Um pouco sobre oportunidades e coragem

Dos 15 aos 20 anos de idade a cidade era parte cotidiana da minha vida. Andava muito pelas ruas do bairro que morava, era ônibus para lá e para cá, estudava em outra cidade próxima, enfim. Não havia “perigo” em andar por aí. A partir dos 23 anos o carro entrou na minha rotina e, de lá para cá, dez anos depois, o andar pela cidade tornou-se o dirigir de A à B.

Nesse meio tempo veio também a maternidade, assim eu me tornei a pessoa que enxerga o andar na cidade como uma ameaça a ser evitada. O carro me traz uma sensação falsa de segurança e eu evito – o máximo que posso – caminhar livremente por ruas que ainda não conheço, imagina com os filhos. Minha mente apocalítica entra em ação.

Hoje, algo aconteceu. Desde segunda-feira me programei para buscar minha filha na escola a pé. Um trajeto de 2,5 quilômetros. Eu iria e voltaria com ela a pé. Foi uma semana de preparação mental e foco de que nada de ruim aconteceria, afinal, seria 11h30 e teria movimento, eu não estaria sozinha.

Ao sair de casa, o céu estava lindo e a gente se divertiu. Achamos uma pista de skate próxima, passamos na feira, voltei revigorada do almoço pensando em uma só coisa: quantas oportunidades deixamos passar pelo medo de que algo apocalítico aconteça?

Por fim, me veio o livro da Renné Brown na mente, e me questionei: se não conseguimos nos proteger das tragédias que podem ocorrer na vida, por quê passar a vida tentando evitar algo que não controlamos?

“A escuridão não destrói a luz; ela a define. É o nosso medo do escuro que lança nossa alegria nas sombras”.

Hoje entendi que viver sem coragem de expor-se ao que nos dá medo talvez não seja viver. Se vou conseguir superar todas as necessidades de controle que tenho num passe de mágica? Com certeza não. Mas posso garantir que pensarei melhor sobre as oportunidades cotidianas – profissionais e pessoais – que deixo escapar. Afinal, sermos vulneráveis pode trazer mais recompensas deliciosas no final do dia do que experiências apocalíticas.