Um breve resumo do que mais gostei no livro “A Startup Enxuta”
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Um breve resumo do que mais gostei no livro “A Startup Enxuta”

Recebi a indicação do livro “A Startup Enxuta” e resolvi lê, mas antes de apresentar o resumo dos trechos que mais chamaram minha atenção e tecer algumas observações, gostaria de destacar que o Gemini, um LLM Multimodal, do Google, me ajudou a não desperdiçar meu tempo na transcrição dos trechos desse livro. Dessa forma meu tempo na elaboração desse artigo foi otimizado e ainda consegui assistir à minha série preferida do momento.

Mas, então vamos à minhas observações. Dou aula de “Modelagem de Processos de Negócio” e na primeira aula gosto de fazer uma contextualização geral antes de entrar propriamente no conteúdo da disciplina. Começo falando sobre o Taylorismo (a administração científica e divisão técnica do trabalho), em seguida abordo o Fordismo (a organização do trabalho industrial com a criação das linhas de montagem), por fim, a Gestão da Qualidade Total desenvolvida pela Toyota.

Por quê contei tudo isso? Porque fiquei muito feliz ao ler um livro que fala sobre startup, um assunto tão moderno, referenciar Taylor, Ford e a Toyota. Mostrou que fiz uma excelente escolha ao montar essa aula introdutória com esses temas.

Outro ponto que me chamou a atenção foi o Capítulo 9, Desagrupar, que mostra a vantagem de se trabalhar com pequenos lotes. Estava justamente falando sobre isso na minha última ida no trabalho presencial. Comentei sobre nossas experiências anteriores com projetos cujos lotes eram muitos longos e o quanto isso nos gerou retrabalho e dificuldades para fazer as entregas no prazo, ao contrário dos projetos de lotes pequenos, onde conseguimos desenvolver um trabalho excelente.

Mas, agora vamos aos trechos do livro que considerei interessantes. Em primeiro lugar, o nome "startup enxuta" tem como base a revolução promovida pela manufatura enxuta, um sistema da Toyota, desenvolvido por Taiichi Ohno e Shigeo Shingo.

Figura 1 - Taiichi Ohno

Foto:

O autor Eric Ries, explica que o pensamento enxuto ou lean, tem alterado radicalmente as cadeias de suprimentos, os sistemas de produção e não apenas isso, qualquer empresa desde as tradicionais até as startups. Eis os principais princípios do lean:

  • Aproveitamento do conhecimento e da criatividade dos trabalhadores;
  • Redução do tamanho dos lotes (não fazer um projeto com uma entrega muito grande e demorada e sempre está atento à necessidade do cliente);
  • Produção e controle de estoque just-in-time;
  • Aceleração dos tempos de ciclo.

Ries começa a introduzir o tema “A Startup Enxuta” citando que Henry Ford é um dos empreendedores mais bem-sucedidos e celebrados de todos os tempos e que como desde os tempos de Ford, a administração esteve ligada à história do automóvel, ele decidiu utilizá-la como metáfora para a explicar a “startup enxuta”.

Figura 2 – Henry Ford

Foto: Medium

De acordo com Ries, o veículo de motor à combustão interna é movido por dois ciclos de feedback importantes e muito diferentes. O primeiro fica dentro do motor. Antes de se tornar um executivo famoso, Ford, que era engenheiro, passava um grande tempo na garagem de casa testando a mecânica exata para movimentar os cilindros do motor. “Cada minúscula explosão dentro de um cilindro gera a potência motriz para girar as rodas, mas também efetua a ignição da explosão seguinte. Se a duração desse ciclo de feedback não for administrada com precisão, o motor engasga e para de funcionar” (p.28).

Para Ries, as startups têm um motor parecido, o qual ele chamou de motor de crescimento. Ele considera que os mercados e os clientes das startups e até mesmo de uma indústria tradicional são diversificados e não têm muita coisa em comum, porém todos contam com um motor de crescimento. Onde cada versão de um novo produto, cada novo atributo e cada plano de marketing é uma tentativa de melhorar esse motor. Assim como Ford experimentando em sua garagem, nem todas essas mudanças se refletem em melhorias. Boa parte do tempo de uma startup é calibrando o motor, o que se faz por meio de melhorias de produto, marketing ou operações.

