse trabalhar com mídia digital.

Então na pós da ESPM conheci várias pessoas de marcado - aqui mais uma dica, apostem em eventos e cursos presenciais tb. Construam relacionamento e networking! E consegui conquistar uma visão mais estratégica do digital, e aí sim poderia ser protagonista nos projetos que eu iria fazer no futuro.

Nesta pós conheci a Sabrina Brito, e surgiu uma oportunidade para ser gestor de mídia na SIMPLEs, agência que ela era sócia. E ai resolvi arriscar de novo, deixei pela primeira vez a posição de Designer web para ser analista de marketing digital, e fui com o desafio de montar com ela uma área de performance e projetos na empresa. 

Dentro da SIMPLES também tive uma escola que contribuiu muito para o profissional que sou hoje. Cuidei desde da implantação do ambiente digital do Universal Studio no Brasil onde comecei a me interessar em gestão de projetos/pessoas até o encontro que mudou tudo ( de novo) na minha carreira.

A SIMPLES era uma produtora criativa no Rio de Janeiro, e atendia projetos com clientes de Midia como canais de televisão, até marcas como a Duloren. E ai foi um grande aprendizado, eu cuidava de equipe e desenvolvedores e foi muito dificil para mim, pois tinha q apertar para conseguir prazos complexos bem como gerenciar ego de profissionais incríveis e muito loucos :), como eu ja fui em outras encarnações da minha pessoa :) 

Mas o que mais me marcou foi atender a um e-commerce o Compra Fácil, e isto mudou minha vida e me trouxe onde estou hoje. Criamos para eles uma campanha incrível de social, que na época quebrou o twitter e gerou sem exagero milhares de interações e comentários para a marca. Lançamos na época o fundamento para o que muitas marcas fazem hoje, com personagens digitais como o pinguim e magalu. Faziamos a gestão de mídia, gestão de social e o foco no resultado e a possibilidade de ver números e fazer análises ativou uma outra área do meu cérebro. 

Ainda quando estava na SIMPLES, dois grandes amigos que conheci na CHOICE, e trabalhavam no que se tornaria a VTEX hoje, me perguntaram seu eu gostaria de implantar um projeto de e-commerce, e eu disse sim. E ai começou minha (outra) história como empreendedor … 

Espero que tenham gostado desta história, que ela inspire.