Um relato sobre o meu processo de aprendizagem e a educação
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Um relato sobre o meu processo de aprendizagem e a educação

Ano passado eu me formei na segunda graduação. Foram seis anos estudando, sem interrupção.

Prestes a retornar à sala de aula, analiso tudo que percorri até aqui e os próximos passos dessa minha caminhada.

Gestão de Recursos Humanos, em seguida Administração de Empresas. Foi uma rotina pesada, até porque, por conta das minhas decisões do passado, pulei a etapa do estágio, então tinha uma jornada de nove horas de trabalho, mais umas 4 ou 5 em transporte público, outras quatro na faculdade.

O resto eu dividia entre dormir, me divertir ou fazer os trabalhos acadêmicos. Era uma rotina louca, mas necessária.

Uma vez um professor me indagou, na frente de todos os outros alunos:

"José, o que é mais importante para você? A faculdade ou o trabalho?"
– Professor, com a faculdade eu tenho o meu trabalho atual e graças ao trabalho, que eu pago a minha faculdade. Os dois são importantes. Um me dá o conhecimento e outro a condição de obtê-lo.

Confesso, que nem eu tampouco ele esperava uma resposta assim. Apesar de parecer agressiva, quando escrita. Eu falei, com certa naturalidade em meu tom de voz, e ele respeitou meu argumento.

Eu tinha uma viagem agendada por conta do trabalho e a data coincidiu com uma prova. Felizmente, pude fazê-la em outra oportunidade.

Durante muito tempo eu refleti se deveria escrever sobre esse tema, muito pelo fato de não ser um profissional da área. Mas sou consumidor de ensino, invisto meus recursos financeiros e gosto da área. E após tantos anos consumindo, me sinto credenciando a tratar o tema.

Antes de mais nada, o meu investimento

Só de faculdade, foram seis anos, divididos em dois cursos.

Não fiz o curso técnico profissionalizante, mas acrescento aí, mais dois anos de cursinho pré-vestibular.

Continuando a conta, mais três anos de Ensino Médio, oito anos de Ensino Fundamental, um ano de Pré-escola e outro de Jardim da Infância.

Considerando uma média de 4 horas/ dia, 200 dias/ano, por 21 anos, tenho um total de 16.800 horas dedicadas e investidas em educação, ou na prática, 700 dias completos de vida.

O investimento foi e ainda é altíssimo, tanto em carga horária, quanto financeiramente. Logo mais voltarei para a sala de aula para aprender um pouquinho sobre BI e esse número irá aumentar.

Com você, possivelmente o número de horas/ dias não está tão distante do meu. É coisa pra caramba!

Hoje, eu tenho 31 e 21 eu passei dentro de sala de aula.

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O ponto de partida: a minha visão sobre Evolução da Tecnologia X Método de Ensino

Foi um tempão vivido em sala de aula, e apesar de não lembrar de como usar muitas coisas vistas na escola, como as características e autores da literatura no século 19 ou mesmo como realizar o cálculo da massa molar, eu me lembro bem do formato de sala de aula que eu vivenciei durante todo esse período, desde a escola de formação fundamental até mesmo a faculdade.

Carteiras enfileiradas, professor como autoridade-mor dentro sala de aula, um quadro gigante, que durante o tempo deixou de ser negro e a giz, para se tornar branco com canetões e auxílio de slides.

No processo de chamada, uma coisa mudou, lembro que no período do Ensino Fundamental eu era apenas um número e com o passar do tempo,virei meu nome.

Deixei de ser o número 27 ou 28 na chamada para ser o José Carlos.

O mundo evoluiu muito do fim do século passado para cá

Essa frase é clichê, eu sei!

Nesses 21 anos vividos na sala de aula, muito do que é o mundo hoje passou por uma transformação gigante, se hoje temos conexão de banda larga, até mesmo em nossas mãos, no passado eu tive de ir à biblioteca para fazer trabalhos acadêmicos.

Hoje a tecnologia se tornou imprescindível no processo de aprendizado.

Com essa virada que tivemos, o método de ensino precisava acompanhar para não ficar para trás. E o sentimento é justamente o contrário, de que não acompanhou.

Volume de informações altíssimo comparado há 10 anos atrás

O volume de informações que absorvermos hoje é absurdamente maior do que dez anos atrás. E esse crescimento tende a ser cada vez maior.

