Um debate entre alienados.

Vivemos em nosso país em uma sociedade composta em grande parte de analfabetos completos, ou ainda de analfabetos funcionais, e, talvez pior ainda, por alfabetizados, porém completamente iletrados, sem o hábito da leitura. Esse é um campo aberto para a manipulação, seja midiática, ou de quaisquer outras fontes.

Apesar do advento da internet, o principal meio de obtenção de notícias (raramente compostas de informações relevantes) ainda é para a grande maioria da população, em particular a brasileira, a televisão. Isso gera distorções e cria uma sociedade sem defesas mentais para evitar desmandos e manipulações que lhe são impostas. E o que é pior, para até mesmo perceber que está havendo esse desmando e manipulação.

Um sintoma da fraqueza de nossa sociedade são as mudanças comportamentais influenciadas diretamente pelas telenovelas.

Basta aparecer um personagem com vícios, misógino, ou com histórico de abuso contra as mulheres, para aumentar as frequências a grupos de apoio tipo alcoólicos ou narcóticos anônimos, ou haver um aumento de casos de denúncias em delegacias de mulheres.

Não se trata aqui de julgamento de mérito do exemplo televisivo em si, até por que os exemplos citados a princípio contribuem para o avanço social. O cerne da questão é que se trata de uma sociedade altamente influenciável e fraca mentalmente, pois é composta de pessoas que  dependem de exemplos fictícios para tomarem certas atitudes até mesmo sobre suas vidas pessoais.

Pessoas que enxergam o mundo apenas através de imagens já digeridas jogadas diretamente sobre suas retinas não desenvolvem o mínimo senso crítico sobre a realidade em que vivem. Aceitam tudo passivamente, ou então, reclamam e contestam apenas no nível mais superficial, expondo apenas chavões e frases feitas.

As pessoas debatem ? Discutem? Sim, não há dúvida quanto a isso. A grande questão é que mídia define sobre o que as pessoas devem discutir e quando as pessoas devem discutir. O assunto que está em voga no dia a dia das pessoas é aquele que a mídia (principalmente a televisiva) determinou que deve ser o assunto do momento.

É como se estivéssemos presos mentalmente, forçados a caminhar em círculos, em pensamentos limitados concêntricos que não se expandem nunca.

Essa situação impede as pessoas de ampliarem o espectro de percepção da realidade. Ou seja, fica impossibilitado o acesso a novos valores, novos conceitos, novos ideais, novas opiniões. Não há espaço para a polêmica, o choque, o confronto, o debate, a contestação minimamente mais aprofundada.

Isso cria uma sociedade ao mesmo tempo alienada e intolerante. Uma sociedade que rechaçará qualquer nova opinião ou uma nova visão da vida que não seja aquela a qual estão todos acostumados. Isso fica claro na maioria dos "debates" e comentários em qualquer rede social atualmente. Não há espaço para uma defesa de idéias, para o contraditório, da exposição clara e organizada de idéias. Não há a capacidade de uma conversa com uma tese, antítese, e a consequente sintese. As idéias e pensamentos estão presos.

A falta de leitura gera um vácuo na mente das pessoas. Um vácuo de pensamentos, do tipo que possam ser  elaborados acima do óbvio e da repetição alienante. Esse vácuo mental e de pensar é facilmente preenchido por oportunistas, das mais diversas matizes.

Incutindo nas pessoas a noção de realidade que lhes seja a mais conveniente.

Uma "pax" conveniente. Alías, como toda "pax".

Está criado o cenário de totalitarismo. E em plena aparência de democracia.

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