No automóvel, o segundo ciclo de feedback acontece entre o motorista e o volante. Esse feedback é tão imediato e automático que praticamente não lembramos dele, afirma Ries, mas é a direção que diferencia as viagens de carro da maioria das outras formas de transporte. O método “Startup Enxuta” é projetado para ensinar a dirigir uma startup e nesse método em vez de bolar planos complexos baseados em um monte de suposições, deve-se fazer ajustes constantes com um volante denominado de ciclo de feedback construir-medir-aprender. Sendo assim, uma “Startup Enxuta” é um conjunto de práticas destinadas a ajudar empreendedores a aumentar suas chances de construir uma startup bem-sucedida.

Mas, o que é mesmo uma startup? Uma startup é uma instituição humana projetada para criar um novo produto ou serviço sob condições de incerteza extrema (p. 35).

De acordo com Ries, qualquer um que esteja criando um produto ou um negócio sob condições de incerteza extrema é um empreendedor, quer saiba disso ou não, quer esteja trabalhando numa agência governamental, numa empresa financiada por capital de risco, numa organização sem fins lucrativos ou numa empresa com fins lucrativos e investidores financeiros.

Ries também destaca que o Sistema Toyota de Produção é provavelmente o “sistema de gestão mais avançado do mundo, e mais impressionante é o fato de a Toyota ter desenvolvido a organização de aprendizagem mais avançada da história, que se demonstrou capaz de fazer deslanchar a criatividade dos funcionários, de permitir um crescimento consistente e de criar produtos inovadores incansavelmente no decorrer de quase um século” (p.194).

Para o autor, esse é tipo de sucesso de longo prazo que os empreendedores devem buscar. Porém, ele alerta que apesar de poderosas, as técnicas de produção enxuta são apenas uma manifestação de uma organização com alto nível de funcionamento comprometida em alcançar o desempenho máximo empregando as medidas corretas de progresso a longo prazo. O processo é apenas o alicerce sobre o qual pode-se desenvolver a cultura de uma grande empresa, mas sem esse alicerce os esforços para encorajar a aprendizagem, a criatividade e a inovação não levarão a lugar nenhum. A "Startup Enxuta" só funciona se for possível construir uma organização tão adaptável e rápida quanto os desafios que ela enfrenta (p.195).

Por fim, segue um dos trechos que mais gostei, Ries, cita o livro Princípios de administração científica, de Frederick Winslow Taylor, um livro com mais de 100 anos.

Figura 3 - Frederick Winslow Taylor

Fonte: ADM UAST UFRPE

Ries destaca que o movimento da administração científica mudou o rumo do século XX. Para ele, Taylor efetivamente inventou o que hoje consideramos administração:

  • Melhorar a eficiência dos trabalhadores individuais;
  • Administrar por exceção (concentrar-se apenas em resultados inesperadamente bons ou ruins);
  • Padronizar o trabalho em tarefas;
  • Sistema de compensação segundo tarefa mais bônus;
  • A ideia de que o trabalho pode ser estudado e melhorado pelo esforço consciente.

Para Ries, Taylor inventou o trabalho moderno nos escritórios e enxergou as empresas como sistemas que devem ser administrados não somente no nível do indivíduo. Ries cita que em 1911, Taylor escreveu: "no passado, o homem estava em primeiro lugar; no futuro, os sistemas devem estar em primeiro lugar". Previsão que se realizou. Estamos vivendo no mundo imaginado por Taylor.

No entanto, Ries argumenta que apesar de Taylor ter pregado a ciência como um modo de pensar, muitas pessoas confundiram sua mensagem com as técnicas rígidas que ele defendia:

  • Estudos de tempos e movimentos;
  • O sistema diferencial de remuneração por peça;
  • A ideia de que os trabalhadores devem ser tratados como pouco mais do que autómatos.