E nem é preciso ser expert para concluir que um volume alto de dados num curto tempo para receber, processar e assimilar não é nada produtivo. Áreas e tecnologia foram criadas para processar isso, por conta de ser muito apenas para um ser humano.

A curva de concentração

Conseguimos nos manter em concentração durante um certo tempo e depois naturalmente perdemos o foco, e isso não ocorre apenas durante uma determinada aula. Em uma conversa longa, sobre um determinado no tema.

No trabalho enquanto analisamos números, na escrita, na revisão de um texto ou qualquer outra atividade. Até mesmo em um parágrafo muito grande. Se trata da nossa curva de concentração.

Com tanta informação e tecnologia em nossas mãos,podemos dizer que nossa capacidade de concentração se vê dividida.

Cursos Online X EAD Superior

Esses dias estava conversando com um amigo sobre um curso online que estou fazendo, cada aula tem média de 10 minutos, algumas com tempo menor de cinco ou seis minutos e outras com, 15 a 20.

Esse tipo de curso apresenta duas vantagens, o aluno consegue administrar melhor o seu tempo e como a mensagem a ser transmitida é objetiva e curta, consegue manter o grau de concentração alto, durante o tempo todo. Dessa forma a absorção de conteúdo é mais eficaz.

O processo de aprendizagem continua, após o término da aula e aguça a vontade do espectador em buscar outras referências para complementar o desenvolvimento no conteúdo.

Na minha última graduação, algumas aulas eram no formato online, algumas com duração superior a 50 minutos. Conseguem imaginar uma comunicação unilateral por tanto tempo? Quanto disso será convertido em aprendizado?

A sala de aula

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Muitas vezes dentro de sala, a aula é dividida em dois blocos, separados por um intervalo de 15 a 20 minutos, que no caso da faculdade, os alunos utilizam para comer algo, resolver algum problema na secretaria, ou mesmo retirar alguma impressão ou na biblioteca.

Além do volume de informação/ tempo ser alto, não há tempo para descanso, tornando improdutivo o restante da aula, fugindo do aprendizado.

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O celular ainda é visto como vilão dentro de sala de aula

Lembro de uma aula na faculdade, quando o professor pediu a um aluno que guardasse seu celular.

O celular hoje é um item imprescindível para qualquer ser humano. Assim como não saio de casa sem as calças, também não saio sem celular – a não ser que queira ficar desconectado do mundo digital.

Não se trata de falta de respeito com o professor, já é um hábito orgânico. De repente é necessária concentração de energia em como explorar o celular da melhor maneira durante as aulas.

Cultura da recompensa x Sistema de avaliação

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Na sala de aula criamos a cultura do reconhecimento a todo momento. O sistema de avaliação, que deveria ser algo positivo, não é encarado assim, pelo menos por mim. Buscamos uma recompensa, e nem sempre se trata do conhecimento.

Já no primeiro dia de aula queremos saber exatamente quais serão as regras do jogo, as datas das provas, o peso de cada uma, a atividade extra que complementará a nota. Se o professor faz chamada ou não.

Me formei e foram duas graduações, e durante boa parte do processo, eu segui o manual com as regras do jogo.

Isso me faz pensar: não deveríamos nos preocupar com o que será ensinado?

Sempre gosto de lembrar do Rubem Alves, quando falo desse tema. Ele se refere à educação como algo apaixonante e é.

“...tudo, em nossas escolas, está orientado no sentido de testar os saberes. A questão do amor pelo objeto – seja a geografia,a história, as ciências – é estranha aos nossos objetivos educacionais. Não admira que, passados os vestibulares,quase tudo seja esquecido e os livros sejam esquecidos nas estantes. Às escolas e aos pais pouco importa o prazer que o aluno possa ter. O que importa é o boletim.”

Em outro artigo, publicado em 2009, Rubem Alves propôs que as avaliações fossem aplicadas, sem a necessidade de o aluno colocar o nome na prova, assim estaríamos avaliando o processo de aprendizado da maneira adequada.

Ao se preparar apenas para uma prova será possível obter resultado no curto prazo satisfatório, mas no dia a dia, será uma lacuna que não estará preenchida e somente com tempo, o entendimento das consequências dessa escolha.

Como um relacionamento que chegou ao fim

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Quando você decide fazer uma faculdade ou pós-graduação, existe todo um processo de construção para tal. Como se fosse um relacionamento.

