UM NAZISTA NA SECRETÁRIA NACIONAL DA CULTURA 2020
Eis que acordo – bebo café, e sigo na rotina de mais um dia. Dias caóticos no Brasil e no mundo. As noticias do jornal da cidade relatam os fatos cruéis da realidade das ruas: mortes por acidentes de trânsito, reinvindicações de problemas de infraestrutura, ruas esburacadas, calçadas precárias, falta de médicos nas unidades básicas de saúde, a greve interminável dos professores que se arrasta por décadas... Em fim, um quadro crítico para se resolver o quanto antes. Ao verificar a minha caixa de e-mails, deparo-me com o seguinte link contendo a manchete: “Secretário nacional da Cultura, Roberto Alvim faz discurso sobre artes semelhante ao de ministro da Propaganda de Hitler.”
Quando resolvo verificar do que se trata, o caso já havia repercutido muito mal nas redes sociais, e logo em seguida nos principais jornais do mundo. Quem dera não passasse de mera semelhança retórica, quem dera. Basta comparar os discursos do então secretário Roberto Alvim, divulgado nesta quinta- feira (16/01/2020) com o discurso do Ministro da Propaganda de Adolf Hitler – Joseph Goebbels que consta do livro “Joseph Goebbels: Uma biografia”, do historiador alemão Peter Longerich.
O discurso de Alvim em vídeo no YouTube tinha a intenção de divulgar o prêmio de patrocínio a obras artísticas – tão necessário no país; mas que tipo de arte alguém “simpático” a ideologia nazista pretende patrocinar? Veremos. O fato é que se trata do mesmo discurso feito por Goebbels: “A arte alemã da próxima década será heroica, será ferrenhamente romântica, será objetiva e livre de sentimentalismo, será nacional com grande páthos e igualmente imperativa e vinculante e, ou então não será nada”. Outras referências ao nazismo podem ser analisadas no vídeo; estão aí para quem quiser ver. A música de fundo escolhida é a obra Lohengrin, de Richard Wagner (1813 -1883), esse artista foi um maestro e compositor alemão que escreveu ensaios nacionalistas e antissemitas, tomado pelos nazistas como exemplo de superioridade musical e intelecto.
Os nazifascistas se escondiam atrás da arte, da religião, da filosofia e da ciência. Eles gostavam mesmo era de vender a arte dos povos que saqueavam, assim alimentavam a indústria bélica... Não existe outra forma de compreender o nazismo sem levar em conta o momento histórico em que viviam – propenso a tornar as pessoas insanas. A hiperinflação desvalorizou a moeda alemã fazendo com que um pão custasse milhares de marcos. A história das civilizações está repleta de exemplos de líderes políticos insanos, a ideologia do regime nazifascista ainda é algo recente na história, parece ser uma espécie de vírus mutante que ressurge em momentos caóticos. O bode expiatório pode ser qualquer um que se enquadre no grupo de ódio desse pessoal doente. Os gregos antigos consideravam os povos bárbaros inferiores e utilizavam os prisioneiros de guerra como escravos; prática que passou para os romanos até os colonizadores da América, que matavam índios e negros como insetos. A cultura da violência aos “povos inimigos” acompanha a humanidade desde os primórdios da civilização. A escravidão, a inquisição católica, o genocídio indígena, e o holocausto judeu da segunda guerra mundial possuem em comum o mesmo funcionamento psíquico: – Uma elite com concentração de renda que detém o poder (judiciário, econômico etc.), ordena a aniquilação dos “indesejáveis”, os considerados inferiores. A história tem nos mostrado que eles estavam errados, mas ainda não aprendemos a tratar essa doença persistente nas sociedades humanas. Lembrando que o sonho de Hitler era implantar o reich de mil anos.
CRÔNICA, NATANAEL TELES
05/04/2020