Transporte Urbano & Integrações
Transporte Urbano Gratuito
Este foi o título de um artigo na coluna Visto, lido e ouvido do jornal Correio Braziliense, de Brasília. Durante anos foi escrita pelo Ari Cunha e após sua partida, por Circe Cunha.
Chamou minha atenção a menção do que tem sido praticado em outros países (ainda não tive oportunidade de vivenciar essa opção) já há algum tempo e a "esperança" de que possa vir a ocorrer no Brasil.
Creio que além de quebrar paradigmas, uma mudança desse vulto teria que romper padrões muito consolidados entre entes governamentais (municipais e estaduais) e empresariado do setor. Sem falar na mudança de legislação que pode ser necessária em alguns casos.
Como não vivencio muito outros exemplos no país, vou me ater ao caso de Brasília, ou melhor, ao DF e entorno, pois recentemente houve tentativas de ajustar valores praticados nas ligações do Plano Piloto e cidades do entorno.
"A livre movimentação de pessoas dentro do espaço urbano, é essencial para a vida das cidades." ressalta Circe num dos parágrafos de seu artigo.
E, como urbanista formada na Universidade de Brasília, tive oportunidade de conhecer vários estudos sobre o tema. Desde a época da faculdade, ao fazer estágio na extinta EBTU - Empresa Brasileira de Transportes Urbanos, pude conhecer projetos que previam Planos de Transportes que atendiam desde os pequenos municípios, até as metrópoles e Regiões Metropolitanas.
Vivi em duas cidades onde os transportes públicos tinham Planos integrados aos Planos Diretores Municipais. O projeto de Uberlândia - MG teve consultoria de Jaime Lerner, e o que ele como profissional e Prefeito de Curitiba implantou na capital paranaense. Em quatro anos que morei naquela cidade do Triângulo Mineiro, pouco ouvi de reclamações dos usuários do sistema local. Fiz diversas "viagens" para conhecer. E usei como "estudo de caso" em aulas de Projetos Urbanos anos depois quando dei aula numa faculdade particular em Brasília.
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Agora, os exemplos da gestão de transporte público em Brasília, pouco ou quase nada de positivo tenho a mencionar, infelizmente. Tentativas para melhorar foram muitas, esbarrando em lobbies ou pressões do empresariado do setor. Projetos de integração custaram a surgir, e não avançaram o suficiente.
Quando temos turistas na cidade, muitos se espantam do metrô só atender uma parte do DF. "Não vai para a Asa Norte ainda?" "As cidades satélites do lado norte não tem previsão de serem contempladas com linha de metrô?" Essas e outras perguntas já ouvi de visitantes e de alunos em discussões que fazíamos durante as disciplinas que abordavam projetos de expansão urbana.
E como não citar o caso do VLT que iria até o Aeroporto da capital a tempo da Copa de 2014? Muitos anos antes, em reuniões entre a Infraero (empresa pública que na época ainda era responsável pela Administração do Aeroporto) e os órgãos do DF responsáveis pelos Transportes, alternativas de rotas e adaptação do Plano Diretor do Aeroporto para contemplar a rota e as estações daquela inovação foram inseridas. Para que mesmo?
Ao usar o mesmo tipo de transporte no Rio de Janeiro, saindo de uma estação de metrô usando o mesmo cartão para chegar ao Aeroporto Santos Dumont, dá uma sensação enorme de que em nossa capital, o ritmo é outro, infelizmente.
Então, falar em gratuidade quando nem se consegue implantar modelos adequados para atender à população que precisa do transporte urbano para se locomover de casa ao trabalho e escola no DF e cidades de entorno (do estado de GO principalmente), me parece ainda prematuro na nossa capital, infelizmente.
Sonho? Talvez. Utopia, quem sabe?
Lilian Neves - urbanista - abril 2023