Eu já estou animado novamente e só volto em Setembro.

Tem todo processo de conhecimento do curso e da instituição, conquista e a realização. E assim como um relacionamento, ele é regido de grandes expectativas, sobre até onde poderemos seguir desta maneira.

Aí você ouve ou fala meses depois ou no final do semestre acadêmico: “não vejo a hora de me livrar disso”.

O investimento é alto. O tempo doado é valioso e de repente queremos nos livrar disso?

É no mínimo estranho, não faz sentido. Se fosse um caso isolado, seria mais simples, só que é algo comum. Eu já falei algumas vezes e também ouvi algumas vezes. Não é invenção minha.

Essa culpa é dividida, tanto as insittuições, como nós, enquanto alunos. Tem que ser além do diploma ou um bom emprego. Estamos falando de aprendizado.

O Aprendizado deve ser construído com engajamento dos alunos

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Muito do meu incômodo surgiu por conta do processo seguir uma rota unilateral, do professor para o aluno. Enquanto eu acredito na construção contínua, interativa e iterativa.

Os alunos não podem ser espectadores ou coadjuvantes, eles precisam de protagonismo em sala, de colocar a mão na massa para o seu desenvolvimento. Quanto maior o engajamento dos alunos, melhor se torna o processo de construção do conhecimento.

Nota

É importante ressaltar que se trata da minha opinião sobre o tema, não que eu esteja com a razão. Mas quem discordar, deixa aí para a gente falar!

Esse artigo foi publicado originalmente em Textos do JC.

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Sobre o autor:

Sou o José Carlos, conhecido como JC, Zé, e para os mais antigos, Cacá. Apaixonado por música, literatura, cervejas e novos aprendizados.

Como todo profissional do século 21, estou na busca de minha reinvenção e adaptação no contexto que estamos vivendo. Estudo, trabalho e treino diariamente, corpo e mente.

Tive uma banda e com isso pude conhecer pessoas, estados e novas culturas. Isso me ajudou bastante a encarar o público e saber lidar com a pressão.

Leticia Alves

Psicóloga | Saúde Mental | Acolhimento | Gestão de Pessoas | Sucesso e Experiência do Cliente

5 a

Adorei o relato, a sinceridade e os detalhes. Keep going.

Adelane Rodrigues

Revisão Textual | Consultoria Linguística | Docência Superior

5 a

Achei incrível sua ideia do relato como consumidor, José Carlos! Parei a leitura no meio para calcular minha quantidade de anos em sala de aula. Não tenho certeza quanto ao ano que entrei na escolinha, mas a conta fica entre 20 e 21 anos. É tempo demais! Interessante você dizer que lembra exatamente o formato da sala de aula. Também vivi essa transformação do quadro negro (verde escuro) para branco, e do giz para o pincel (aqui, chamamos de pincel tanto o pequeno para desenhar quanto o grande usado no quadro). Estudei com uma menina de São Paulo e ela chamava “canetinha”, isso divertia a turma, não no sentido de piada, mas de curiosidade. Dar um número para o aluno facilita a chamada quanto à rapidez, pois o professor perde muito tempo acalmando os alunos no início da aula, chamando todos e registrando no diário. Por outro lado, o número dificulta saber o nome do aluno. Um dos impasses atuais é manter o aluno concentrado, seja aluno do nível básico ou superior, o celular é tratado como vilão por muitos professores. Porém, muitos docentes não foram/são preparados para utilizar as tecnologias digitais não sala de aula. Dessa forma, evitar é a “melhor solução”.

Thaís Gurgel

Escritora | Mediadora de clubes de leitura

5 a

Muito bem colocado seu ponto de vista José! Acredito que o aprendizado é muito mais uma construção do que algo que aparece já pronto. Precisamos refletir sobre o modo que aprendemos - ou apenas recebemos informação, que muitas vezes não é absorvida nem praticada.

Zé, me identifiquei demais com seu artigo. Pensei em varias coisas sobre o tempo dedicado a aprendizagem e principalmente em como, por varias vezes, achei que a carga era insuficiente. Parabéns pela linha de raciocínio e sobretudo pela clareza nas exposição de suas ideias. Pode ter certeza que você fez com que eu refletisse sobre minhas prioridades e meu valor.

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