Por consequência muitas dessas ideias se mostraram extremamente nocivas e necessitaram o esforço de teóricos posteriores para serem desfeitas. Felizmente, a manufatura enxuta redescobriu a sabedoria e a iniciativa escondidas em cada trabalhador de fábrica e redirecionou a noção de eficiência de Taylor, afastando-a da tarefa individual e conduzindo-a na direção do organismo corporativo como um todo. Mas cada uma dessas revoluções subsequentes abraçou a ideia central de Taylor, de que o trabalho pode ser estudado cientificamente e melhorado com uma rigorosa abordagem experimental.

Ries considera que no século XXI, enfrentamos um novo conjunto de problemas que Taylor não poderia ter imaginado e achei sua percepção bem interessante:

Nossa capacidade produtiva excede em muito nossa capacidade de saber o que produzir. Ainda que tenha havido uma quantidade enorme de invenções e inovações no início do século XX, a maior parte delas foi dedicada a aumentar a produtividade de trabalhadores e máquinas com o objetivo de prover alimentação, vestimentas e abrigo à população mundial. Esse projeto permanece inacabado, como podem atestar os milhões de pessoas que vivem na pobreza, só que agora a solução é estritamente política. Temos a capacidade de construir praticamente qualquer coisa que imaginarmos. A grande questão do nosso tempo não é "Isso pode ser construído?", e sim "Isso deve ser construído?". O que nos coloca num momento histórico incomum: nossa prosperidade futura depende da qualidade de nossa imaginação coletiva (RIES, p. 258, 2011).

O Autor também fez uma citação de Taylor, também datada de 1911, que mostra o quanto Taylor tinha uma visão de futuro e além de se preocupar com o desperdício e a escassez dos recursos naturais também pensava na otimização do trabalho:

Vemos nossas florestas desaparecendo, nossa energia hidráulica sendo desperdiçada, nosso solo sendo carregado por enchentes até o mar. E o fim do nosso carvão e do nosso ferro está à vista. Mas os maiores desperdícios de esforço humano, que acontecem todos os dias através e atos disparatados, mal direcionados ou ineficientes (...) são menos visíveis, menos tangíveis e avaliados apenas vagamente. Vemos e sentimos o desperdício das coisas materiais, mas os movimentos desajeitados, ineficientes ou mal direcionados dos homens não deixam para trás nada visível ou tangível. A avaliação deles exige um ato de memória, um esforço da imaginação.

Ries questiona: um século depois, o que podemos dizer sobre essas palavras? “Nós, do século XXI, temos uma consciência exacerbada da importância da eficiência e do valor econômico dos ganhos de produção. Nossos locais de trabalho são incrivelmente organizados em comparação com os da época de Taylor” (p.259). Contudo, Ries, alega que apesar de toda a nossa eficiência, nossa economia ainda tem muito desperdício e que esse desperdício é resultado não da organização ineficiente do trabalho, mas de se trabalhar em coisas erradas e numa escala industrial. Para reforçar isso, o autor cita Peter Drucker: "Certamente não existe nada tão inútil quanto fazer com grande eficiência o que não deveria ser feito."

Com base nisso, o livro “A Startup Enxuta” acredita que a maioria das formas de desperdício na inovação é evitável desde que suas causas sejam compreendidas. Não basta exortar os trabalhadores a se esforçarem mais, pois os problemas atuais são provocados por excesso de esforço aplicado nas coisas erradas. Ao nos concentrarmos na eficiência funcional, perdemos de vista o verdadeiro objetivo da inovação: aprender o que é desconhecido neste momento. Por fim, o livro defende o princípio de que o método científico pode ser usado para responder à pergunta mais premente sobre inovação: como desenvolver uma organização sustentável em torno de um novo conjunto de produtos ou serviços? Além disso, mostra por meio de exemplos, como aplicar os princípios da “Startup Enxuta” que ocorrem por meio do ciclo de feedback construir-medir-aprender.

Referência

RIES, Eric. A Startup Enxuta: Como usar a inovação contínua para criara negócios radicalmente bem-sucedidos. Rio de Janeiro. Sextante. 2011.

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