4 coisas que só aprendi após a segunda faculdade
"Se você for aquele tipo de profissional ou estudante que só busca aprender aquilo que te obrigam, sua trajetória profissional pode ser bem mais complicada."
Você tinha menos de 20 anos , pouco conhecimento sobre o mercado de trabalho e ainda assim teve que escolher que curso superior iria fazer. Isso, por si só, já era suficiente para criar um problema que você teria que lidar por anos, caso fizesse a escolha errada. Mas este não era o único. Na primeira graduação, provavelmente você também não tinha maturidade profissional suficiente para aproveitar ao máximo esse período.
Bem, isso também aconteceu comigo. Aos 18, enfrentei vestibular concorrido e entrei em uma universidade federal com a mentalidade de que ser um aluno dedicado e que focar todo tempo a tirar boas notas era suficiente para garantir empregabilidade e sucesso profissional. Afinal, essa era a receita que me levara até ali. Levou quase três anos para eu perceber que não era bem assim, tirar a bunda da carteira escolar e encarar a realidade do mercado. Foi preciso fazer uma pós-graduação, redefinir rumos profissionais, quase uma década no mercado de trabalho e iniciar uma segunda faculdade (em outra área) para então perceber que eu poderia ter tirado muito mais proveito daqueles quatro anos na primeira graduação.
Por isso resolvi, compartilhar algumas reflexões que me parecem especialmente úteis para quem está na faculdade - mas que também são importantes para nós, os graduados, repensarmos como estão sendo formados os profissionais que vão integrar nossas equipes.
Um ponto importante que está implícito, mas que não custa reforçar: essas visões são baseadas em minha experiência pessoais. Portanto não são verdades absolutas. Se você pensa diferente, não hesite em comentar, pois estou aberto a debates sadios.
1 - As universidades e faculdades muitas vezes oferecem cursos independente da demanda do mercado
Não importa se o mercado está saturado e os egressos de um urso não conseguem trabalhar na área quando se formam. Enquanto há demanda de interessados no curso superior, ele continua sendo oferecido. Obviamente, as instituições nunca informam isso a você quando vai prestar vestibular e fazer sua matrícula. Caberá a você perceber isso ao longo do curso ou depois dele. Mas aí poderá ser tarde demais e poderá ter perdido alguns anos de sua vida.
Claro que há profissionais talentosos que conseguem seu espaço mesmo em situações de grande concorrência. Esses casos, no entanto, não são a regra - e é mais provável que você tenha que lidar com a falta de empregabilidade e baixos salários.
Por sorte (e por algumas decisões que tomei), nunca fiquei mais do que três meses sem emprego. Mas conheço vários colegas que enfrentaram realidades bem mais cruéis - mesmo sendo dedicados e tendo boa formação.
Então a dica que dou é: pesquise antes de escolher sua graduação, converse com profissionais, se possível faça cursos técnicos/profissionalizantes, atue em funções correlatas à área para conhecer melhor o mercado antes de se jogar de vez. Isso ajudará não só a escolher qual curso fazer, como também as melhores instituições.
2 – Academia e mercado nem sempre andam tão juntos quanto precisamos
Um dos maiores erros que um estudante pode cometer é confiar que a instituição de ensino está sempre oferecendo disciplinas com todos os temais que o mercado mais demanda e que você sairá pronto para atuar com autonomia.
O curso pode sim lhe dar uma base útil para vida profissional, mas muitos conhecimentos importantes ficarão de fora. Lá pelo final do curso – ou depois que se formar – você vai se perguntar: “por que não ensinam ‘isso’ em vez daquela matéria ‘x’, que foi inútil? E aquela matéria de ‘y’, que o conteúdo dado está todo ultrapassado?!”.
As razões para isso acontecer são muitas – e algumas delas eu vou discorrer a seguir. Mas o que fica de lição é: não se apegue tanto ao conteúdo do curso. Entre tirar uma boa nota - mas para isso ter que focar 100% nos estudos - e tirar uma nota mediana, mas gastando um tempo que seja conciliável com um estágio, ou com cursos complementares, escolha a segunda opção. Pois assim você terá reservado tempo para aprender tanto aspectos teóricos quanto práticos da profissão.
Esse é um dos principais conselhos que tenho para dar, e que influencia muitos outros, como você verá.
