Um Outro Olhar: Tesla x Uber
O CEO da Tesla, Elon Musk, revelou na quinta-feira (10/10) sua visão de um “futuro divertido e empolgante”, uma “era de abundância” cheia de carros autônomos de sua empresa, sem volantes, com estacionamentos transformados em parques e robôs caminhando entre a população, todavia, investidores que acompanharam o evento " We, Robot ", realizado pela Tesla na Califórnia, ficaram decepcionados com a falta de detalhes sobre os planos da companhia de Elon Musk para viabilizar a direção autônoma em seus veículos e as ações da Tesla abriram em queda de 9,4% no dia seguinte ao evento. No caminho inverso, as ações da Uber saltaram 10,81%, já que o robotáxi poderia ser uma ameaça real ao modelo de negócios e à posição de mercado da Uber nesta indústria de corridas.
A Uber já tem um interesse antigo no futuro com “carros autônomos” e anunciou que, a partir de 2025, clientes poderão utilizar carros autônomos da Cruise por meio de sua plataforma de transporte. Para quem não lembra, a Cruise, uma subsidiária da General Motors, foi obrigada a interromper suas operações após um incidente grave envolvendo um de seus veículos: o carro, que estava operando sem motorista, atropelou e arrastou um pedestre, resultando em ferimentos graves que mantiveram a vítima hospitalizada por meses.
Um outro olhar que quero trazer sobre as notícias recentes destas duas empresas tange ao futuro dos motoristas de aplicativos. Esta atividade cresceu como a opção diante da escassez de ofertas de empregos em outros mercados e poucos motoristas nesta atividade tem a mesma profissão (diferente dos motoristas de táxi no passado). Muitos começaram como motoristas de aplicativos quando se viram desempregados e não conseguiram uma recolocação em suas antigas profissões e outros fazem da atividade um complemento à atividade que exercem “de CLT”.
O IBGE , pela primeira vez, fez um levantamento dos brasileiros que trabalham para aplicativos e encontrou 2,1 milhões de trabalhadores que obtêm sua principal fonte de renda nessas plataformas. Desse total, 1,5 milhão atuam como motoristas de serviços de passageiros ou entregadores de comida e produtos.
Os dados apontam que os chamados trabalhadores "plataformizados" já representam 2,4% da força de trabalho brasileira.
A entrada dos carros autônomos ameaça um mercado de trabalho já precarizado, no qual as pessoas que já estão encontrando dificuldade em outros mercados foram buscar sua renda.
Ao contrário de Musk, que “acredita em um modelo de negócios interessante onde alguém que é um motorista do Uber ou Lyft hoje poderá gerenciar uma frota de CyberCabs com 10-20 carros, e cuidar deles, como um pastor cuida de seu rebanho”, eu acredito que concentraremos ainda mais a renda na mão de poucos.
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Quem terá estes 10, 20 ou quem sabe 100 veículos autônomos não será com certeza o motorista do Uber de hoje que mal consegue fazer a conservação do veículo e reservar parte dos seus rendimentos para um seguro, plano de saúde e uma reserva de patrimônio.
Imaginem o extremo com a entrada dos carros autônomos: essas plataformas já milionárias poderiam operar sem dividir o lucro com ninguém!
Outros mercados como o do call center, que por décadas garantiu o primeiro emprego de muita gente ou o preenchimento de uma lacuna enquanto o profissional buscava uma recolocação em sua área, sucumbiu diante dos atendimentos automáticos e afetou inclusive o sistema imobiliário, pois ocupavam diversos andares de prédios comerciais e até prédios inteiros.
Sistemas de entregas com drone e veículos autônomos também devem afetar o já precarizado serviço de entregas.
O avanço das tecnologias trouxe consigo a promessa de dias melhores, pois suplantariam o trabalho braçal e exaustivo do homem. Contudo, no livro “Como Vejo o Mundo”, de 1932, o Físico Albert Einstein faz a seguinte observação:
“Será preciso um conjunto de medidas harmoniosas vindas da comunidade, para realizar entre os homens uma justa repartição do trabalho e dos produtos de consumo. Sem isso, a população do país mais rico se asfixia. Como o trabalho necessário para as necessidades de todos diminuiu pelo aperfeiçoamento da tecnologia, o livre jogo das forças econômicas não consegue sozinho manter o equilíbrio que permita o emprego de todas as forças de trabalho.”
Precisamos, enquanto há tempo, pensar em como garantir emprego para todas as forças de trabalho. Não vejo surgirem novas profissões em volume compatível à demanda necessária às atividades que vão se extinguindo pouco a pouco.