Um olhar, de alguém de fora, para a área de TI
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Um olhar, de alguém de fora, para a área de TI

Poucas vezes tivemos tantas pessoas tão próximas e tão distantes, ao mesmo tempo, de uma área. Se por um lado contamos com inúmeros aplicativos para resolver todos os nossos problemas e vivemos quase que 24 horas conectados, por outro, quando falamos de tecnologia enquanto mercado de trabalho, nos sentimos peixes fora d’água.

Sou de uma geração de transição. Não nasci totalmente na era digital, mas também já não era tudo tão analógico quando comecei a me entender por gente. Conto, com certo saudosismo, que sou da época em que esperávamos meia-noite para poder entrar com a internet discada e, de preferência, com o provedor gratuito (quem nunca recebeu um CD de instalação da AOL para uso de 30 dias - e usou - que atire a primeira pedra).

O ponto é que tive a experiência de ver, ainda que não com a atenção merecida, a evolução acelerada da tecnologia e de vivenciar o impacto direto que essa evolução teve nas nossas vidas. Hoje, a forma como nos relacionamos é totalmente diferente. Não só um com o outro, mas com os serviços, com os produtos, com o consumo de informação e, de uma forma geral, com o mundo.

O impacto da tecnologia nos mais variados aspectos da nossa vida é inegável. Mas, se teve um espaço onde esse reflexo ainda não é tão poderoso como é em quase todos os setores onde a tecnologia pode ser aplicada, é na empregabilidade. Na hora que o jovem decide seu futuro profissional, as profissões convencionais ainda são, disparado, campeãs.

Mas por que será que quando chega o momento de definição de carreira que esse adolescente, que utiliza a tecnologia para tudo, deseja seguir, poucas vezes ele olha para a área de TI?

Enxergar esse setor como oportunidade é, primeiro, ter coragem de enfrentar alguns paradigmas, como “não é para mim, é muito complicado, preciso ter muito dinheiro, é coisa de nerd, meus pais acham que ficar no computador é só joguinho” e assim por diante...

Por diferentes motivos, tenho me aproximado da área de TI e isso me trouxe uma grata surpresa. Diferente do que muita gente pensa – e eu mesmo pensava – é uma área extremamente receptiva.

A comunidade da tecnologia da informação e comunicação é formada por pessoas que estão ávidas para contar com mais e mais gente dentro desse funil. São pessoas que querem trocar ideias em busca de solucionar problemas e têm no relacionamento – e não no sistema ou no código – o seu maior trunfo. É preciso desconstruir a imagem fria que muitos ainda têm do setor de TI. Acredite, é uma área de gente muito humana e muito, mas muito calorosa.

Tenho entendido, ao ouvir de tanta gente boa na área de tecnologia, que o principal componente de qualquer inovação são as pessoas que estão por trás dela e que qualquer solução tecnológica só será relevante quando ela agir nas dores que as pessoas sentem. Isso deixa claro que são, e sempre serão, as pessoas o ponto de início e fim para qualquer desenvolvimento dentro da TI.

Com isso em mente, é preciso dizer que sim, existem obstáculos a serem superados. Se você não ouviu que a área de TI tem milhares de vagas de emprego que não são ocupadas é porque você não tem visto ou lido jornais nos últimos anos. É importante refletir que se há esse apagão da mão de obra, a culpa não é só do desinteresse das pessoas, a culpa também é do mercado de TI.

Se foi formada essa imagem de que é um setor inacessível, é porque a comunicação da TI não é tão humanizada quanto as pessoas do setor são. Ouço de empresários que eles vão ensinar a pessoa a trabalhar, pagar R$ 5 mil por mês e que, mesmo assim, a pessoa não se interessa.

Uma coisa é fato: não existe ninguém que esteja em busca de trabalho que não queira aprender e ganhar cinco conto por mês.

Se esse discurso não surte efeito é porque a TI falha em causar reconhecimento em quem ainda não se identificou com a área. Quem olha de fora pensa que o setor é formado por gênios, autodidatas e pessoas que vão desenvolver startups e aplicativos de sucesso aos 14 anos e surfar essa onda o resto da vida.

Tudo bem, isso é um baita estereótipo, mas diz tanto sobre o olhar errado das pessoas sobre o setor quanto sobre a falha do setor em desmistificar esse estereótipo. O primeiro passo para isso é mostrar que quem se dedica, estuda e constrói conhecimento evolui e cresce na área da tecnologia como em qualquer outra área.

Contar histórias de sucesso, história de pessoas que fizeram da tecnologia uma ponte para mudar de vida, de pessoas que são “comuns” e que entraram nesse meio com o desejo de aprender e de fazer diferente e prosperaram é fundamental para causar esse reconhecimento e atrair mais pessoas para o setor.

A TI é vasta e, desde jovens em início de carreira até profissionais com tempo de atuação e originários dos mais variados setores, todos são bem recebidos. Independente da idade, qualquer pessoa pode (re)construir uma carreira de muito sucesso.

E, para a área, é imprescindível que mais pessoas se sintam atraídas, se insiram nessa comunidade, ainda bastante restrita, e contribuam para o crescimento do setor.

E é importante referenciar que quando digo que é um mercado possível, digo ainda com o olhar de alguém de fora. Não sou desenvolvedor, não tenho negócios na área de TI e ainda não sei exatamente qual será meu papel, ou se terei algum, em um setor que está sempre em movimento.

O que eu sei é que o ecossistema de inovação é um ecossistema que encanta, que é fervilhante e que, ao ter o primeiro contato com os atores desse ecossistema, dificilmente você não terá um interesse natural para, no mínimo, querer entender melhor como a área funciona.

Temos empresários, instituições de ensino, poder público, entidades e pessoas que ainda estão de fora olhando com interesse para o setor. Cabe ao ecossistema fazer o que tem feito muito bem: acolher esse pessoal e entender como, com todos juntos, o setor pode se desenvolver ainda mais.

Com as peças bem distribuídas e todos entendendo o seu papel, as soluções para que esse imenso abismo que se abriu entre as pessoas e o mercado de trabalho da tecnologia seja, pouco a pouco, fechado serão encontradas.

Então, se posso dar uma dica para quem está curioso sobre o setor é: se permita conhecer um pouco mais. O caminho entre ser um usuário e ser um desenvolvedor de tecnologia não é tão espinhoso quanto parece e tem muita gente e muita instituição de braços abertos para te ajudar nessa jornada.

Mauro Andrade

Analista Desenvolvedor Sênior na Tata Consultancy Services

2 a

Boa... 😎

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