"Não se apegue tanto ao conteúdo do curso. Entre tirar uma boa nota – mas para isso ter que focar 100% nos estudos – e tirar uma nota mediana, mas gastando um tempo que seja conciliável com um estágio, ou com cursos complementares, escolha a segunda opção"
Em tempo: escolha um estágio em que você realmente irá aprender. Não um em que não terá supervisão de profissional da área ou que servirá apenas para tocar tarefas irrelevantes. E acompanhe também as ofertas de emprego, observando quais são os requisitos. Isso ajudará você a perceber o que mais precisa aprender – ou que habilidades desenvolver – para ficar apto para o mercado.
3- "Qualidade" não é apenas ser bem avaliado pelo MEC
A educação brasileira de nível superior evoluiu nos últimos 15 anos com a criação de alguns indicadores de qualidade, como é o caso do Índice Geral de Cursos. Por ele é possível avaliar quanto um curso atende aos critérios estabelecidos pelo MEC. O problema é que as avaliações têm um foco bastante acadêmico - e geralmente não naquilo que o mercado precisa. Isso fica evidente pelo conteúdo cobrado no Enade e nos critérios de avaliação da estrutura dos cursos, em que pesam muito o número de mestres e doutores , não a experiência profissional dos docentes.
Daí derivam dois problemas. Primeiro são os cursos que focam sua grade curricular e ementas de disciplinas no que é cobrado no Enade, não ao que o mercado precisa. A lógica é a seguinte: quanto mais o curso se direciona na prova, mais os alunos tiram boas notas e melhor é avaliação daquele curso. Com isso, a instituição pode estampar o resultado em sua publicidade e conseguir ainda mais alunos. Só depois os discentes percebem que avaliação do MEC e avaliação do mercado de trabalho são coisas distintas.
Em minha segunda graduação, em uma instituição particular, quando fomos indagar a coordenação do curso sobre por que algumas matérias de baixa relevância eram incluídas na grade em detrimento de outras mais atuais e relevantes profissionalmente, a resposta que recebemos foi exatamente essa: porque as disciplinas eram cobradas no Enade.
O segundo ponto é o problema gerado pela cobrança de se ter um número razoável de mestres e doutores. Acontece que , para alguns cursos e áreas de atuação, mais vale a vivência profissional e atualização sobre o mercado de trabalho que a formação acadêmica. Para disciplinas mais teóricas, não chega a ser um problema. Mas, para as práticas, ter professores com anos de experiência profissional – e de preferência que ainda esteja atuando — ajuda a obter o “saber fazer”, o qual será determinante no mercado de trabalho. Para as comissões avaliadores do MEC, no entanto, o que conta ponto é o grau de titulação. Com isso, instituições bem focadas no mercado acabem sendo mal avaliadas, erroneamente.
4 – Aprenda a se aprimorar
Um dos pontos que mais me ajudaram durante e após a faculdade foi a capacidade de aprender com autonomia – vulgo “se vira”. E noto que isso também aconteceu com diversos colegas bem encaminhados profissionalmente. E nem me refiro a inteligência, mas a dedicação, sede de conhecimento e capacidade de observação.
Acontece que, como já disse, você vai precisar aprender muita coisa além do que ensinam na faculdade, seja para se especializar, para se atualizar ou mesmo redirecionar sua carreira. Sempre tem coisa nova chegando e a concorrência, graças a bendita pirâmide etária, só cresce.
Então, ou você desenvolve a habilidade de querer melhorar sempre, aprender coisa nova, ou será engolido. Tudo bem, não precisa ser autodidata. Mas identificar o que deve aprender e onde conseguir esse conhecimento – cursos ou experiências – é o mais importante. Além, claro, de desenvolver o senso de que precisa sempre aprimorar, por iniciativa própria. Por outro lado, se você for aquele tipo de profissional ou estudante que só busca aprender aquilo que te obrigam, sua trajetória profissional pode ser bem mais complicada.
Se você já tiver ou conseguir desenvolver essa atitude, talvez chegue a mesma conclusão que tive: há cursos extra-curriculares ou de aperfeiçoamento que valem mais que um ano inteiro de aula de certos cursos de graduação – e a um custo bem menor. Nas áreas de comunicação e TI isso já é uma realidade.
5 - Fica pra depois
Calma! Não é uma dica. Realmente encerramos por aqui, embora tenha mais alguns apontamentos para fazer. Mas realmente , pela extensão deste material, fica para um próximo texto.
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Diogo Honorato é coordenador de marketing digital, graduado pela UFSC e pós-graduado em Administração de Empresas pela FGV. Escreve nas horas vagas para não perder o prazer da manipulação livre das palavras.