Um Jeito Inteligente de não Ser Artificial

Um Jeito Inteligente de não Ser Artificial

A primeira vez que provei a IA, senti como se estivesse trancado em um buffet infinito.

Desde o lançamento dos primeiros modelos eu mudei a minha dieta diária.

Passei a consumir compulsivamente tudo o que estava disponível em cada ferramenta.

Percebi um aumento impressionante de "produtividade".

Foi mágico.

Parecia um tipo de sonho, como se a ficção tivesse, paradoxalmente, deixado de existir. Agora, era real; eu podia falar com uma máquina!


“We shape our tools and thereafter our tools shape us.” Marshall McLuhan


Fiquei tão viciado que virava noites imerso naquele mar de possibilidades.

Cada mergulho era literalmente um flash.

A possibilidade de simular personagens com os quais eu podia interagir, como se eu estivesse em uma sala cheio de pessoas interessantes, falando sobre os assuntos que mais me roubam a atenção, era simplesmente inimaginável.

No entanto, como todos sabem, depois da lua de mel, veio a ressaca.


Ainda amo essa figura maravilhosa com quem escolhi, de livre e espontânea vontade, me "casar".

Será impossível viver sem ELA, daqui pra frente.

No entanto, percebi que não posso permitir que a última palavra seja a DELA.

Sou obrigado a contestar, debater e conferir tudo o que ELA diz.

Essa relação vai me exigir um tipo de "anticonveniência", já que é mais fácil me entregar aos encantos de todas as facilidades que ELA me oferece.

Percebi que, ao longo desse namoro, noivado e, agora, casamento, eu perdi parte da minha identidade, da minha assinatura pessoal.

O meu estilo próprio foi embaçado, aos poucos, dando lugar para camadas extras de interferências externas.


“Vulnerability is the birthplace of innovation, creativity and change.” Brené Brown


- Claro que toda ajuda é bem-vinda - você deve estar pensando.

Mas, é muito fácil a gente cruzar a fronteira entre o processo orgânico de aprendizado e o mero delegar sem a menor crítica, esperando que o resultado saia prontinho do outro lado, assim como se mói carne em um açougue.

Relações em que uma das partes deixa para o outro resolver tudo, deitando-se eternamente em um berço esplêndido, recheado de conveniências, mata toda e qualquer possibilidade de sermos minimamente originais.

É preciso a discórdia saudável, a disputa organizada, a contestação inteligente, a divergência equilibrada, a revisão nutritiva, a diversidade orgânica, e tudo aquilo que possa oferecer um grau de rebeldia que tira as coisas do lugar e oferece renovo e oxigenação.

A beleza de ter tudo na mão à velocidade da luz, me deixou mal acostumado.

Impossível não se sentir seduzido com a possibilidade de publicar ideias que têm apenas 10% ou menos da sua contribuição, e dizer que são suas.


"The purpose of thinking is to let the ideas die instead of us dying." - Alfred North Whitehead


As facilidades do mundo digital vão levar à extinção um sem números de futuros possíveis, caso a escolha seja sentar e deixar algoritmos assumirem 100% do processo de decisão.

O toque humano não precisa ser romantizado, por um simples instinto de sobrevivência.

A tecnologia é a nossa filha mais nova. Evitemos de estragar a sua educação, mimando-a com todas as facilidades.

ELA precisa entender quanto custa evoluir através de tropeços, falhas, discordâncias, micos, vergonha, sufoco, desespero, desconforto, desconfiança, vulnerabilidade, etc., etc., etc...

Como ELA vai demorar a "entender" isso, fica pra gente abraçar esse desafio e tomar cuidado para que os prazeres da tecnologia não nos faça tão emocionalmente frágeis, a ponto de nos tornar inúteis.

Duro desafio, mas uma batalha necessária.


A perguntas que ficam são:

Quando foi a última vez que você desafiou uma resposta da IA?

Quando foi a última vez que você desafiou a si mesmo?

Quem, afinal, educa quem?


MARZIA PICCOLO

técnica em hotelaria/ hospitality management

3 d

Muito bem . Não deixo de orientar meus textos, revisar e muitas vezes exigir que saia daquilo já pré estabelecido como aceitável

Adrian Tsallis

Te ajudo a construir soluções digitais que otimizam o negócio e dou vida a MVPs // TED X Speaker // Pai do Enzo e Nina

3 d

Temos que usá-la como uma ferramenta para nos ajudar a fazer questionamentos cada vez mais complexos.

Flavio Zorzetto

Mentor de líderes e profissionais | Top Voice Desenvolvimento de Liderança | Mentor de carreira | Consultor de empresas em práticas atuais de gestão de pessoas | Educador Corporativo e Palestrante

3 d

Muito bom, WILLIAM BARTER. Acho que todos vivemos essa batalha entre a entrega e a desconfiança. Eu também estou convivendo muito com ELA, mas sempre tenho um pé atrás.

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