A transição árdua e necessária

A vida é feita de ciclos, e se não percebermos estes ciclos corremos o risco de passar os dias sem entender as transformações ao nosso redor.

Por outro lado, a vida também é feita de momentos. Cada pessoa tem o seu momento, a sua fase. E, embora os ciclos sejam importantes, eles de nada adiantam se não estamos no momento de percebê-los.

Lembro-me de ler umas duas ou três vezes livros como TCP/IP for Network Administration, DNS & BIND, Unix Shell Scripting Programming, Sendmail, Red Hat RHCE Linux Certification e tantos outros bons títulos que me ajudaram muito a trabalhar com a infraestrutura física de um dado momento. Putz! Sendmail eu li duas vezes. Parecia escrito em Sânscrito. Duas vezes, é mole?

O carnaval daqui a pouco já desponta novamente e eu me lembro de um livro sobre SAMBA, não o Samba do Carnaval, mas um livro sobre o protocolo SMB que nos permitia compartilhar pastas e arquivos de um servidor Linux com uma rede de computadores Windows. Foram mais de 300 páginas para entender todas as características e possibilidades.

Então o SAMBA começou a virar batidão, o pinguim do Linux começou a aparecer na geladeira de todo mundo e o TCP/IP acabou virando o asfalto das estradas, ruas e vielas de tudo que é dispositivo e aplicativo. O que era interessante e legal, virou comum.

De repente, percebi que todo aquele conhecimento ficou no pó da estrada. Sim, ele serve muito ainda, mas é o básico para se virar nesses dias.

Como fazer para retomar aquele gosto pelas coisas da tecnologia? Como ter novamente aquele gostinho de fazer algo muito legal funcionar, ou mesmo debugar algo que vai lhe fornecer um serviço super útil? Será que tudo ficou tão automático, fácil e sem graça?

Bom, em meados de 2018 fui fazer uma consultoria em uma empresa e já cheguei fazendo aquela pergunta básica: e então, quais são os problemas da empresa? A resposta foi tão simples e tão direta que fiquei até meio sem chão. O diretor me disse: "senta ai e você vai ver os problemas".

Então sentei e comecei a ver um, dois, três, vários problemas. Vi também que aquele conhecimento empoeirado, na verdade serviria para resolver uma boa parte dos problemas que fui encontrando.

Depois de trabalhar bastante em coisas que vão desde a automação de scripts de nuvem à integração de ferramentas de MKT com o sistema legado, comecei a encontrar algumas barreiras e deficiências no meu próprio arsenal. Ai é que bateu aquela questão do momento, da fase. Era o momento de fazer uma nova transição, de conhecer coisas novas, pessoas diferentes e situações desafiadoras. Era hora de perceber e viver o ciclo.

Mas ai pintou aquela dúvida: onde eu vou encontrar essas coisas novas, esses novos desafios, essa gente nova?

Sem saber direito onde eu iria chegar, comecei a frequentar meetups de Data Science, Python, Go, DevOps, Agilidade, Cloud.

Conversei com muita gente, anotei um monte de dicas e comecei a me interessar por uma série de assuntos. Rapidamente senti a necessidade de saber mais sobre Transformação Digital e isso me motivou a fazer uma pós-graduação especificamente nessa área. Paralelamente comecei a fazer meus próprios meetups (e a passar meus próprios apertos para organizá-los). Traduzi mais de 100 artigos sobre várias ferramentas e tecnologias pela comunidade da DigitalOcean.

De repente eu estava super interessado em aprender Python, conhecer mais sobre DevOps e sobre infraestrutura como código. Daí, os livros passaram a ser Pense em Python, Python Fluente, O Projeto Fênix, Kubernetes Up & Running, Descomplicando o Docker, e por ai vai. A transição começou e eu nem percebi, apenas fui desfrutando dela.

Fazer transições não é algo fácil, sobretudo em uma época em que tudo é rápido e efêmero. É uma tarefa árdua e que exige paciência, persistência e disciplina. Mas, acima de tudo, a transição é necessária. Ela nos faz sentir vivos, com o cérebro ativo e em constante aprendizado. É um momento onde a gente é ajudado e consegue ajudar, juntando esforços.

Parando um pouquinho para refletir sobre minhas andanças em 2019, indo aos meetups, organizando os meetups e eventos, participando de workshops, TDC, DevOpsDays e trocando muita ideia no Telegram, Linkedin, WhatsApp, percebi que aquela fala do diretor da empresa onde prestei consultoria tinha muito mais verdade do que eu pensava. Não precisa complicar muito a vida não: senta ai que você vai ver o que está acontecendo. É a vida acontecendo.